Enquanto escolas cubanas desmoronam, centro educativo privado espanhol funciona em Havana



O Centro Educativo Espanhol de La Havana opera com padrões europeus, salas de aula renovadas e sem propaganda política, enquanto o sistema educativo público cubano enfrenta colapsos e carências. A instituição privada cobra taxas em divisas e é destinada principalmente a filhos de diplomatas, empresários estrangeiros e espanhóis residentes na ilha.

Tomara que todas as crianças cubanas pudessem estudar em escolas assim, desejaram usuários nas redesFoto © Capturas de vídeo CEEH

Uma escola espanhola privada no município de Playa em Havana exibe instalações renovadas e educação internacional, enquanto milhares de estudantes cubanos frequentam instituições em ruínas.

El Centro Educativo Español de La Habana (CEEH) publicou em sua conta de Instagram imagens de suas novas salas de trânsito e uma quadra esportiva recentemente reformada.

“Este novo ano letivo, nossa escola tem entre suas metas criar espaços ideais para nossos estudantes, atendendo às suas expectativas e necessidades”, apontou a instituição em outra de suas publicações.

A escola, localizada na 5ª Avenida B entre as ruas 68 e 70 em Playa, oferece educação desde a educação infantil até o ensino médio, seguindo o currículo espanhol.

Segundo a Wikipedia, o centro possui duas sedes a menos de três quilômetros de distância e atende filhos de cidadãos espanhóis residentes em Havana, outros estrangeiros, diplomatas e empresários.

Em suas redes sociais, a escola promove intercâmbios estudantis internacionais e se orgulha de instalações que contrastam radicalmente com a realidade das escolas públicas cubanas, onde os desabamentos, a falta de carteiras e os quadros quebrados são diários.

Por sua parte, o criador de conteúdos cubano Elieser El Bayardo (@elieser_elbayardo) comentou em um vídeo viral que a escola “opera com padrões europeus, sem filtragens nem propaganda, com quotas de milhares de dólares e acesso apenas para filhos de funcionários, famílias com divisas ou pessoas com conexões”.

Bayardo acrescentou que “enquanto o sistema fala de igualdade, esta escola demonstra que os privilégios realmente existem e que a qualidade aparece apenas quando não depende do Estado cubano”.

Nos comentários das publicações do centro, vários usuários cubanos expressaram sua frustração com a desigualdade educacional.

Que lindo é ver uma escola sem cartazes e propagandas doutrinadoras por todo lado”, escreveu um usuário.

Outra comentou: “Precisamos de mais escolas assim, que não sejam gratuitas, mas que ofereçam uma educação de verdade.”

Uma usuária identificada como Mercedes Denis Peláez apontou que “já se passaram mais de 20 anos e o CEEH continua formando maravilhosos estudantes de nível internacional”.

No entanto, a polêmica surgiu quando pais cubanos perguntaram se podiam matricular seus filhos pagando a taxa de admissão.

"Gostaria de saber se uma criança nativa cubana pode se matricular neste centro pagando o custo de admissão", questionou um usuário.

Outro respondeu de forma contundente: “Claro que não, essas escolas são apenas para filhos de papai”.

Uma usuária esclareceu que no site do centro aparece como primeiro requisito ser estrangeiro com residência em Cuba, embora outra tenha comentado que "se você é filho de pais cubanos com dinheiro, claro que pode".

Usuários expressaram indignação pela desigualdade. “A escola é muito bonita, mas as outras crianças que não têm nenhum desses privilégios, é uma ilusão que existe apenas para poucos e o resto?”, escreveu uma mãe cubana.

Outro usuário lembrou: “Não tenho nada contra isso, pelo contrário, tomara que consigam formar muitas crianças com verdadeiros valores e conhecimento, mas me dá muita pena que há milhões de crianças que, como eu, recebiam um copo de iogurte vencido no recreio.”

A conta oficial do centro respondeu a vários comentários: “Como instituição educacional internacional, mantemos um enfoque estritamente acadêmico e respeitoso com todas as realidades”.

Essa resposta diplomática não acalmou o desconforto daqueles que veem a escola como um símbolo da desigualdade que o governo cubano diz combater, mas que perpetua.

El 19 de agosto de 2024, a Gaceta Oficial da República publicou o Decreto 107/2024, que atualiza a lista de atividades proibidas para micro, pequenas e médias empresas, cooperativas não agropecuárias e trabalhadores autônomos.

A normativa ratifica o monopólio estatal sobre a educação e proíbe explicitamente a emissão de licenças para negócios de educação privada. Nenhuma forma de gestão não estatal possui autorização legal para oferecer serviços educativos em Cuba, fechando a porta para escolas, academias ou institutos privados cubanos, enquanto instituições estrangeiras como o CEEH operam sem restrições.

“Essa não é Cuba nem a escola das crianças e adolescentes cubanos. Deus queira que todas as crianças e adolescentes cubanos tenham o direito e a possibilidade de estudar em escolas assim”, lamentou uma usuária.

Enquanto o CEEH promove suas instalações reformadas e seus padrões educacionais europeus, milhares de crianças cubanas continuam frequentando escolas públicas onde o teto goteja, as paredes se racham e a propaganda política cubana cobre cada canto.

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