A ativista cubano-espanhola María Eugenia Gutiérrez participou neste 27 de abril na Maratona de Madrid com um objetivo além do desportivo: exigir a libertação dos prisioneiros políticos em Cuba.
Hija do ex-prisioneiro político Vicente Gutiérrez, a também jornalista dedicou cada quilômetro dos 42,195 percorridos aos centenas de cubanos encarcerados por motivos de consciência na Ilha.
Em uma mensagem emotiva divulgada no Instagram, Gutiérrez explicou que, embora tenha participado de outras maratonas, esta corrida foi particularmente significativa. "Cada quilômetro será um ato de solidariedade e a cada passo levarei sua força e seu exemplo", assegurou.
A ativista, que reside na Espanha desde criança, confessou que a difícil rota madrilenha representaria um desafio físico e emocional, mas que a dignidade e a resistência dos presos políticos seriam sua inspiração para alcançar a meta.
"Chegou. A ativista Eugenia Gutiérrez conseguiu. Ela abriu espaço na Maratona de Madrid para amplificar o clamor pela liberdade dos presos políticos em Cuba e pelo apoio à sua terrível condição nas prisões do nosso país. O #NoLosAbandonemos ressoou. Vamos agora aumentar seu alcance e volume", publicou em suas redes sociais o Conselho para a Transição Democrática em Cuba (CTDC).
Gutiérrez também aproveitou a oportunidade para promover a campanha "Não os abandonemos", uma iniciativa de arrecadação de fundos para apoiar os presos políticos e suas famílias em Cuba. Segundo o meio independente Diario de Cuba, o dinheiro arrecadado —através do PayPal, transferências bancárias e Bizum— será destinado a cobrir necessidades básicas como alimentação, medicamentos e transporte para as visitas familiares.
A ativista, membro do CTDC e do Partido Democrata Cristão, trabalha em estreita colaboração com José Daniel Ferrer, prisioneiro de consciência e presidente do CTDC. Juntos buscam dar visibilidade à crítica situação dos prisioneiros políticos, que sofrem maus-tratos, carências de todo tipo e repressão constante dentro das prisões cubanas.
A participação de Gutiérrez ocorreu no contexto de uma das edições mais concorridas da Maratona de Madrid. Cerca de 45.000 corredores de todo o mundo tomaram as ruas da capital espanhola na 47ª edição do evento, conhecido como Zurich Rock 'n' Roll Running Series.
Desse total, cerca de 13.000 disputaram o maratona completa, enquanto outros 23.000 competiram no meio maratona e 9.000 na modalidade de 10 quilômetros. O evento reuniu atletas de até 116 países, com uma alta representação da França, Reino Unido, Itália, Alemanha e Estados Unidos.
No ámbito desportivo, o etíope Derara Hurisa consagrou-se vencedor da maratona com um tempo de 2:09:08, seguido pelo seu compatriota Limenih Getachew e o madrileno Yago Rojo, que alcançou uma notável terceira posição. Na categoria feminina, a etíope Maritu Ketema ganhou a prova com um tempo de 2:25:55.
Para garantir a segurança durante o evento, a Polícia Municipal desplegou cerca de 700 agentes em diferentes pontos do percurso.
O ativismo de Gutiérrez não é recente. Em abril de 2023, fez parte do grupo de ativistas cubanos que protestaram diante da sede do jornal El País em Madrid.
A protesto surgiu após a publicação de um artigo que minimizava as dificuldades da população cubana para promover o turismo na Ilha. Gutiérrez, junto a outros opositores reconhecidos, entregou uma carta de protesto na qual denunciavam os vieses da cobertura midiática que normalizava a crise cubana e ignorava as violações dos direitos humanos. “Teu paraíso, minha prisão”, foi a contundente mensagem que enviaram ao periódico espanhol.
"Quando chegar o momento mais difícil da corrida, pensarei em vocês", expressou Gutiérrez antes de iniciar o maratona, reafirmando seu compromisso não apenas esportivo, mas também político. Para ela, a corrida em Madrid foi mais do que um desafio pessoal: constituiu um ato de resistência simbólica e uma voz em favor dos silenciados.
A ativista enfatizou que, embora a campanha busque atender às necessidades imediatas dos presos, o objetivo final é conseguir sua liberação por meio de uma lei de anistia e da despenalização do dissenso em Cuba. "Uma coisa é a solução política, e outra é a realidade atual dos presos políticos. Por isso, é preciso tentar ajudá-los ao máximo possível", afirmou.
A participação de María Eugenia Gutiérrez na Maratona de Madrid se soma a uma série de ações internacionais que buscam manter viva a causa dos prisioneiros políticos cubanos e lembrar que sua luta não deve cair no esquecimento.
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