“Muitos fazem o mesmo e negligenciam outras frentes”: José Daniel Ferrer critica as guerras de ego no exílio cubano



José Daniel Ferrer alerta sobre o desgaste da oposição cubana no exílio devido a guerras de ego e duplicação de esforços. Ele destaca a urgência de coordenação e estratégia para avançar na causa cubana.

José Daniel Ferrer em Miami (Imagem de referência)Foto © X / @ISATITIN

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José Daniel Ferrer não falou desta vez de prisões nem de torturas. O que quis trazer à tona foi o desgaste interno da oposição no exílio, um problema que considera tão sério quanto a própria repressão dentro de Cuba.

“ muitos fazem o mesmo enquanto descuidam outros aspectos”, disse em uma entrevista ao jornal espanhol El Debate, em uma crítica aberta às guerras de ego e à duplicação de esforços que, segundo ele, freiam qualquer possibilidade real de avanço democrático.

Captura do Facebook/El Debate

O líder opositor tem observado de perto o funcionamento dos grupos radicados nos Estados Unidos há meses e alerta que o principal obstáculo, atualmente, não é a falta de vontade, mas sim a incapacidade de coordenar.

"o que fazemos de maneira individual, por melhor que o façamos, não nos permitirá avançar muito", insistiu, apontando que a causa cubana necessita de estratégia, humildade e disciplina, não de protagonismos.

Não é a primeira vez que ele emite este alerta. Após sua chegada a Miami em outubro, Ferrer havia resumido o estado da oposição com uma frase que incomodou muitos setores: “Não existe coesão, coordenação, disciplina. Temos muitos quartos bates, mas não temos equipe”. Três meses depois, mantém o diagnóstico e assegura que a dispersão continua sendo um dos principais desafios do ativismo fora da ilha.

As advertências de Ferrer não vêm da comodidade de um analista externo, mas de alguém que, durante sua última fase na prisão, foi submetido a castigos que beiravam o inumano.

Relatou que guardas e detentos comuns o imobilizavam, tapavam seu nariz, introduziam alimentos em estado de decomposição e o batiam até deixá-lo sem forças. “Era um procedimento diário de golpes e asfixia”, lembra. É precisamente esse passado que lhe confere, segundo muitos de seus seguidores, a legitimidade para exigir menos ego e mais ação coordenada.

Hoje, sua atenção está voltada para articular células de resistência dentro de Cuba, supervisionadas do exílio para reduzir riscos e manter viva a pressão interna. Afirma que essas redes clandestinas já estão operando e que inclusive têm promovido campanhas visíveis dentro da ilha, como os grafites com a sigla DD.HH. —de direitos humanos— na véspera do dia 10 de dezembro.

Paralelamente, Ferrer tenta construir pontes entre as diferentes organizações da oposição fora de Cuba, uma tarefa que reconhece ser complexa. “Há um pouco de guerras de ego”, admitiu, embora afirme que está em conversa com vários grupos para construir alianças mais estáveis. Como demonstração desse esforço, mantém colaboração com membros do Conselho para a Transição Democrática em Cuba e antigos integrantes da União Patriótica de Cuba (UNPACU).

Também tem buscado apoio político internacional. Nas últimas semanas realizou reuniões em Washington com o Departamento de Estado e com o secretário Marco Rubio, a quem qualificou como sendo “muito informado” e comprometido em aliviar as condições de vida na ilha. Posteriormente, foi distinto com a Medalha Truman-Reagan da Liberdade, um reconhecimento à sua resistência frente à ditadura.

En meio de esse ativismo, também participou de um debate recente no exílio ao defender Alexander Otaola após a controvérsia sobre as doações aos afetados pelo furacão Melissa. “Interesso-me mais pelos fatos do que pelas palavras”, disse Ferrer, lembrando a ajuda que, segundo ele, o apresentador tem oferecido a presos políticos.

Para alguns, essa declaração foi mais um sinal de sua tentativa de frear divisões; para outros, um aviso de que a luta por Cuba precisa, acima de tudo, de coerência e solidariedade.

O opositor insiste que o exílio pode se tornar um motor decisivo, mas apenas se conseguir superar as fraturas internas que descreve. Sua mensagem é clara e ressalta que a unidade não é um gesto simbólico, mas uma urgência política. “Se continuarmos duplicando esforços enquanto abandonamos frentes essenciais, a causa não avança”, repete.

Ferrer assegura que continuará pressionando de fora, com o olhar voltado para o interior da ilha e a convicção de que a liberdade não se conquista com barulho nem com rivalidades, mas sim com uma organização real. E para ele, isso ainda é, e continua sendo, o ponto mais fraco do exílio cubano.

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