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Uma anedota aparentemente trivial se tornou um símbolo do colapso turístico e econômico de Cuba.
O jornalista espanhol Ángel Expósito, diretor de programas da emissora de rádio COPE, contou a surpreendente resposta que recebeu em um hotel de marca espanhola em Havana quando pediu algo tão simples como um café: "Desculpe, senhor, não temos. Não há café em Cuba".
Expósito contou que estava hospedado em um estabelecimento de alta categoria, que se promove como "luxuoso" e que supostamente garante conforto e qualidade de serviço.
Na primeira manhã, após se servir um café incluído no café da manhã buffet, pediu um segundo à parte, até se oferecendo para pagá-lo separadamente. A resposta do garçom foi tão breve quanto arrasadora: "Não é uma questão de dinheiro, é que não há. Em toda a Ilha."
O jornalista descreveu a cena como "surrealista": um hotel internacional, no país que outrora se orgulhava do melhor café do Caribe, incapaz de servir a bebida que é parte essencial de sua identidade.
"É como ir a Jerez e não ter xerez, ou a La Mancha e faltar queijo. O café é um símbolo de identidade aqui, e nem isso têm", refletiu com espanto.
Um luxo sem luxos
A anedota serve como uma radiografia de uma crise estrutural que afeta profundamente o turismo, a principal fonte de renda do regime cubano.
A crise energética é um dos fatores que mais influencia: cortes de luz de mais de 12 horas paralisam a atividade hoteleira e de restaurantes. Muitos estabelecimentos recorrem a geradores a diesel, mas a falta de combustível os deixa inoperantes com frequência.
O ministro do Turismo, Juan Carlos García Granda, admitiu problemas financeiros, deficiências no fornecimento hoteleiro e a fuga em massa de trabalhadores qualificados, como recepcionistas, guias turísticos e garçons.
A contradição cubana é evidente: os preços dos pacotes turísticos são mais baixos do que na República Dominicana ou no México, mas o que parecia uma pechincha se transforma em uma decepção.
Como apontou o jornalista espanhol, os turistas pagam por um "tudo incluído" que, na verdade, se transforma em "nada incluído"
A decadência do setor
Segundo cifras da Oficina Nacional de Estatísticas e Informação (ONEI), Cuba recebeu 29,1 % menos turistas nos primeiros meses de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior.
A crise do turismo internacional em Cuba se aprofundou em 2025, consolidando uma tendência de queda que apaga as esperanças de recuperação.
Entre janeiro e julho, chegaram 1.577.330 viajantes, o que representa uma queda de 17,2% em relação ao mesmo período de 2024, com 328.126 visitantes a menos.
Os turistas espanhóis, que um dia foram um dos mercados mais fiéis, estão virando as costas ao destino: apenas 65.000 viajaram para a Ilha em 2024, e a previsão para este ano é ainda mais baixa.
O ministro reconheceu na Assembleia Nacional que as perspectivas para 2025 são desalentadoras: esperam apenas 2,6 milhões de visitantes, uma cifra muito inferior aos 4,6 milhões de 2018.
Testemunhos que se multiplicam
O caso do café não é isolado.
Turistas de diversas nacionalidades denunciam nas redes sociais e em fóruns especializados situações similares: sucos de pepino servidos no lugar de laranja, quartos sem água quente durante dias ou buffets vazios.
Há apenas alguns dias, um vídeo viral mostrou dois espanhois em Varadero que afirmavam ter visto baratas no buffet de seu hotel.
"Talvez o ponto mais negativo tenha sido o tema das baratas... realmente as vimos", disse um dos visitantes.
O casal também contou que em um restaurante aberto 24 horas só lhes ofereceram um sanduíche club "porque não havia mais nada". Ao abrí-lo, preferiram não comê-lo "para não acabar com diarreia no primeiro dia".
Em junho, uma turista russa denunciou sua amarga experiência em um hotel cinco estrelas em Varadero, onde esperava desfrutar de umas férias de luxo e acabou enfrentando condições indignas.
"As torneiras pingavam, os secadores não funcionavam, tudo estava sujo. Senti-me enganada. Tratam os turistas como porcos".
Um símbolo do colapso
A anedota do café contada por Expósito teve impacto porque resume em um instante o que mostram estatísticas e testemunhos: um país que não consegue oferecer o básico, nem mesmo nos hotéis de luxo que servem de vitrine para o turismo internacional.
O regime insiste em construir mais hotéis, apesar da queda na ocupação, enquanto hospitais e setores básicos como a alimentação estão desabastecidos.
A paradoxa de Cuba se explica, talvez, naquela frase que deixou o jornalista sem palavras: "Não tinham café. Em Cuba. O país que foi símbolo do melhor café do Caribe".
Perguntas Frequentes sobre a Crise do Turismo e do Setor Hoteleiro em Cuba
Por que os hotéis em Cuba não conseguem oferecer produtos básicos como o café?
A falta de produtos básicos nos hotéis cubanos é resultado de uma crise econômica e turística que afeta toda a ilha. A escassez de café, algo impensável no passado para um país conhecido pelo seu café de qualidade, é apenas um exemplo do colapso no fornecimento de bens essenciais devido a uma economia em declínio, agravada por problemas energéticos e a gestão deficiente do governo.
Como a crise energética afeta o turismo em Cuba?
A crise energética em Cuba tem um impacto direto e negativo no turismo, pois os apagões prolongados afetam gravemente a operação de hotéis e restaurantes. Muitos estabelecimentos não conseguem garantir serviços básicos como eletricidade constante, resultando em experiências turísticas decepcionantes e uma diminuição na chegada de visitantes.
Quais são as causas da queda do turismo em Cuba?
A queda do turismo em Cuba deve-se a múltiplos fatores, incluindo a crise econômica, a falta de produtos básicos, problemas energéticos e uma má gestão do setor turístico. Além disso, os turistas enfrentam más condições nos hotéis, como a escassez de alimentos e serviços básicos, o que levou a uma percepção negativa do destino, reduzindo significativamente a afluência de visitantes.
O que o governo cubano tem feito para enfrentar a crise turística?
O governo cubano continuou investindo na construção de hotéis e infraestruturas turísticas, apesar da baixa ocupação e da queda de receitas. Essa estratégia tem sido criticada por economistas e especialistas, que argumentam que não aborda as necessidades urgentes do país, como a melhoria dos serviços básicos e o abastecimento de produtos essenciais.
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