Sociedade civil exige ao regime cubano declarar emergência sanitária e aceitar ajuda internacional



Activistas, médicos e ONGs exigem que o governo reconheça sua incapacidade de controlar os surtos de chikungunya e dengue, e solicitem cooperação internacional urgente para salvar vidas.

Assistência humanitária da Cruz Roja (imagem de referência)Foto © ONU Venezuela

Vídeos relacionados:

A crise sanitária que atravessa Cuba deixou de ser um problema local para se tornar uma questão de urgência internacional.

A propagação de doenças como o chikungunya, o dengue e outras arboviroses, em meio a um sistema hospitalar colapsado, desencadeou uma onda de denúncias e apelos à ação por parte da sociedade civil cubana, tanto dentro quanto fora da ilha.

Activistas, médicos independentes e organizações não governamentais exigem ao regime de Miguel Díaz-Canel que declare oficialmente uma “emergência sanitária nacional” e solicite cooperação médica e humanitária internacional.

Alegam que o país carece dos recursos mínimos para conter a crise, e que a negativa do governo em reconhecer sua magnitude apenas agrava a situação.

Um sistema colapsado e uma população abandonada

Nos últimos meses, CiberCuba tem documentado dezenas de depoimentos que refletem o colapso do sistema de saúde.

Hospitais sem água nem eletricidade, falta de medicamentos essenciais, salas de urgência lotadas e médicos exaustos são parte do panorama que hoje vivem os cubanos. Nas redes sociais, abundam as mensagens de cidadãos que afirmam que "já ninguém vai ao médico porque não há medicamentos".

A epidemia de chikungunya se espalhou por todo o país, atingindo com força províncias como Havana, Matanzas e Holguín.

Segundo dados oficiais do ministério da Saúde Pública (MINSAP), são reportados mais de 20.000 casos confirmados e dezenas de milhares de suspeitos. No entanto, registros independentes coletados por .

A ativista Amelia Calzadilla, uma das vozes mais reconhecidas da sociedade civil cubana, qualificou a situação de “colapso humanitário” e pediu abertamente que a comunidade internacional intervenha com ajuda médica e humanitária:

“Isso não é política, é saúde pública. As pessoas estão morrendo em suas casas sem atendimento, sem soros, sem médicos. Cuba precisa de ajuda, e precisa agora.”

Por sua parte, o médico Lucio Enríquez Nodarse, exilado na Espanha, foi além ao declarar que o país “já não tem capacidade técnica nem recursos para enfrentar uma epidemia deste nível”.

Em uma carta pública, pediu que "o governo cubano admita sua incapacidade e permita a entrada de brigadas médicas internacionais, sem propaganda ou controle político".

Da "intervenção humanitária" à "emergência sanitária": Precisão e contexto jurídico

Embora nas redes sociais a expressão “intervenção humanitária em Cuba” tenha se tornado popular, especialistas em direito internacional alertam que esse termo não é o mais adequado para descrever a situação atual.

No direito internacional, a “intervenção humanitária” —também conhecida como “ingerência humanitária”— implica a ação coercitiva ou até mesmo o uso de força militar no território de um Estado, sem o seu consentimento, com o objetivo de parar violações em massa dos direitos humanos.

Este conceito foi invocado, por exemplo, nos conflitos de Kosovo ou na Líbia, mas não está reconhecido formalmente como um direito automático nos tratados internacionais. Só pode ser realizado com autorização do Conselho de Segurança da ONU ou com o consentimento do Estado afetado.

Por isso, embora muitos cubanos usem essa expressão como sinônimo de “ajuda urgente”, juridicamente trata-se de conceitos distintos.

O que a sociedade civil realmente propõe é que o regime declare uma “emergência sanitária nacional” —figura prevista nos Regulamentos Sanitários Internacionais da OMS— e solicite ajuda médica e técnica internacional, assim como fizeram outros países diante de epidemias ou desastres.

Essa declaração permitiria abrir as portas para:

  • Missões médicas de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
  • Doações de medicamentos, vacinas, equipamentos e suprimentos médicos.
  • Assistência técnica de laboratórios, universidades e organismos internacionais.
  • Ajuda direta de ONGs humanitárias e governos aliados.

De acordo com especialistas em direito internacional, a declaração de uma emergência sanitária não compromete a soberania nacional; ao contrário, reforça a responsabilidade do Estado de proteger a vida de seus cidadãos ao aceitar a cooperação internacional.

ONGs denunciam ocultação e desvio de ajuda

Organizações humanitárias como a Cruz Verde Internacional e a Solidaridad Sin Fronteras pediram às Nações Unidas e à OMS que intervenham diplomaticamente junto ao regime cubano.

Segundo denunciam, grande parte da ajuda humanitária enviada do exílio não chega aos hospitais nem aos doentes, mas é desviada ou vendida por funcionários estaduais.

Em um comunicado emitido de Miami, ambas as ONG's pediram ao regime para “deixar de politizar a assistência médica” e declararam que “não se trata de ideologia, mas de salvar vidas humanas”.

Solicitaram ainda que qualquer canal de cooperação internacional garanta a entrega direta de insumos aos beneficiários, evitando a intermédia de instituições controladas pelo Partido Comunista.

O Observatório Cubano de Conflitos (OCC) foi ainda mais contundente ao afirmar que o que ocorre em Cuba é um “genocídio silencioso”: “O Estado renunciou ao seu dever de proteger a vida. O silêncio e a censura diante de milhares de doentes e falecidos são uma forma de violência institucional.”

A denúncia do OCC conecta-se com o princípio de “Responsabilidade de Proteger” (R2P), reconhecido pelas Nações Unidas desde 2005, segundo o qual a soberania estatal implica a obrigação de proteger a vida e a dignidade da população.

Quando um governo —por ação ou omissão— descumpre esse dever essencial, a comunidade internacional tem a responsabilidade de agir de forma coletiva para prevenir mais sofrimento, preferencialmente por meio de mecanismos diplomáticos, humanitários ou de assistência à saúde.

Neste contexto, a reivindicação de ativistas e organizações não busca uma intervenção militar, mas sim uma ação humanitária internacional coordenada, que pressione o Estado cubano a admitir a magnitude da crise e permita a entrada de ajuda que salve vidas.

A urgência de uma resposta internacional

Além dos números, a crise sanitária cubana revela um sistema em ruínas, sem infraestrutura, sem medicamentos e com uma burocracia que prioriza a propaganda em detrimento da saúde pública.

Os hospitais continuam sem recursos, as farmácias vazias e a população indefesa diante de epidemias tropicais que já estão se espalhando para áreas urbanas densamente povoadas.

Enquanto isso, o regime insiste que “a situação está sob controle” e culpa “as condições climáticas e ao bloqueio americano” pelas carências.

No entanto, especialistas e cidadãos concordam que a raiz do problema é estrutural e doméstica: décadas de negligência, corrupção e abandono do sistema de saúde, que se tornou um instrumento de propaganda do poder.

A declaração de emergência sanitária permitiria, segundo os ativistas, pressionar politicamente o governo para que reconheça sua incapacidade e abra canais legais e diplomáticos para a cooperação internacional.

Não se trata de uma invasão nem de uma intervenção armada, mas sim de uma ação humanitária coletiva para evitar mais mortes e conter uma epidemia que já ultrapassou os limites do controle interno.

"Salvar vidas não deveria ser crime."

Amelia Calzadilla resumiu em uma mensagem que circula nas redes: “Salvar vidas não deveria ser crime. Se o governo não consegue, que deixe outros o fazerem”.

El reclamo se ha convertido en um grito comum entre cubanos de dentro e fora da ilha. A pressão aumenta para que o regime reconheça o evidente: que o colapso sanitário é tão grave quanto o econômico, e que nenhum discurso poderá ocultar os números de mortos nem o sofrimento de milhares de famílias.

A comunidade internacional —ONGs, governos, organismos multilaterais e a diáspora cubana— enfrenta agora um dilema moral: esperar que Havana aceite sua ajuda ou buscar mecanismos alternativos para socorrer um povo que se esvai lentamente sob o silêncio do Estado?

Enquanto isso, nos bairros cubanos, as pessoas continuam doentes, os hospitais continuam vazios e a esperança se dilui entre mosquitos, febre e apagões.

O país precisa de medicamentos, soros, médicos. Mas, acima de tudo, precisa de um governo que priorize a vida em relação à propaganda.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.