Embaixada dos EUA em Havana nega visto a enfermeira por ser "possivelmente" militante do Partido Comunista de Cuba

O jovem cubano Yauniel Hernández Rodríguez, de 37 anos, afirma que sua mãe foi uma simples trabalhadora da Saúde e que até levou uma carta do trabalho atestando que nunca militou no PCC

Yauniel Hernández Rodríguez, junto com sua mãeFoto © Fornecida

O jovem cubano Yauniel Hernández Rodríguez, de 37 anos, retornou a Miami nesta terça-feira, 10 de junho, vindo de Havana, completamente decepcionado porque, pela terceira vez, negaram o visto à sua mãe. Desta vez, o cônsul dos Estados Unidos em Cuba disse a ele que não lhe concederia um visto de reunificação familiar por ela ter sido enfermeira em um consultório e em um policlínico em Guanabo (Havana do Leste), além de acusá-la, sem provas, de ser ou ter sido "possivelmente" militante do Partido Comunista de Cuba (PCC).

Em contrapartida, ele concedeu o visto de reunificação ao seu filho de 16 anos, que foi criado com a avó na Ilha, desde que seu pai emigrou para os Estados Unidos em 2015. A única opção que o cônsul deu a Yauniel Hernández para que pudesse se reunir com sua mãe é solicitar um perdão, mas ele se recusa, pois afirma que solicitar isso seria reconhecer que sua mãe foi militante do PCC, o que não corresponde à realidade.

"O cônsul me disse: 'No caso da sua mãe, é preciso pedir um perdão por ter sido membro ou por ter participado de alguma filiação com o PCC'. Aí me deu o documento", explica Yauniel Hernández em uma entrevista concedida nesta quarta-feira ao CiberCuba.

À pergunta sobre em que se baseia a acusação do cônsul dos Estados Unidos em Havana ao afirmar que sua mãe é membro do PCC, sua resposta é contundente: "Em nada. Não se pode basear em nada porque minha mãe jamais. A única coisa que ele perguntou à minha mãe foi: 'Aonde você trabalhou, onde estudou, até que ano trabalhou'? Ela respondeu: 'Sou aposentada. Me retirei há dois meses. Eu era enfermeira do policlínico Mario Muñoz (de Guanabo)'. Aí ele já diz que não, por ser, 'possivelmente membro do Partido Comunista'."

Surge a circunstância de que a mãe de Hernández reside em Cuba, mas tem nacionalidade espanhola e, além de seu filho, que é cidadão americano desde dezembro de 2024, também tem outros três irmãos nos Estados Unidos, que receberam a nacionalidade americana. Um deles ela não vê há 25 anos.

A história da mãe de Yauniel Hernández é complexa, pois esta é a terceira vez que lhe negam um visto para entrar nos Estados Unidos. Na primeira ocasião, foi uma carta de convite que seu filho fez, mas foi rejeitada por ser uma "possível emigrante". A segunda entrevista aconteceu na Guiana, em janeiro passado, e lhe disseram que não, pois com o processo de reagrupamento familiar em andamento, preferiram dar prioridade a essa via. E agora, negaram-lhe novamente por suspeitas de que teria pertencido ao PCC, algo que ela rejeita categoricamente.

A mãe de Yauniel Hernández se aposentou aos 61 anos há dois meses e, na entrevista na Embaixada dos EUA em Havana, levou uma carta assinada por seu antigo local de trabalho, na qual afirma que não havia militado no PCC nem participado de demonstrações públicas de fidelidade ao regime castrista.

De fato, uma espectadora do CiberCuba que se identifica como Marisela Fernández García afirma ser chefe de departamento no policlínico onde trabalhou a mãe de Yauniel Hernández em Cuba e assegurou na entrevista que seu filho concedeu a esta plataforma que "ela nunca pertenceu a nenhuma organização política. Triste essa história. Uma mãe cheia de ilusão de poder estar junto de seu filho e netos".

"Minha mãe sempre foi uma simples enfermeira desde os 17 anos. Ela se aposentou aos 61 anos, com um salário de 3.200 pesos em Cuba, que atualmente só dá para comprar uma cartela de ovos", acrescentou em declarações à CiberCuba.

Ele dá como certo que não pedirá o perdão oferecido porque demora, não é gratuito e, além disso, ele se recusa a pedir perdão por algo que não é verdade. Em seus planos está vender suas propriedades nos Estados Unidos e se mudar para a Espanha com toda a sua família.

O endurecimento dos filtros consulares por parte da Embaixada dos Estados Unidos em Havana está deixando dezenas de famílias cubanas presas em uma paradoxal situação: cumprir todos os requisitos do programa de reunificação familiar e, mesmo assim, serem rejeitadas por supostos vínculos ideológicos.

O que aconteceu com Yauniel Hernández também aconteceu com a mãe do cubano Andy Leal. Ela também é espanhola e um dos requisitos do PCC é que seus membros não tenham dupla cidadania. A ela também foi negado o visto de reunificação após nove anos de espera, por suspeitas de afiliação política.

Neste caso, a notificação oficial invoca uma lei migratória americana que impede a concessão de vistos a pessoas que sejam ou tenham sido membros ou afiliados de partidos totalitários. No entanto, não foram apresentadas evidências nem opções para contestar a decisão.

Em uma coletiva de imprensa em Miami, o chefe de Negócios da Embaixada dos EUA em Cuba, Mike Hammer, confirmou que os critérios consulares ficaram mais rígidos em Havana.

“Estamos reforçando as leis americanas que impedem a concessão de vistos a membros do Partido Comunista de Cuba que ocuparam altos cargos ou que foram militantes até anos recentes. O que não queremos ver é repressão nas ruas de South Beach, tomando um mojito. Isso não pode acontecer, não é justo”, explicou.

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).