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O governador da Flórida, Ron DeSantis, defendeu com firmeza a continuidade das operações migratórias estaduais após saber-se que o polêmico centro de detenção para imigrantes nos Everglades - popularmente conhecido como “Alligator Alcatraz” - poderia ficar vazio em questão de dias.
Em declarações feitas nesta quarta-feira em Orlando, DeSantis garantiu que sua administração continuará apostando na detenção e deportação de imigrantes como parte de um esforço estadual complementar ao do governo federal.
“Nossa função é fornecer mais espaço para processamento, detenção e deportação. O DHS determina quem entra e quem sai dessas instalações”, afirmou o governador, referindo-se ao Departamento de Segurança Nacional.
Apesar da ordem de uma juíza federal que obriga o fechamento do centro em um prazo de 60 dias, DeSantis destacou que o estado da Flórida continuará sua missão.
“Estamos aqui para ser um multiplicador de força em tudo isso, e continuaremos a fazê-lo; acredito que é uma missão importante”, afirmou.
O governador insistiu que a necessidade de infraestruturas como “Alligator Alcatraz” continua sendo alta.
“A necessidade continua sendo muito forte”, apontou.
Recordou, além disso, lembrando que o estado constrói atualmente um segundo centro de detenção no condado de Baker, apelidado de “Deportation Depot”, com capacidade para 1.300 pessoas.
Esta instalação se somaria à já existente nos Everglades, que foi projetada para abrigar até 3.000 detidos.
Um acidente como justificação para a política migratória
Durante sua intervenção, DeSantis também usou um caso recente para reforçar seu discurso de linha dura em relação à imigração.
Relatou o incidente de um motorista procedente da Índia, que, segundo disse, entrou ilegalmente no país, obteve uma licença comercial no estado de Washington sem falar inglês e, posteriormente, causou um acidente mortal na Flórida.
“Esse indivíduo não tinha a preparação adequada para conduzir um caminhão. É isso que acontece quando não há controles”, afirmou.
DeSantis anunciou que sua administração está trabalhando para extraditar o motorista e processá-lo na Flórida, insistindo que seu objetivo é “proteger o povo” frente ao que descreveu como falhas da política migratória federal.
Enquanto DeSantis promete mais centros, Alligator Alcatraz se esvazia
As palavras do governador contrastam com os fatos que se desenrolam em paralelo.
Segundo revelou a agência AP, um alto funcionário estatal afirmou por e-mail que o centro “provavelmente ficará vazio em poucos dias”.
O mensagem foi enviada em 22 de agosto por Kevin Guthrie, diretor da Divisão de Gestão de Emergências da Flórida, em resposta a uma solicitação relacionada a serviços religiosos para os detidos.
Isto ocorre logo após a juíza federal Kathleen Williams ordenar o desmantelamento do centro.
A decisão judicial respondeu a uma ação apresentada por organizações ambientalistas e a tribo Miccosukee, que denunciaram a violação de leis de proteção ambiental pela construção do centro em plena zona protegida dos Everglades.
Embora o estado da Flórida e o governo federal tenham apelado da decisão e solicitado uma suspensão temporária da ordem de fechamento, o número de detidos caiu drasticamente.
Dos cerca de 1.000 que abrigou em seu momento, restavam entre 300 e 350 na semana passada, segundo o congressista democrata Maxwell Frost.
Alguns foram deportados; outros, transferidos para centros alternativos.
Demandas por condições desumanas
A pressão judicial e ambiental se soma a três ações movidas por organizações de direitos civis que descrevem condições deploráveis em “Alligator Alcatraz”:
Entre elas estão alimentos com vermes, sanitários inservíveis, solos alagados com águas negras, presença constante de insetos e detidos sem acusação e fora do sistema de localização pública do ICE.
Os advogados afirmam que esses problemas representam uma anomalia dentro do próprio sistema migratório dos Estados Unidos e denunciam a opacidade da operação estatal desde sua abertura oficial em 1º de julho, há apenas dois meses.
Um centro necessário ou um símbolo falhado?
Enquanto o governador DeSantis insiste em expandir a infraestrutura de detenção, sua administração enfrenta um revés judicial, pressão social e uma aparente contradição entre o discurso político e as decisões logísticas já em andamento.
“Se fosse tão difícil, em grande parte, eles não teriam conseguido tão rapidamente”, questionou Elise Pautler Bennett, advogada do Centro para a Diversidade Biológica, ao se referir à rapidez com que o centro foi esvaziado.
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