Continuam as queixas pela negação de vistos para cubanos vinculados laboralmente à economia estatal em Cuba. O excesso de zelo na triagem que está sendo feita pela Embaixada dos Estados Unidos em Havana para evitar a emigração de comunistas, contrasta com os dados da Oficina Nacional de Estatística e Informação (ONEI) de Cuba, que apontam que este ano há apenas 67 empresas estrangeiras operando na Ilha e 9.751 Mipymes. Todo o restante é controlado pelo regime. Estamos falando de uma massa laboral de 2.335.613 contabilizados no setor estatal de janeiro a março deste ano.
A cubana Amarilys Pérez, com cidadania americana, é uma das afetadas por uma decisão que ignora que um terço da população cubana está vinculada ao emprego estatal, em um país com 9,7 milhões de habitantes ao final de 2024 (estudos independentes afirmam que o censo mal atinge 8 milhões) e, atenção, 25,7% (2,4 milhões de pessoas) têm mais de 60 anos.
Em uma carta enviada à CiberCuba, Pérez denuncia a negativa do visto de imigrante para seus pais por parte da Embaixada dos Estados Unidos em Cuba, alegando uma suposta afiliação comunista que, segundo ele, "é completamente infundada".
"Meus pais nunca foram membros nem colaboradores de nenhum Partido Comunista. Sua única relação com o sistema estatal cubano foi trabalhista, como ocorre com a maioria dos cidadãos cubanos, já que toda fonte de emprego formal em Cuba é administrada pelo Estado. Trabalhar para sobreviver não deve ser confundido com militância ideológica", esclarece em uma carta enviada a esta redação.
Em seu escrito à CiberCuba, Pérez explica que a negativa do visto para seus pais foi emitida neste 3 de abril, amparando-se na seção 212(a)(3)(D) da Lei de Imigração e Nacionalidade (INA), que proíbe a entrada nos Estados Unidos de pessoas que tenham pertencido ou colaborado com partidos comunistas.
Amarilys Pérez defende que seus pais nunca tiveram militância política alguma e que sua única relação com o aparato estatal cubano foi laboral, como acontece em um país onde o emprego formal é controlado pelo Estado. Além disso, ela esclarece que jamais participaram de atividades políticas nem promoveram ideias contrárias aos valores democráticos dos Estados Unidos e isso, acrescenta, foi formalizado por escrito em uma declaração juramentada.
"Esta decisão (da Embaixada dos Estados Unidos em Havana) não é apenas injusta, mas também impede nossa reunificação familiar, um direito que solicitamos de acordo com a lei. Todos nós, seus filhos, somos cidadãos americanos", ressalta.
Após as recentes declarações do encarregado de Negócios da Embaixada americana em Havana, Mike Hammer, nas quais admitiu que muitos casos poderiam ter sido tratados de forma incorreta ou injusta, Amarilys Pérez solicita uma revisão minuciosa do visto negado a seus pais. "Eles assinaram uma declaração jurada confirmando que jamais pertenceram ou ofereceram apoio voluntário a qualquer organização comunista ou totalitária", diz.
Seu caso não é um fato isolado. Uma mãe cubana que prefere permanecer no anonimato assegura por escrito ao CiberCuba que também lhe negaram o visto "de maneira injusta". "Quero deixar claro que nunca tive, nem terei, vínculos com o Partido Comunista de Cuba. Sou cristã desde o ano de 2018 e tenho provas que sustentam isso", insiste.
Além disso, ressalta que sabe que, como o dele, há muitos mais casos de famílias cubanas que estão passando pela mesma situação. "Estão nos afetando de maneira arbitrária, sem que exista uma justificativa real, e isso está causando uma profunda dor e impotência".
"Pedimos que se diga a verdade sobre o que está acontecendo. Não somos comunistas e não vamos ficar calados. Vamos continuar levantando a voz para que o mundo saiba o que realmente está acontecendo", dizem, mostrando seu descontentamento com a abordagem que foi dada ao tema.
E por último, há uma terceira carta enviada a esta plataforma que explica que "já é a segunda vez que um cidadão afetado injustamente pelas novas medidas adotadas na Embaixada dos EUA em Havana narra o que aconteceu e tentam minimizar a realidade. Eu sou uma das afetadas e estão nos acusando de algo que não somos. Trabalhar em entidades estatais está nos custando caro. Em Cuba não há propriedade privada. Aqui tudo pertence ao Estado, até as Mpymes. Eu sou professora de Inglês, nunca fui, nem sou nem serei comunista e isso pode ser confirmado", concluiu.
A declaração de Mike Hammer
As queixas surgem devido ao fato de que a Embaixada dos Estados Unidos em Havana reforçou os controles na emissão de vistos para a reunificação familiar, aplicando com maior rigidez as leis migratórias americanas. Essa medida foi pensada para impedir a emigração de pessoas com laços recentes com o Partido Comunista de Cuba (PCC) ou com instituições estatais, mesmo que não tenham sido militantes ativos.
Durante uma coletiva de imprensa em Miami, Mike Hammer explicou nesta sexta-feira, 23 de maio, que o objetivo dessa seleção é evitar que pessoas consideradas repressoras desfrutem de liberdades nos EUA. "Queremos evitar que os repressoras estejam pelas ruas de South Beach, tomando um mojito. Isso não pode ser, não é justo", afirmou Hammer.
A decisão gerou preocupação entre as famílias cubanas que, apesar de cumprirem os requisitos legais, veem seus pedidos rejeitados. Advogados de imigração em Miami confirmam que há dezenas de afetados por essas novas políticas, interpretadas como um padrão de exclusão baseado em critérios trabalhistas mais do que políticos.
Consultado sobre o tema, o advogado Willy Allen, especialista em Imigração na Flórida, classificou como "preocupantes" essas negações de vistos na Embaixada dos EUA em Havana.
"Creio que há uma série de pessoas a quem foi negado indevidamente por causa do trabalho que tiveram ou por suspeitas de terem sido membros do Partido Comunista”, disse Allen em resposta a uma pergunta de um internauta no programa de segunda-feira na CiberCuba.
“Eu acredito que deve haver uma forma mais decente de investigar as pessoas e não acusar por acusar, e negar por negar”, acrescentou o especialista.
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