A solo horas de se cumprir o quarto aniversário do 11J, o regime cubano reativou sua maquinaria repressiva com uma nova jogada política: a atualização de sua controversa Lista Nacional de Pessoas e Entidades Vinculadas ao Terrorismo, na qual agora constam 62 pessoas e 20 organizações.
Entre os nomes mais visíveis destacam-se influencers, opositores e ativistas exilados que têm denunciado por anos as arbitrariedades do governo a partir de plataformas digitais.
Durante a conferência de imprensa de apresentação da lista, o coronel Víctor Álvarez Valle, da chefia do Ministério do Interior, introduziu um termo que levanta alarmes: “ciberterrorismo”, uma categoria na qual se enquadram aqueles que fazem “uso desmedido das redes sociais para incitar à violência, agredir entidades governamentais e criar descrédito”.
“Nenhuma das pessoas que, por alguma razão, se colocar de frente [ao processo revolucionário] escapa mais”, avisou o porta-voz oficial, em uma declaração que marca um giro ainda mais restritivo contra o dissenso digital.
Entre os mais conhecidos da lista estão Alexander Otaola, Ana Olema Hernández, Eliecer Ávila, Ultrack, Manuel Milanés, Orlando Gutiérrez Boronat e Alain Lambert (Paparazzi Cubano). Todos eles são criadores de conteúdo com alta visibilidade nas redes sociais e críticos contundentes do regime, seguidos por milhares de cubanos dentro e fora da ilha.
No entanto, a resolução 13/2025 do Ministério do Interior, publicada na Gaceta Oficial, não apresenta provas públicas que sustentem as acusações. Muitas das imputações são baseadas em fatos vagamente descritos, ocorridos até mesmo nas décadas de 1990 e 2000, e em supostas “investigações penais” cujos detalhes permanecem ocultos.
Como parte do aparato midiático do regime, o porta-voz Humberto López utilizou um segmento na televisão estatal para fazer um aviso apenas velado. “Muito em breve vamos mostrar exemplos concretos de pessoas envolvidas aqui em território nacional com esses terroristas. Terroristas que, a partir do conforto da distância, estão usando como carne de canhão pessoas aqui dentro…”, disse López, insinuando que novos casos repressivos estão sendo preparados contra cubanos residentes na ilha que interagem com os exilados.

O comentarista não perdeu a oportunidade de dramatizar a inclusão de nomes na lista, como o caso de Armando Labrador Coro, a quem qualificou sem reservas como membro da “organização terrorista Cuba Primeiro”.
“Aqui eu me detenho. Esperem notícias muito em breve”, concluiu, em um tom mais próprio de um promotor do que de um jornalista, alimentando o clima de medo e ameaça.
Analistas e organizações de direitos humanos denunciam que o uso do termo “terrorismo” busca mais intimidar do que promover a justiça. Criminalizar a dissidência, especialmente a partir do exílio, torna-se uma estratégia para silenciar vozes incômodas e reforçar a narrativa do cerco externo.
O caso de Alexander Otaola é paradigmático: quando foi incluído pela primeira vez na lista em 2023, respondeu com ironia: “Canel, olha o que eu faço com a extradição: me limpo com isso”, disse enquanto mostrava um rolo de papel higiênico com o rosto do mandatário cubano.
Apesar do dramatismo das acusações, a lista não tem efeitos jurídicos reais fora do território cubano. Em 2024, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Espanha confirmou a CiberCuba que não tinha conhecimento oficial dessa lista e que não existia nenhum alerta em aeroportos europeus contra os mencionados. O mesmo acontece na América Latina, onde vários dos acusados puderam viajar sem impedimentos.
Inclusa a menção a notificações vermelhas da Interpol não foi acompanhada de provas nem confirmações por parte do organismo internacional. Também não houve resposta oficial do governo dos EUA, embora durante a conferência, altos funcionários cubanos tenham acusado Washington de proteger aqueles que, segundo eles, "planejam ações terroristas de seu território".
Arquivado em: