Díaz-Canel reconhece a desconexão do governo com a cidadania e aponta para os jovens

Durante a clausura do X Pleno do Comitê Central do PCC, Miguel Díaz-Canel abordou a desconexão com a cidadania, admitiu deficiências na estratégia comunicativa do governo e apelou para a mobilização juvenil em defesa do projeto socialista.

Miguel Díaz-CanelFoto © X/Dr. Roberto Morales Ojeda

En um extenso discurso que alternou tons épicos, históricos e defensivos, Miguel Díaz-Canel admitiu neste sábado que a comunicação institucional do governo cubano continua sendo uma “disciplina pendente”, em meio a uma profunda crise econômica, social e energética que deteriorou severamente a qualidade de vida da maioria dos cubanos.

Durante a clausura do X Pleno do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba (PCC), o mandatário reconheceu que a maneira como se informa, se argumenta e se tenta convencer a partir das instituições do Estado não consegue se conectar com a cidadania, especialmente com os jovens.

No entanto, a autocrítica veio acompanhada da habitual retórica sobre o bloqueio, a guerra midiática e a “resistência heroica” como justificativa quase absoluta de todos os males.

“Aqui desempenha um papel determinante a tão debatida comunicação política, institucional, social, uma questão pendente que requer mais qualidade, articulação, contundência, clareza, coerência e modos mais atraentes”, afirmou, sem precisar responsáveis, nem apontar as estruturas estatais que durante anos ignoraram as demandas cidadãs por transparência, eficácia e diálogo real.

Díaz-Canel pediu uma aproximação maior aos jovens, mas o fez a partir de uma abordagem carregada de consignas, apelando à história como ferramenta pedagógica. Propôs, por exemplo, que nas escolas sejam escritas sentenças martianas nos quadros-negros e que se leiam artigos de Martí como antídoto contra a desmobilização.

A pergunta incômoda é: o governo acredita que com frases de Martí ou o legado de Fidel pode reconstruir a confiança perdida em uma geração que cresce entre apagões, escassez, censura e falta de horizontes? É realmente ouvido esse jovem quando protesta, quando emigra, quando questiona?

Um dos trechos mais marcantes do discurso foi a afirmação de que “Cuba é um país em guerra”, não apenas pelo embargo econômico, mas pelo que ele qualificou como “bombas de desinformação” lançadas a partir de meios estrangeiros e redes sociais.

O mandatário reconheceu também que se acumularam “problemas e condutas inadmissíveis” e que muitas políticas são implementadas com deformações. No entanto, não foi mencionado nenhum funcionário, órgão ou responsável direto, nem se assumiu a parcela de culpa de quem governa o país há décadas.

Tampouco se falou sobre os limites do modelo centralizado, nem sobre a falta de liberdades civis, nem sobre a ausência de mecanismos reais de controle cidadão. A “participação popular” continua sendo um conceito abstrato em um país onde a imprensa independente é perseguida, a crítica incômoda é criminalizada e as decisões-chave são tomadas em cúpulas fechadas.

Em meio ao deterioramento econômico, o discurso também incluiu promessas reiteradas: reimpulsionar a economia, liberar entraves burocráticos, estabilizar o sistema elétrico, produzir mais alimentos, fomentar o investimento estrangeiro. Nada que os cubanos não tenham ouvido já em outras plenárias, discursos ou planos falhos.

Por outro lado, foi anunciado um programa comemorativo pelo centenário de Fidel Castro, com o objetivo de “projetar seu pensamento diante dos desafios atuais”. Uma decisão que, longe de olhar para o futuro, recorre novamente à nostalgia como ferramenta de legitimação.

O governante concluiu falando de “resistência inteligente” e de “não se render”, como se o desgaste já não fosse insuportável para uma população exausta. Em um país onde milhares emigram a cada mês, a esperança não se constrói com mais consignas nem com promessas adiadas.

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