Governo cubano admite protestos pacíficos em Gibara, mas não menciona as detenções

As protestas em Gibara refletem o descontentamento em Cuba por apagões e escassez. Enquanto o Governo nega repressão, depoimentos e vídeos mostram detenções e manipulação midiática.

Protestos em GibaraFoto © Facebook/Colagem

O jornal oficial Granma afirmou nesta quinta-feira que a protesto em Gibara, Holguín, foi resolvido graças ao “diálogo franco e duro” dos dirigentes com o povo e que “não houve acontecimentos violentos” porque os manifestantes voltaram para suas casas após ouvirem a primeira secretária do Partido Comunista no município, Nayla Marieta Leyva Rodríguez.

No entanto, as provas e os testemunhos recolhidos nas redes sociais e meios independentes contradizem de maneira contundente esse relato. Vídeos mostram patrulhas da Polícia Nacional Revolucionária prendendo manifestantes durante a madrugada, e familiares denunciaram que pelo menos sete pessoas permanecem detidas, entre elas Pedro José (“Porrón”), Raymundo Galbán (“El Chino”), Dairán Bermúdez (“Chelli”) e Suleidi Aballe.

A manipulação não se limitou a Granma. O programa televisivo de propaganda Con Filo repetiu que em Gibara “não houve repressão” e que foi a “moral dos dirigentes” que conseguiu “aplacar” a protesto.

Voceros como Michel Torres Corona chegaram a questionar como uma manifestação pôde ser "resolvida" dessa forma, ocultando que a verdadeira resposta do regime foram as prisões e a intimidação policial.

O jornalista cubano José Raúl Gallego denunciou nas redes sociais que Granma e seu repórter Germán Veloz Placencia mentem ao ocultar as detenções e se tornam cúmplices ativos da repressão.

“Isso não é jornalismo, é propaganda. É uma demonstração não só da falta de independência dos meios de comunicação em Cuba, mas de seu uso como parte do esquema repressivo contra o povo”, escreveu no Facebook, lembrando que a repressão foi documentada em vídeos e testemunhos de cidadãos.

Captura de Facebook/José Raúl Gallego

As denúncias cidadãs e o papel dos informantes

Longe da versão adoçada da imprensa oficial, vizinhos denunciaram que a protesta foi organizada após mais de 24 horas sem eletricidade, o que também afetou o acesso à água. Saíram às ruas com panelas e gritos de “¡Queremos corrente e água!”, cansados do abandono e da crise.

O projeto Represores Cubanos identificou também dois informantes do Departamento de Segurança do Estado (DSE), Wilder César Tejeda Ruiz e Adrián Pupo Cuesta (“El Mocho”), acusados de gravar manifestantes e entregar as imagens à Segurança do Estado, o que teria facilitado a captura de pelo menos sete moradores de Gibara.

A estratégia de manipulação e repressão não é nova. Um dia antes de Granma publicar sua versão sobre Gibara, o regime iniciou um julgamento contra 16 manifestantes de Bayamo por eventos ocorridos em março de 2024.

A Procuradoria os acusa de “desordens públicas, resistência e desacato”, em um processo que ativistas qualificam como político e que busca intimidar a população em meio a novos surtos sociais.

“Negam a repressão em Gibara enquanto encarceram seus vizinhos e publicam o início de um julgamento contra manifestantes de Bayamo. Essa é a estratégia: negar com propaganda o que na prática é repressão”, denunciou José Raúl Gallego.

Um povo que exige o básico

As protestas em Gibara são um reflexo do descontentamento acumulado em Cuba. Apagões intermináveis, escassez de alimentos, falta de medicamentos e água empurram as pessoas para as ruas, apesar do risco de prisão. Enquanto o regime insiste que se trata de "diálogo" e "respeito", a realidade é que aqueles que reivindicam o mínimo acabam atrás das grades.

“No único país onde alguém é preso por manifestar que está com fome é em Cuba”, escreveu um internauta em solidariedade aos gibareños. Outro resumiu o sentimento generalizado: “Não são criminosos, apenas pedem o que todos precisamos: luz, água e comida”.

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