"Prêmio ao meme do ano": Granma diz que "Cuba defende a dignidade plena dos cidadãos" e as redes pegam fogo



As publicações do Granma e do Cubadebate pelo Dia dos Direitos Humanos provocaram críticas nas redes sociais, acusando o regime cubano de cinismo e propaganda sobre direitos humanos.

Homem registrando um tanque de lixo em Havana (Imagem de referência)Foto © CiberCuba

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O diário oficialista Granma, órgão do Partido Comunista de Cuba, provocou uma onda de críticas nesta terça-feira após publicar em sua página do Facebook uma mensagem em homenagem ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, na qual afirmava que “o Estado cubano reconhece e garante à pessoa o gozo e o exercício irrenunciável, imprescritível, indivisível, universal e interdependente dos direitos humanos”.

El post, acompanhado por uma ilustração na qual várias pessoas se protegem sob um guarda-chuva com o escudo da República e a frase “A Constituição de Cuba proíbe toda discriminação. Cuba cuida e apoia a igualdade”, incluía ainda a etiqueta #CubaComDireitos e um link para o editorial “Cuba defende a dignidade plena para todos”, onde o jornal defende o suposto compromisso do regime com a promoção e proteção dos direitos humanos.

Facebook / Granma

Horas mais tarde, o portal estatal Cubadebate publicou sua própria mensagem no Facebook, também vinculando ao editorial, no qual afirmava que “Cuba defende a dignidade plena dos cidadãos e ratifica seu compromisso permanente com a promoção e proteção de todos os direitos humanos para todas as pessoas, com seu caráter interdependente e indivisível”.

Facebook / Cubadebate

Ambas publicações foram repletas de críticas, sarcasmos e comentários de cubanos que acusaram o regime de cinismo e propaganda. Em apenas algumas horas, os posts acumularam centenas de respostas, a maioria rejeitando a versão oficial sobre os direitos humanos na ilha.

“Diga isso aos presos do 11J condenados por se manifestações pacificamente, aos jornalistas e ativistas vigiados, agredidos ou forçados ao exílio", escreveu um usuário. Outro comentou: "Colocar na Constituição que existem direitos não significa que sejam respeitados: quando o próprio Estado os viola diariamente, isso não é Cuba com direitos, é pura propaganda."

Entre as respostas mais repetidas apareciam frases como “Isso é uma piada”, “O meme do dia”, “A mentira feita jornalismo” e “Direitos humanos... mas apenas para os do Partido”. Uma cubana resumiu: “O povo de Cuba hoje não vive, sobrevive e o faz em condições muito indignes. Não há ideologia que justifique viver sem água, sem alimentos, sem medicamentos nem eletricidade.”

Outro usuário comentou: “Tudo isso no papel; se você sair para protestar por apagões ou falta de água, você acaba preso. Negar o direito à energia, à água e à alimentação é violar os direitos humanos.” Enquanto isso, outro ironizou: “Direito à água potável? À eletricidade? À alimentação adequada? Em Cuba, nada.”

As críticas também apontaram para o caráter autoritário do sistema: “Isso se desmente apenas pelo fato de que a Constituição afirma que o socialismo é irrevogável”, escreveu alguém, enquanto outros insistiram que “Cuba precisa de uma mudança de sistema, de constituição e de mentalidade”.

Uma médica cubana denunciou nos comentários: “Trabalhamos entre baratas, percevejos e sujeira. Não há anestesia suficiente para uma sutura decente após o parto. Mas eles investem em hotéis e em boa comida para os turistas. O pessoal médico não pode abandonar o país porque isso é regulamentado por lei. Não somos propriedade do PCC.”

Alguns usuários compartilharam trechos da Declaração Universal dos Direitos Humanos para evidenciar a contradição entre os princípios universais e a prática do regime. “O direito que mais se respeita em Cuba é o de se calar”, escreveu um usuário, enquanto outro resumiu: “Falam de dignidade, mas o povo não tem nem luz, nem água, nem liberdade. Isso sim é um meme”.

O editorial do Granma sustenta que o principal obstáculo para o desenvolvimento do país é o “bloqueio estadunidense” e cita a relatora da ONU, Alena Douhan, que teria afirmado que as sanções “violam o direito à vida em geral”. No entanto, a avalanche de reações nas redes mostrou um repúdio quase unânime ao discurso oficial e à narrativa do “socialismo humanista”.

Este mesmo miércoles, Cubadebate havia publicado outra mensagem para comemorar o Dia dos Direitos Humanos, na qual o regime afirmava que “a Revolução é um sistema de todos e para todos, baseado na justiça social, na igualdade e no humanismo”, o que também gerou uma onda de zombarias e denúncias nas redes sociais,

As novas publicações de Granma e Cubadebate confirmam a tendência: cada tentativa do regime de se apresentar como defensor dos direitos humanos termina se transformando em um “meme do ano”, graças à resposta avassaladora de cidadãos que denunciam exatamente o oposto.

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