Cubana nos EUA anuncia sua decisão de se autodeportar: "Não é covardia, é que não me adaptei"

"Isto é uma fábrica de velhos, aqui se trabalha, se paga, a família praticamente não se visita; este país é bem duro."


Uma cubana identificada como @miricubana1 no TikTok anunciou nessa rede social sua decisão de voltar a Cuba após não conseguir se adaptar à vida nos Estados Unidos. A jovem afirma que irá se beneficiar do plano promovido por Donald Trump, que oferece mil dólares e o bilhete de avião para os imigrantes que decidirem retornar voluntariamente aos seus países de origem.

“Depois de vários meses em que fiz meus primeiros vídeos dizendo que ia para Cuba, chegou o momento, agora sim vou me embora em alguns dias”, afirmou em seu vídeo. “Vou mostrar vídeos no avião, eu no avião, no aeroporto, etc.”, acrescentou.

A cubana mencionou explicitamente o programa de autodeportação: “Vocês devem ter visto a lei que o Trump está dando $1.000 e o bilhete de avião. Eu vou embora, vou me autodeportar dessa maneira. Na verdade, já entrei no aplicativo, fiz tudo o que tinha que fazer”.

“Eu não consegui me adaptar a este país”, insistiu. “As pessoas dizem que isso é a maravilha do mundo e tudo, mas eu não vejo maravilha nenhuma. Isso é ainda mais difícil se você está longe da sua família. Aqui é uma fábrica de velhos, aqui se trabalha, paga, e a família praticamente não se visita. Este país é bem duro.”

“Eu não vou continuar forçando minha vida a ser infeliz, viver deprimida, viver sentindo falta do país das maravilhas. Vou voltar em alguns dias... Não é covardia, é que eu não me adaptei, não me sinto bem, não me foi bem e quero ir embora. Este país não é para mim”, concluiu em sua mensagem.

A publicação gerou uma avalanche de comentários no TikTok, onde se misturaram mensagens de apoio, críticas e reflexões sobre a experiência migratória.

“Decisão corajosa, todos nós não nos adaptamos”, escreveu um usuário. Outra pessoa apontou: “Onde você se sente feliz é onde deve estar, na verdade nossa terra é Cuba”. Também houve quem opinasse: “Nem por 10 mil eu volto atrás, nem para pegar impulso”.

Outros usuários, no entanto, mostraram ceticismo: “Depois faça o vídeo também se você se arrepender ou a que vai se dedicar em Cuba para sobreviver”. Enquanto uma usuária comentou: “Tomara que você não se arrependa quando estiver lá”.

Um dos comentários mais polêmicos foi: “Que bom que você vai passar fome”, ao qual a cubana respondeu com um segundo vídeo em um tom firme, mas sem perder a compostura.

"Minha resposta a você vai ser a mais educada do mundo", disse no início do novo vídeo. "Tenho 32 anos, estou aqui há um ano e meio. Vim para cá com 31. Nunca passei fome, nunca, nunca, nunca. Me lembro que havia dias em que, quando era criança, tinha que comer arroz branco, mas eu comia com uma felicidade."

“De que te serve ter iguarias e o coração vazio? De que te serve ter o que se tem por ter e não se sentir completa, não se sentir feliz, não se sentir à vontade?”, perguntou-se.

E terminou com uma declaração direta: “Posso até ir comer um arroz branco com ovo, mas feliz, com minha família, com meus filhos. Então é um arroz e ovo, mas não vou me sentir sozinha, não vou chorar à noite sozinha. Não sei como te explicar isso, porque talvez você não tenha cérebro para entender isso. Beijinhos e bênçãos.”

Este segundo vídeo também gerou uma onda de reações. Muitos usuários a parabenizaram pela forma como respondeu e por priorizar seu bem-estar emocional e familiar. “Boa resposta, ficou perfeita”, comentou uma usuária. Outra escreveu: “Prefiro um ovo com amor do que um frango com dor”.

Outros acrescentaram: “A crítica está se tornando cada vez mais comum, seja feliz onde você quiser”; “Entendo você perfeitamente, a vida é uma só”; “Só você sabe o que está vivendo, cada pessoa é um mundo diferente.”

O caso de @miricubana1 se insere em um contexto mais amplo de cubanos que decidiram retornar à ilha nos últimos meses. Em março, Lisandra Acevedo, outra cubana em Miami, também anunciou seu retorno a Cuba com sua filha, alegando falta de emprego e moradia. “Estou voltando a Cuba com minha filha, não porque quero, mas porque não tenho alternativa”, disse então.

Seu caso foi acompanhado por novos vídeos onde refletia sobre sua decisão, que em um momento pensou em reverter, mas acabou voltando. “Aqui estou, em Cuba, já faz alguns dias, mas até agora consigo me conectar”, disse da ilha em abril.

A proposta de autodeportação foi anunciada por Trump este 5 de maio, e foi destacada por autoridades como “uma saída digna” para imigrantes em situação irregular. Em troca de se registrarem no aplicativo CBP Home e deixarem o país voluntariamente, o plano oferece mil dólares e um bilhete de avião.

No entanto, outro cubano nos EUA rejeitou publicamente a oferta, classificando-a como insuficiente. Advogados de imigração alertam que optar por essa alternativa pode ter consequências legais a longo prazo, incluindo sanções de até 20 anos sem poder ingressar novamente nos Estados Unidos.

Enquanto isso, casos como o de @miricubana1 continuam gerando debates nas redes sociais sobre o preço emocional da migração, a pressão para se adaptar em um novo país e o direito de cada pessoa de tomar a decisão que achar melhor para sua vida.

Perguntas frequentes sobre a autodeportação e a emigração cubana nos Estados Unidos

O que é o programa de auto-deportação promovido por Donald Trump?

O programa de autodeportação é uma iniciativa que oferece mil dólares e um bilhete de avião para os imigrantes que decidirem retornar voluntariamente aos seus países de origem. Este programa foi anunciado por Trump e busca reduzir os custos associados às deportações tradicionais. No entanto, aceitar esta opção pode trazer consequências legais a longo prazo, como sanções que impedem o retorno aos Estados Unidos por vários anos.

Quais são as razões pelas quais alguns cubanos decidem retornar a Cuba dos Estados Unidos?

Muitos cubanos retornam a Cuba devido à dificuldade de se adaptarem à vida nos Estados Unidos e por razões emocionais e familiares. A distância de seus entes queridos, a dificuldade de se adaptar a um novo ambiente e as expectativas não atendidas em relação a oportunidades de trabalho e qualidade de vida são fatores comuns que motivam essa decisão.

Quais desafios enfrentam os cubanos que decidem se autodeportar?

Os cubanos que optam pela autodeportação podem enfrentar sanções migratórias severas que os impeçam de retornar aos Estados Unidos por até 20 anos. Além disso, devem considerar as implicações emocionais e econômicas de voltar a um país onde a situação é precária. É importante que consultem advogados de imigração antes de tomar essa decisão.

Como são percebidas as medidas migratórias de Trump entre os cubanos nos Estados Unidos?

As medidas migratórias de Trump geram opiniões divididas entre os cubanos nos Estados Unidos. Enquanto alguns consideram que essas políticas são necessárias para manter a ordem, outros as veem como prejudiciais para os imigrantes e o povo cubano, pois não afetam diretamente o governo cubano, mas sim seus cidadãos.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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