Acadêmicos, artistas e intelectuais de Cuba e do mundo enviam carta de apoio aos estudantes após aumento tarifário da ETECSA

"O estudantado cubano levantou sua voz diante da injustiça. Isso o transformou em alvo da maquinaria repressiva do regime, que já iniciou uma campanha de manipulação informativa", alerta a carta.

Estudante na escadaria da Universidade de Havana (Imagem de referência)Foto © Rádio Reloj

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Mais de cem acadêmicos, artistas, jornalistas e intelectuais cubanos, tanto dentro quanto fora da Ilha, tornaram pública uma carta de apoio aos estudantes universitários que, nos últimos dias, têm protagonizado ações de protesto e chamadas à paralisação acadêmica em resposta ao aumento das tarifas da ETECSA, o monopólio das comunicações cubanas.

A medida, amplamente criticada, obriga a pagar em dólares americanos pelos serviços básicos de acesso à Internet, deixando na prática milhares de pessoas sem acesso a divisas em situação de incomunicação.

O texto da missiva foi enviado para CiberCuba pelos seus promotores, que asseguram que os jovens manifestantes começaram a ser vítimas de ameaças e represálias por parte do governo.

Entre os signatários estão nomes relevantes do âmbito acadêmico, cultural e midiático cubano e de outros países, incluindo professores de universidades como Harvard, Stanford, CUNY, FIU e El Colegio de México.

Além disso, docentes e jornalistas que foram vítimas da repressão do regime cubano, ativistas e artistas reconhecidos como Tania Bruguera, Cirenaica Moreira, Geandy Pavón e Juan Carlos Alom.

"Cuba vive uma situação catastrófica após 66 anos de repressão governamental, extorsão e exílio", destaca a carta.

"Não se trata apenas de um aumento de tarifas ou de um encarecimento súbito das comunicações, mas sim da delegação do pagamento de um serviço público nacional a um exílio que, além disso, fornece o necessário para cobrir as necessidades básicas de medicina e alimentos para muitos residentes da ilha," acrescenta.

Os autores denunciam não apenas o aumento "desproporcional" das tarifas, mas também a estratégia do regime para criminalizar e silenciar qualquer expressão de dissentimento.

"O estudante cubano [...] levantou sua voz diante da opressão, chamando até mesmo para uma greve nacional universitária. Isso o tornou um alvo da máquina repressiva do regime", lê-se no texto, que recorda as manifestações de 11J e prevê uma "perseguição similar" contra os jovens atuais.

Os signatários fazem um apelo à comunidade internacional, acadêmica e não acadêmica, para se pronunciar em defesa dos universitários cubanos e para rejeitar a repressão governamental.

A seguir, CiberCuba reproduz o texto integral do documento e os nomes dos signatários.

Cuba vive uma situação catastrófica após 66 anos de repressão governamental, extorsão e exílio. Hoje, mais uma vez, longe de aliviar a desesperadora situação em que se encontra o povo cubano, que carece dos direitos e serviços mais básicos, o regime da ilha aumentou de forma desproporcional as tarifas telefônicas controladas pelo monopólio estatal Etecsa, que a partir de agora deverão ser pagas em dólares americanos. Não se trata apenas de um aumento de tarifas ou súbito encarecimento das comunicações, mas da delegação do pagamento de um serviço público nacional a um exílio que, além disso, provê o necessário para cobrir as necessidades básicas de medicamentos e alimentos para muitos residentes na ilha. Uma medida, ainda, que deixará incomunicados aqueles que não tiverem um familiar no exterior que possa pagar as novas tarifas.

Pela primeira vez em décadas, o estudantado cubano, honrando antigas tradições republicanas de participação nos assuntos políticos e sociais, levantou sua voz diante do atropelo, chamando até mesmo para uma greve nacional universitária. Isso o tornou um alvo da máquina repressiva do regime, que já iniciou uma campanha de manipulação informativa, o que leva a crer que poderá ocorrer uma perseguição semelhante à que foi empregada contra os protestos de julho de 2021, pelos quais ainda centenas de pessoas estão presas.

Os signatários desta carta, acadêmicos e intelectuais de todo o mundo, queremos tornar público nosso apoio e solidariedade com os estudantes da ilha e fazer um apelo à comunidade internacional para defender os estudantes e professores das represálias que estão sofrendo por tornarem públicas suas reivindicações".

Firmas:

Achy Obejas, escritora

Adrián Morales Rodríguez, músico e artista plástico

Ahmel Echevarría Peré, escritor e crítico de arte e literatura

Alejandro Alonso, Brooklyn College

Alejandro de la Fuente, Universidade de Harvard

Alejandro González Acosta, Universidade Nacional Autônoma do México

Alexis Romay, escritor

Alfredo Triff, Universidade de Miami

Alina Bárbara López, historiadora e ativista

Alicia Llarena, Universidade de Las Palmas de Gran Canária

Anabel López-García, Universidade de Nova York

Anamely Ramos González, Universidade de Illinois (UIC)

Anastasia Valecce, Spelman College

Anke Birkenmaier, Universidade de Indiana, Bloomington

Ana Belén Martín Sevillano, Université de Montréal

Aníbal Pérez López, escritor e jornalista

Ariel Arjona Hernandez, Universidade de Minnesota

Ariel Ruiz Urquiola, Universidade de Berna

Armando Chaguaceda, politólogo

Arsenio Rodríguez Quintana, escritor

Boris González Arenas, jornalista

Caridad Brioso, engenheira

Carlos A. Aguilera, escritor

Carlos Manuel Álvarez, jornalista

Carla Gloria Colomé, jornalista

Caterina Camastra, Universidade Nacional Autônoma do México–Morelia

Cecilia Borroto López, Universidade de Houston

Cirenaica Moreira, artista

Ciro Quintana, artista

Claudia González Marrero, historiadora

Coco Fusco, The Cooper Union para o Avanço da Ciência e da Arte

Consuelo Martínez-Reyes, Universidade Macquarie

Daniel Cruces, escritor

Dairen Zamora, Universidade da Flórida

Damaris Puñales, Case Western Reserve University

Daylet Domínguez, Universidade da Califórnia, Berkeley

Dean Luis Reyes, crítico de cinema e docente

Dennys Matos, curador e ensaísta

Desiree Diaz, Swarthmore College

Diley Hernández, Instituto de Tecnologia da Geórgia

Dunielys Díaz, Universidade de Concepción

Eduardo López-Collazo, UNIE Universidade e AC Latinoamericana

Elaine Acosta González, Florida International University

Elaine Díaz, jornalista

Elena González, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Elena Martínez, Baruch College, CUNY

Elena Valdez, Christopher Newport University

Elzbieta Sklodowska, Universidade de Washington

Enrico Mario Santí, ensaísta e escritor

Enrique Del Risco, Universidade de Nova Iorque

Ernesto Menéndez-Conde, Hunter College, CUNY

Esther María Hernández Arocha, Claremont McKenna College

Evelyn Sosa, fotógrafa

Eyda Merediz, Universidade de Maryland

Francisco García González, escritor

Geandy Pavón, artista

Gerardo Fernández Fe, escritor

Gleyvis Coro Montanet, Universidade Antonio de Nebrija

Guillermina de Ferrari, Universidade de Wisconsin–Madison

Haroldo Dilla, Universidad Arturo Prat

Hugo García González, Universidade de Western Washington

Hugo Pezzini, escritor

Idalia Morejón Arnaiz, Universidade de São Paulo

Indira Pupo, editora

Ivette Falcón, Belen Jesuit Preparatory School

Ivette Leyva, jornalista

Jacobo Machover, Avignon Université

Jeannine Diego, Universidade da Comunidade da Virgínia

Jenny Victoria Pantoja Torres, antropóloga

Jorge Brioso, Carleton College

Jorge Ferrer, escritor

Jorge Fernández Era, escritor

Jorge Salcedo Maspons, escritor

José del Valle, The Graduate Center, CUNY

José Jasán Nieves, jornalista

José María Herrera, escritor

José Raúl Gallego Ramos, jornalista

José Ramón Ruisánchez, Universidade de Houston

Juan Carlos Alom, fotógrafo

Juan Carlos Quintero Herencia, Universidade de Maryland

Juan Miguel Pozo, artista

Julio Llopiz-Casal, artista

Justo Planas, Le Moyne College

Katie Coldiron, Florida International University

Kelly Martínez-Grandall, escritora

Kenya C. Dworkin, Universidade Carnegie Mellon

Lázaro González, Universidade da Califórnia, Berkeley

Legna Rodríguez Iglesias, escritora

Leonardo M. Fernández Otaño, Universidade de Alcalá, Observatório de Liberdade Acadêmica

Leticia Sánchez, artista

Lisa Surwillo, Universidade de Stanford

Lizabel Monica, escritora

Lleny Díaz, escritora

Lourdes Davila, Universidade de Nova York

Luis Felipe Rojas, jornalista

Mabel Cuesta, Universidade de Houston

Maite Hernández-Lorenzo, Universidade de Miami

Manuel Barcia, Universidade de Bath

María A. Cabrera Arús, Universidade de Nova York

María Caridad Cumaná, Universidade Tulane

María Elena Hernández Caballero, escritora

María Hernández, Hunter College, City University of New York

María Isabel Alfonso, Universidade de St. Joseph

María Moreno, Universidad Autónoma Metropolitana–Cuajimalpa

Marial Iglesias Utset, Universidade de Harvard

Marlene Azor Hernández, acadêmica e ativista

Maybel Mesa, Lycoming College

Melissa C. Novo, Universidade de Guadalajara

Michel Mendoza, City University of New York

Mireya Goñi, escritora

Mirta Suquet, Université de Susquehanna

Mónica Baró, Universidade de Miami

Monica Simal, Providence College

Néstor Arenas, artista

Nils Longueira, Universidade Estadual da Califórnia, Fullerton

Olga Romero Mestas, Florida State University

Omara I. Ruiz Urquiola, Observatório de Liberdade Acadêmica (OLA)

Orlando Luis Pardo Lazo, escritor

Osvaldo Cleger, Instituto de Tecnologia da Geórgia

Pablo J. Hernández González, Universidade Interamericana de Porto Rico

Pablo Ruiz, Universidade Tufts

Patricia Quintana Lantigua, Universidad Autónoma de San Luis Potosí

Pavel Giroud, cineasta

Rafael Díaz Casas, crítico e curador de arte

Rafael Rojas, El Colegio de México

Rafael de la Uz, fotógrafo

Rachel Hynson, historiadora

Ricardo Ramos Tremolada, escritor

Roberto García, engenheiro

Rolando Sánchez Mejías, escritor

Rosa Marquetti, historiadora musical

Rubén Cruces, artista

Sharina Maillo-Pozo, professora pesquisadora

Silvia López, Carleton College

Tania Bruguera, Universidade Harvard

Tania Pérez Cano, Universidade de Massachusetts, Dartmouth

Ted Henken, Baruch College, CUNY

Teresa Arsuaga, advogada

Teresa Ayuso Morales, artista

Vincent Bloch, Universidade Fordham

Vilma Vidal, Universidade Concordia

Walfrido Dorta, Susquehanna University

Wilfredo Cancio Isla, jornalista

William Kelly, historiador

Xavier Tavera Castro, Carletton College

Yansi Pérez, Carleton College

Yoandy Cabrera, Rockford University

Perguntas frequentes sobre os protestos estudantis em Cuba pela tarifa da ETECSA

Por que os estudantes cubanos estão protestando contra a ETECSA?

Os estudantes cubanos estão protestando contra o aumento desproporcional das tarifas da ETECSA, que obrigam a pagar em dólares pelos serviços de acesso à Internet. Consideram que essas medidas são injustas e excludentes, pois agravam a desigualdade e deixam muitas pessoas sem comunicação, que não têm acesso a divisas. Além disso, essas tarifas limitam o acesso à informação e à educação, afetando gravemente a comunidade universitária.

De que maneira o governo cubano tem respondido às protestas estudantis?

O governo cubano respondeu aos protestos estudantis com ameaças e represálias. Os manifestantes foram vítimas de ameaças por parte do regime, e uma campanha de manipulação informativa foi iniciada para silenciar qualquer expressão de dissenso. Além disso, as autoridades universitárias rejeitaram as greves e reafirmaram seu apoio ao Partido Comunista de Cuba, tentando deslegitimar os protestos.

Quais demandas os estudantes cubanos fizeram em resposta ao aumento de tarifas da ETECSA?

Os estudantes cubanos exigiram a revogação imediata das medidas tarifárias impostas pela ETECSA, juntamente com a melhoria do serviço de Wi-Fi universitário e a eliminação dos limites de download. Eles também demandam uma auditoria pública da ETECSA, transparência no uso de suas receitas e a criação de uma comissão multidisciplinar para redesenhar a política de conectividade.

Que apoio os estudantes cubanos receberam em suas protestas contra a ETECSA?

Os estudantes cubanos receberam apoio de acadêmicos, artistas e intelectuais dentro e fora da Ilha. Mais de cem pessoas de renome assinaram uma carta de apoio aos estudantes, denunciando a repressão governamental e convocando a comunidade internacional a se pronunciar em defesa dos universitários. Além disso, o Observatório de Liberdade Acadêmica apoiou as reivindicações estudantis e alertou sobre possíveis represálias.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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