Leonardo Padura recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Guadalajara



“Uma voz que soube ouvir o murmúrio de suas ruas”: a UdeG homenageia Leonardo Padura

Leonardo Padura recebe Doutorado Honoris Causa em GuadalajaraFoto © Instagram / Karla Planter

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O escritor cubano Leonardo Padura foi reconhecido nesta quarta-feira com o Doctorado Honoris Causa pela Universidad de Guadalajara (UdeG), no âmbito da Feria Internacional del Libro (FIL) 2025, como homenagem à sua trajetória literária e jornalística “repleta de valor social, humanismo e pensamento crítico”, segundo informou a instituição mexicana.

A universidade explicou que o reconhecimento se deve à contribuição do autor para o patrimônio cultural e literário da Ibero-América, sua capacidade de refletir a complexidade histórica e social por meio da narrativa, e seu compromisso com os valores da liberdade, da justiça social e do humanismo. A UdeG destacou nas redes sociais que Padura é “uma voz que soube escutar o rumor de suas ruas”.

Durante a cerimônia, a Reitora Geral da Universidade de Guadalajara, Karla Planter Pérez, a descreveu como “uma das penas mais lúcidas de nosso tempo”. “A UdeG reserva este reconhecimento para personalidades extraordinárias que, por meio de suas contribuições em qualquer área do conhecimento, como a ciência e as artes, têm enobrecido o trabalho da humanidade. Hoje, na 39ª edição da FIL, celebramos sua importante contribuição literária e cultural”, expressou Planter.

A reitora lembrou da relação de Padura com a universidade, que começou em 1991, quando a editora universitária publicou Pasado perfecto, o primeiro romance da série do detetive Mario Conde. “Desde então temos caminhado juntos. Se Mario Conde é um detetive que sonha em ser escritor, Leonardo Padura é um escritor que sonha em ser detetive”, disse.

Planter acrescentou que a universidade lhe confere este título “por sua capacidade de refletir a verdade histórica através da narrativa e por promover sempre os valores da liberdade, do pensamento crítico e do humanismo”. Em seus perfis nas redes, a reitora acrescentou que “hoje celebramos sem bola de beisebol, mas o acompanham os abraços sempre abertos desta comunidade, que o admira e o quer”.

A Reitora do Centro Universitário de Ciências Sociais e Humanas (CUCSH), Dulce María Zúñiga Chávez, também interveio para descrever Padura como “uma das vozes mais lúcidas, coerentes e universais da literatura contemporânea”. Destacou seu olhar crítico em O homem que amava os cães e a criação do personagem Mario Conde, “um alter ego do próprio autor, um homem melancólico que busca a verdade em meio ao desencanto”.

Zúñiga Chávez sublinhou que “o crime, em seus romances, é apenas um ponto de partida para explorar a vida cotidiana de Havana, transformando o romance policial em uma reflexão sobre a ética, a memória, a culpa e a dignidade”. Concluiu qualificando o reconhecimento como “um ato de gratidão para com um escritor que fez da palavra o território da liberdade”.

Em seu discurso de agradecimento, Padura lembrou seu primeiro contato com a Universidade de Guadalajara em 1991, quando Pasado perfecto foi publicado por sua editora universitária, após ter sido censurado em Cuba. “Aquela edição tinha erros até na diagramação; estava mal impressa, até meu nome estava errado, mas me permitiu ter a ideia de que era possível continuar trabalhando com aquele personagem. A partir daí, minha relação com a universidade tem sido muito intensa”, relatou o escritor.

Padura reconheceu que “não tenho nenhum doutorado em Cuba, mas no México já tenho dois. O México tem muita culpa de quem sou e do que consegui fazer”. Ele acrescentou que a UdeG o distingue não apenas por sua obra, mas também “pela minha lealdade, porque tenho sido leal à universidade e porque eles também têm sido leais comigo”.

O autor, de 70 anos, ressaltou que o processo de escrever deve sempre ter um propósito que responda à pergunta “para que vou escrever algo?”, uma reflexão que, segundo ele, se conecta com seu compromisso cívico com a literatura.

“Lo essencial está em Cuba, na minha casa e no meu bairro; todas essas experiências formaram minha literatura. É lá que também encontro as respostas para responder às minhas perguntas e continuar escrevendo”, afirmou Padura. “Com O homem que amava os cães quis refletir sobre as diversas causas que giraram em torno da revolução e a perversão de uma grande utopia política. Este escritor de carne, osso e obsessão sou eu, e estou diante de vocês, agradecendo pela concessão deste Honoris causa. Muito obrigado”, concluiu.

Padura recebeu múltiplos reconhecimentos ao longo de sua carreira, entre eles o Prêmio Roger Caillois (2011), o Prêmio Princesa de Astúrias de Letras (2015), o Prêmio Nacional de Literatura de Cuba (2012) e os doutorados honoris causa da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP) em 2017.

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