Convocam voluntários para testar medicamento cubano contra as sequelas da chikungunya



O ensaio clínico, parte do projeto FENIK-2, busca avaliar sua segurança e eficácia em pacientes com sintomas persistentes.

Hospital em Matanzas busca voluntários para testar o fármaco Jusvinza contra as sequelas do chikungunyaFoto © Facebook / Hospital Provincial Clínico Quirúrgico Docente Faustino Pérez

Vídeos relacionados:

O Hospital Provincial Clínico Cirúrgico Docente Faustino Pérez, em Matanzas, anunciou uma convocação para incorporar voluntários a um ensaio clínico destinado a avaliar o medicamento Jusvinza em pacientes com sequelas crônicas de chikungunya.

Em uma publicação em sua página do Facebook, o centro informou que o estudo “faz parte do projeto FENIK-2, liderado pelo Hospital Faustino Hernández e pelo Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB)”. Segundo explicou a instituição, o objetivo do ensaio é “avaliar a segurança e o efeito terapêutico do Jusvinza em pacientes com sequelas crônicas de chikungunya”.

Facebook / Hospital Provincial Clínico Quirúrgico Docente Faustino Pérez

O hospital detalhou que a convocação está direcionada a pessoas entre 19 e 80 anos que tenham sido diagnosticadas com chikungunya e apresentem sintomas persistentes —como “dores articulares, inflamação ou rigidez matinal por mais de três meses”— após superar a doença. “Os pacientes serão distribuídos em dois grupos: um receberá Jusvinza junto com o tratamento convencional e o outro continuará com a terapia padrão do MINSAP”, precisou o centro de saúde.

Além disso, os responsáveis pelo estudo afirmaram que o ensaio “se desenvolve sob um desenho controlado, randomizado e com rigor metodológico”, e garantiram que “todos os participantes receberão atendimento médico especializado e acompanhamento clínico”.

Facebook / Hospital Provincial Clínico Quirúrgico Docente Faustino Pérez

A convocação gerou numerosas reações nas redes sociais, com dezenas de pessoas manifestando interesse em participar ou relatando os efeitos prolongados do vírus. “Mal consigo caminhar, tenho artrite e chikungunya crônica, posso ser candidata?”, escreveu uma usuária. Outra garantiu que está “há quatro meses com rigidez, inflamação e cãibras” e que não consegue dormir de dor.

Algumas pessoas afirmaram ter recebido o fármaco durante fases anteriores do estudo. “Recomendo a todas essas pessoas que estão na fase aguda há mais de três meses que participem do estudo clínico... tivemos uma melhora extraordinária, não sentimos dor e podemos caminhar”, comentou uma delas, que agradeceu à equipe médica e descreveu o medicamento como “maravilhoso”.

No entanto, também surgiram vozes críticas e céticas. Alguns usuários qualificaram a pesquisa como “um teste com cobaias”, enquanto outros lamentaram que “não haja nem analgésicos nas farmácias nem medicamentos básicos para a dor”. Outros questionaram por que o estudo não se estende a províncias como Havana, onde também há numerosos casos de pessoas com sequelas.

A iniciativa do hospital matancero se soma ao ensaio clínico anunciado pelo governo cubano no início de dezembro, que avalia o uso do Jusvinza —um péptido anti-inflamatório desenvolvido pelo CIGB— para tratar as sequelas articulares persistentes da chikungunya.

Segundo relatórios oficiais, o estudo inclui 120 pacientes com idades entre 19 e 80 anos, distribuídos em dois grupos de 60, e prevê “nove doses subcutâneas em seis semanas, administradas de forma ambulatorial ou hospitalar”. A pesquisa está sob a responsabilidade de uma equipe liderada pela doutora Yudisay Reyes Pelier, especialista em Oncologia e membro do Grupo de Investigações Clínicas do CIGB.

El Jusvinza (CIGB-258) foi autorizado durante a pandemia de COVID-19 para tratar casos graves de inflamação sistêmica. O diretor do CIGB, Dr. Eulogio Pimentel, tem defendido sua segurança e utilidade para doenças inflamatórias crônicas, embora os resultados de suas aplicações anteriores não tenham sido publicados em revistas científicas internacionais revisadas por pares.

A convocatória do Hospital Faustino Pérez reflete tanto o interesse da ciência cubana em encontrar soluções locais quanto as graves limitações estruturais do sistema de saúde. Em Matanzas, assim como no resto do país, a escassez de medicamentos, a falta de recursos de diagnóstico e a precariedade hospitalar agravam a situação de quem sofre as sequelas do vírus.

Enquanto as autoridades promovem novos ensaios clínicos, muitos cubanos denunciam a impossibilidade de acessar analgésicos ou tratamentos básicos. “Estamos dispostos a experimentar o que for, mas não há nem paracetamol”, lamentou uma internauta nos comentários do hospital.

O chikungunya, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, tem deixado um número crescente de pacientes com dores crônicas em Cuba. Sem terapias específicas disponíveis, o interesse pelo Jusvinza cresce entre aqueles que buscam alívio, embora sua eficácia contra as sequelas pós-virais ainda não tenha sido demonstrada cientificamente.

A ciência cubana busca avançar, mas a saúde pública continua aguardando respostas estruturais que vão além dos ensaios clínicos e se traduzam em melhorias reais para a população.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.