Direção da FEU acusa "inimigos da revolução" de alterar a vida universitária: "Não vamos permitir"

O presidente da FEU afirma que meios independentes e "marionetes de opinião" promovem o "ódio" e a "traição" em torno do conflito universitário, e que existem "diálogos de respeito e propostas".

Raúl Alejandro Palmero Fernández e Ricardo Rodríguez GonzálezFoto © Facebook / Raúl Alejandro Palmero Fernández - Ricardo Rodríguez González

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Em meio ao crescente descontentamento estudantil pelas tarifas impostas pela ETECSA, dirigentes da Federação Estudantil Universitária (FEU) e da União de Jovens Comunistas (UJC) elevam o tom de suas declarações, acusando os "inimigos da Revolução" de manipular o clima universitário e de tentar "desestabilizar" a vida acadêmica em Cuba.

Em um comunicado, a FEU da Universidade de Havana afirma que continuará "impulsionando o diálogo" com os alunos e rejeita o que considera uma campanha de manipulação midiática destinada a fracturar a unidade do movimento estudantil.

"Apoyamos nosso corpo estudantil, mas rejeitamos a manipulação midiática, as tentativas de alterar a normalidade da vida universitária (...). A FEU é uma e continuará sendo revolucionária”, diz o texto compartilhado por Raúl Alejandro Palmero, primeiro secretário da UJC em Havana.

Captura de Facebook / Raúl Alejandro Palmero Fernández

Na mesma linha, o presidente nacional da FEU, Ricardo Rodríguez González, militante do PCC, publicou um texto em que acusa meios contrários ao regime e "fantoches de opinião" de promover o "ódio" e a "traição" em torno do que chamou de "diálogos de respeito e propostas" na universidade.

Captura do Facebook / Ricardo Rodríguez González

Rodríguez denunciou pressões sobre líderes estudantis alinhados ao governo, aos quais -disse- se tenta obrigar a tomar decisões contrárias à ordem institucional e à "tranquilidade" das universidades.

"Estão manipulando vilmente nossa história e não vamos permitir. Basta", sentenciou. "Nossos espaços são autênticos. Aqui estou eu para continuar fazendo a Revolução pela qual morreram nossos mártires."

O desemprego universitário e as divisões internas

As declarações ocorrem em um contexto de mobilização sem precedentes dentro das universidades cubanas, em decorrência de novas restrições impostas pela ETECSA, que limita o serviço em pesos cubanos enquanto oferece planos mais amplos em dólares.

Diante da indignação generalizada, a ETECSA anunciou como resposta parcial um pacote adicional de 6 GB por 360 CUP, exclusivamente para estudantes universitários, juntamente com o acesso gratuito a mais de 40 sites educativos.

Mas os universitários rejeitam os pacotes de dados móveis exclusivos para eles e enfatizam que não buscam privilégios setoriais, mas sim justiça social e equidade no acesso à Internet para todos os cidadãos.

O ponto de maior tensão foi a convocação de um paro acadêmico indefinido por parte de alunos de Matemática e Computação da Universidade de Havana, ao qual se somaram as faculdades de Filosofia, História, Sociologia e Trabalho Social, entre outras.

Também exigiram a renúncia de Ricardo Rodríguez González por sua incapacidade de representar os estudantes.

Fratura na narrativa oficialista

Enquanto setores estudantis reivindicam diálogo horizontal, transparência e medidas inclusivas, as recentes declarações da liderança da FEU e da Universidade de Havana indicam uma postura cada vez mais fechada, alinhada com os discursos tradicionais do poder.

A acusação de ingerência externa e manipulação midiática, comum nos pronunciamentos governamentais, contrasta com o tom deliberativo, crítico e propositivo das declarações emitidas por diferentes faculdades universitárias.

O conflito também expõe uma fratura geracional e ideológica dentro das próprias estruturas do sistema educacional cubano, com uma juventude que exige ser ouvida sem filtros nem tutelas, e uma liderança que teme perder o controle.

Enquanto isso, o descontentamento estudiantil continua crescendo e acumulando apoio dentro e fora de Cuba, em uma conjuntura que alguns analistas comparam a momentos-chave de mobilização universitária na história do país.

Como apontou recentemente o acadêmico José Raúl Gallego, "tomara que a universidade recupere o lugar que teve antigamente na história de Cuba". A próxima batalha pode ser decidida, mais uma vez, a partir das salas de aula.

Perguntas frequentes sobre os protestos estudantis em Cuba e as tarifas da ETECSA

Por que estão ocorrendo protestos estudantis em Cuba?

As protestas estudantis em Cuba foram desencadeadas pelas novas tarifas impostas pela ETECSA, que limitam as recargas nacionais a 360 CUP mensais. Essas medidas têm sido vistas como insuficientes e afetam o acesso à internet, considerado essencial para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos estudantes. As restrições também foram criticadas por seu impacto econômico e social em um contexto de crise em Cuba.

Quais medidas a ETECSA tomou em resposta às protestas?

ETECSA anunciou um pacote adicional de 6 GB por 360 CUP para estudantes universitários, totalizando 12 GB mensais. Também foi oferecido acesso gratuito a mais de 40 sites educacionais. No entanto, essas ações foram classificadas como insuficientes por muitos estudantes que exigem uma reavaliação estrutural das tarifas e da conectividade na ilha.

Qual tem sido a postura da FEU em relação aos protestos e às tarifas da ETECSA?

A Federação Estudantil Universitária (FEU) emitiu comunicados nos quais, embora assegure apoiar o diálogo com os estudantes, acusou os "inimigos da Revolução" de manipular o descontentamento estudantil. A FEU tem sido criticada por seu alinhamento com o governo, e muitos estudantes expressaram desconfiança em relação à organização, percebendo-a como uma extensão do poder político e não como um verdadeiro representante de seus interesses.

Qual é o impacto das tarifas da ETECSA na educação em Cuba?

As tarifas da ETECSA limitam significativamente o acesso à internet para estudantes e professores, afetando sua capacidade de acessar materiais de estudo, realizar pesquisas e manter comunicação com tutores e colegas. Essas restrições são consideradas um obstáculo para o avanço educacional e contradizem as políticas de digitalização promovidas pelo Estado cubano.

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