
Vídeos relacionados:
Ana Hurtado Martínez, propagandista espanhola a serviço dos regimes cubano e venezuelano, publicou nesta terça-feira em Telesur um artigo intitulado “Cuba avança em direção à soberania petrolífera e atinge dois milhões de toneladas de crude”.
No texto, a autora repetiu o discurso oficial do regime cubano e celebrou o que apresentou como uma “virada estratégica” na indústria petrolífera da ilha, resultado de inovações tecnológicas e da conexão com universidades e centros de pesquisa.
O artigo se inseriu na habitual narrativa triunfalista da imprensa oficialista e de seus porta-vozes estrangeiros: transformar qualquer avanço parcial em um salto histórico e ocultar, ao mesmo tempo, os números que retratam a crise energética mais severa que, por décadas, Cuba viveu e ainda vive, cada vez pior.
Lo más llamativo do texto de Hurtado Martínez é o dado que serve de eixo ao seu relato: Cuba teria alcançado dois milhões de toneladas de petróleo equivalente produzidas até agora neste ano. O número, que aparece como um feito da chamada “ciência nacional”, merece ser analisado à luz dos dados publicados pelo próprio regime e da experiência cotidiana dos cubanos.
O dado surpreendente: De um milhão a dois milhões em apenas dois meses
Em junho de 2025, a União Cuba-Petróleo (CUPET) celebrou publicamente ter alcançado o primeiro milhão de toneladas de petróleo extraídas no ano. A notícia foi acompanhada de mensagens de orgulho nas redes sociais oficiais, que destacaram o trabalho dos trabalhadores do setor petrolífero.
Apenas dois meses depois, em agosto, o número dobrou de uma vez: Hurtado utilizou novos relatórios da estatal CUPET, entidade pertencente ao ministério de Energia e Minas (MINEM), e falou sobre a extração de dois milhões de toneladas, apresentando isso como prova da recuperação produtiva.
O salto é, no mínimo, surpreendente. Em um contexto de infraestrutura deteriorada, falta de investimento estrangeiro, apagões diários e déficit de combustível, é difícil acreditar que a produção tenha se duplicado em tão pouco tempo.
Mais ainda quando a própria CUPET reconheceu, no final de 2024, que havia descumprido seu plano de extração, encerrando o ano com 98,5% do previsto.
O espanto não é apenas aritmético: é político. Este uso inflado dos números pretende vender a ideia de uma autossuficiência energética inexistente, justamente no momento em que a ilha sofre a escassez mais aguda de combustível desde o Período Especial e seu aliado se encontra em um momento crítico, marcado pelo desdobramento naval e militar da administração Trump para pressionar o regime de Maduro e pôr fim ao narcoestado construído com a ajuda do regime cubano.
A necessidade real diante do discurso propagandístico
O ministro de Energia, Vicente de la O Levy, declarou este mesmo mês de agosto que Cuba deveria importar cinco milhões de toneladas de combustível por ano para atender suas necessidades. Esse é o volume que permitiria manter em funcionamento a geração elétrica, a indústria, o transporte e os serviços básicos.
Nesse contexto, mesmo que as duas milhões de toneladas fossem reais, elas atenderiam apenas 40% das necessidades do país. O restante precisa vir de fora.
E aí está a grande contradição que Hurtado Martínez silencia: se Cuba avança em direção à soberania petrolífera, por que depende de maneira crescente de carregamentos da Venezuela, México e Rússia?
Produção nacional: Petróleo pesado, sulfurado e de pouca utilidade
O petróleo cubano enfrenta um problema estrutural: é pesado e tem alto teor de enxofre, o que limita seu processamento nas refinarias e o torna ineficiente para transporte e outros usos industriais. Para que possa ser utilizado nas termelétricas, é necessário importar diluentes.
Além disso, as tentativas de diversificar a produção mostraram seus limites. A empresa australiana Melbana Energy anunciou este ano descobertas de petróleo leve no poço Alameda-2, em Matanzas, mas a notícia trazia uma armadilha: esse petróleo não fica em Cuba, é exportado.
Segundo declarações de maio da própria empresa, já tinham armazenado mais de 15.000 barris de petróleo de alta qualidade e tinham recebido a autorização do regime cubano para enviá-lo ao exterior.
Em outras palavras, enquanto o discurso oficial fala de soberania, os poucos avanços na qualidade são destinados a gerar divisas, não a reduzir a dependência do país.
Importações crescentes: Venezuela e México sustentam a ilha
A narrativa de Hurtado ignora outro dado essencial: a dependência absoluta das importações.
Em julho de 2025, a Venezuela enviou a Cuba cerca de 31.000 barris diários de petróleo e derivados, uma recuperação em relação ao mínimo histórico de junho (8.000 bpd), mas ainda muito longe dos compromissos de outrora: 55.000 bpd acordados em 2000 entre Hugo Chávez e o ditador Fidel Castro, e mais de 100.000 bpd nos anos de bonança petrolífera venezuelana.
O outro salva-vidas tem sido o México. Entre maio e junho deste ano, a Pemex enviou 10,2 milhões de barris de petróleo e 132,5 milhões de litros de combustíveis para Cuba, equivalentes a cerca de 850 milhões de dólares. Essa quantidade supera o total exportado nos dois anos anteriores juntos.
Si Cuba está logrando “soberania energética”, como explicar então que as remessas externas se multipliquem?
A vida real: Apagões, déficit e resignação
Além dos números manipulados, a realidade dos cubanos é outra. A União Elétrica reportou déficits de geração de mais de 1.700 megawatts, o que se traduz em apagões diários e prolongados.
A geração distribuída depende do diesel importado, que muitas vezes se atrasa nos portos porque o país não consegue pagá-lo.
O contraste entre o relato oficial e a vida cotidiana é brutal: enquanto a propaganda fala de perfuração horizontal, inovação tecnológica e cabotagens nacionais, milhões de lares sofrem noites sem ventilador, cozinhas apagadas e transporte paralisado.
O papel da propaganda
O artigo em Telesur de a felizmente casada Ana Hurtado Martínez cumpre uma função política clara: reforçar o relato de resistência do regime cubano, transformando um dado exagerado em símbolo de soberania. Trata-se de mascarar a dependência estrutural com palavras como “ciência nacional”, “inovação tecnológica” e “visão de futuro”.
Mas a lacuna entre discurso e realidade se amplia. A propaganda tenta vender “dois milhões de toneladas” como um salto histórico, quando, na verdade, é insuficiente, duvidoso e contraditório com o panorama de importações massivas e apagões generalizados.
A “soberania petrolífera” que apresenta Telesur não é mais que um espeço propagandístico. Cuba continua sendo um país dependente de importações, com uma produção nacional de petróleo pesado de baixa qualidade, incapaz de cobrir sequer a metade de suas necessidades.
O salto de um milhão em junho para dois milhões em agosto é um exercício de manipulação estatística que busca sustentar uma narrativa política, e não refletir a realidade energética da ilha.
A população cubana, por outro lado, vive a cada dia o custo dessa lacuna entre propaganda e realidade: apagões intermináveis, gasolina escassa, transporte colapsado e um futuro energético a cada dia menos claro.
Arquivado em: