Sem cargos e sem juiz: advogado denuncia detenções ilegais na prisão Alligator Alcatraz na Flórida

Advogados denunciam detenções ilegais na Alligator Alcatraz, onde migrantes estão sem acusações nem acesso a tribunais. A instalação, promovida pela administração de DeSantis, opera sem supervisão federal, gerando violações de direitos.

Advogados denunciam que centenas de imigrantes estão detidos em um limbo legalFoto © X/oldguy_steve

Um grupo de advogados solicitou a um juiz federal que intervenha imediatamente diante do que classificam como uma violação em massa de direitos, após a detenção de centenas de imigrantes no centro de detenção migratória conhecido como Alligator Alcatraz, sem acusações formais, sem acesso a audiências judiciais e sem que qualquer tribunal federal reconheça jurisdição sobre seus casos.

O centro, localizado em uma pista aérea remota nos Everglades, no estado da Flórida, e montado em apenas oito dias por ordens da administração do governador republicano Ron DeSantis, tem operado por quase um mês como uma espécie de zona cinza legal, onde não se reconhece autoridade judicial nem responsabilidade federal.

Segundo os advogados, a situação é “sem precedentes” e deixa os detidos “incomunicáveis e sem poder comparecer aos tribunais”, reportou o jornal Miami Herald.

Organizações como a American Civil Rights Union Foundation e Americans for Immigrant Justice apresentaram uma ação judicial exigindo que o Departamento de Segurança Interna identifique qual tribunal tem jurisdição e revele qualquer acordo legal que permita a existência deste centro.

Afirmam que os juízes do tribunal de imigração de Krome, em Miami, estão cancelando audiências porque não têm autoridade sobre os detidos, e que os próprios agentes do ICE se isentam de toda responsabilidade.

A falta de respostas deixou os advogados sem solução. Anna Weiser, representante legal de dois migrantes com visto válido, afirmou que sua audiência de fiança foi cancelada e que o ICE pediu que ela escrevesse diretamente para o acampamento, sem obter nenhuma resposta.

Um de seus clientes foi transferido sem aviso prévio para uma instalação do ICE na Louisiana, onde está à espera de deportação, informou a imprensa.

Outro caso similar é o de G.T.C., um guatemalteco sem antecedentes criminais e com um processo de asilo em andamento. Ele foi detido por agentes estaduais enquanto pescava nos Everglades, apesar de apresentar documentos que comprovam que está legalmente em processo migratório. Sua audiência foi suspensa porque o tribunal alegou não ter jurisdição sobre detidos no Alligator Alcatraz.

“Não entendo qual é a base legal de sua detenção”, declarou sua advogada Zareefa Khan, questionando se realmente estão sob custódia federal.

O governo federal não respondeu publicamente às denúncias. Enquanto isso, a Divisão de Gerenciamento de Emergências da Flórida prometeu começar a oferecer serviços legais no local nesta segunda-feira, quase um mês após a abertura da instalação. Tarde demais para muitos, e sem esclarecer sob qual marco legal operam.

O juiz federal Rodolfo A. Ruiz II deverá decidir se obriga o governo a tornar transparente a cadeia de comando e a justificar legalmente a existência do centro.

Para os advogados, o caso é claro: “A Flórida não pode operar um sistema de detenção migratória independente sem supervisão federal. Não pode manter pessoas detidas sem acusações nem acesso aos tribunais.” A pergunta que permanece sem resposta é quem está realmente no comando.

Na sexta-feira, DeSantis confirmou que o governo dos Estados Unidos havia começado a executar deportações aéreas de imigrantes irregulares a partir de Alligator Alcatraz, e vem fazendo isso há dias, embora não tenha fornecido detalhes sobre a nacionalidade dos deportados nem quantos voos partiram exatamente do centro.

Sí lembrou que a administração do presidente Donald Trump ordenou a expulsão de aproximadamente 800.000 pessoas; das quais entre 50.000 e 75.000 residiam na Flórida.

Segundo diversas fontes locais, uma proporção significativa dos migrantes no centro de detenção é de nacionalidade cubana. Concretamente, foi revelado que mais da metade eram de Cuba, México e Guatemala.

No entanto, uma notícia recente indicou que alguns deles haviam sido transferidos para outros centros de detenção migratória, o que gerou incerteza sobre sua situação legal e seu destino final.

“Que se nos vão deportar, que nos deportem. E se não, que nos soltem (…) Queremos um processo justo. Que sejamos processados, que nos têm aqui pior do que indocumentados”, declarou recentemente à rede de televisão Telemundo Aris Reyes, um cubano detido em Alligator Alcatraz, por dirigir sem uma licença válida.

Esta semana transcendeu o caso de outro migrante cubano: Pedro Lorenzo, pai de três cidadãos americanos, que já havia cumprido uma pena por um delito cometido no passado.

No dia 8 de julho, apresentou-se voluntariamente no escritório de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) em Miramar para uma verificação de rotina; desde então, permanece detido, sem novas acusações e sem informações legais.

Um relatório legislativo qualificou como "campo de internamento", com graves violações dos direitos humanos, como superlotação extrema, alimentação inadequada, calor sufocante, falta de água potável e assistência médica deficiente.

Uma visita de congressistas democratas no dia 12 de julho revelou colchões infestados, banheiros colapsados, temperaturas internas entre 28 e 29 graus e porções de comida "insuficientes e pouco saudáveis".

Perguntas frequentes sobre a situação legal e direitos humanos em Alligator Alcatraz

Por que estão sendo denunciadas detenções ilegais em Alligator Alcatraz?

As detenções em Alligator Alcatraz são consideradas ilegais porque estão sendo realizadas sem acusações formais, acesso a audiências judiciais ou reconhecimento de jurisdição por parte de algum tribunal federal. Isso levou a uma violação massiva de direitos, segundo denunciam advogados e organizações de direitos humanos.

Quais são as condições dos detidos em Alligator Alcatraz?

As condições em Alligator Alcatraz são descritas como inhumanas e degradantes, com superlotação extrema, alimentação inadequada, calor sufocante, falta de água potável e assistência médica deficiente. Os detidos enfrentam dificuldades para se comunicar com o exterior e receber assessoria jurídica adequada.

Que ações legais estão sendo tomadas contra Alligator Alcatraz?

Se apresentaram múltiplas ações legais contra a Alligator Alcatraz, denunciando violações a direitos humanos e falta de acesso à assistência jurídica. Organizações como a ACLU e Americans for Immigrant Justice buscam que o governo federal justifique a existência do centro e garanta o devido processo legal para os detidos.

Quais nacionalidades predominam entre os detidos em Alligator Alcatraz?

A maioria dos detidos em Alligator Alcatraz é de nacionalidades cubana, mexicana e guatemalteca. Mais de 55% dos detidos vêm desses países, mas também há pessoas de mais de 40 nacionalidades diferentes.

Qual é o impacto ambiental do centro de detenção Alligator Alcatraz?

O centro de detenção Alligator Alcatraz foi construído em uma área ecologicamente sensível sem uma revisão ambiental adequada, o que gerou preocupações sobre seu impacto no ecossistema dos Everglades. Organizações ambientalistas apresentaram ações judiciais para interromper suas operações devido à ameaça que representa para o ambiente natural.

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