Esquecido pelo sistema, um professor aposentado recolhe latas em Holguín para sobreviver

Genildo, um professor aposentado de 80 anos, sobrevive em condições extremas junto com sua esposa Esther, também exeducadora, e seu filho com deficiência, em Holguín. Diante da precária situação familiar, vários de seus antigos alunos se organizam para oferecer ajuda.


Genildo era muito mais do que um professor: foi guia e conselheiro para gerações de adolescentes e jovens que passaram pelo Instituto Preuniversitário Vocacional de Ciências Exatas (IPVCE) José Martí, na cidade de Holguín; mas hoje, aposentado e doente, sobrevive recolhendo latas vazias e realizando qualquer trabalho que lhe permita levar algo para casa.

Assim revelou nas redes sociais Saydanys Góngora, ex-aluna, que relatou o impacto de reencontrar seu antigo professor no meio da rua: “O que meus olhos viram, por mais que me esforce, não consigo descrever”.

“Hacia nós vinha caminhando um homem mais velho, roupa e sapatos rasgados, um saco na mão com algo dentro (provavelmente latas e frascos vazios), um pedaço de madeira suja na outra (simulando uma bengala). Era Genildo”, expôs Góngora em uma publicação do grupo IPVCE José Martí Pérez no Facebook.

Captura do post no Facebook/IPVCE José Martí Pérez

“Também vi desespero e resignação, tristeza, vergonha”, confessou a ex-aluna. “Consegui cumprimentá-lo com um... ¡professor querido! Ele desviou o olhar primeiro e depois me sorriu e apenas disse... aqui, filha, sobrevivendo”.

De acordo com o testemunho de Góngora, Genildo e sua esposa, a professora aposentada Esther, “recolhem latas, fazem de mensageiros, limpam casas, pátios, qualquer coisa que lhes permita comer, vivem o dia a dia, como podem, porque a saúde não lhes permite mais”.

E acrescentou emocionada: “Vivem mal, muito mal. E deram tanto! Não sei, irmãos, se todos unidos podemos fazer algo por eles. Oxalá. Eles precisam.”

Outra ex-aluna que visitou recentemente a casa de Genildo e pediu para que seu nome fosse reservado, contou à CiberCuba que a família "sobrevive o mês inteiro com cerca de 5.000 pesos (CUP): o cheque de Esther, sua companheira há mais de 50 anos, é de 1.578; 1.500 do filho com deficiência, e pouco mais de 2.000 do professor Genildo".

“Alguns vizinhos os ajudam com o que podem. Lembro que, enquanto falávamos, chegou uma vizinha com um pacotinho de café. Mais tarde, outra trouxe alguns pimentões e alguns bananas-da-terra. São gestos mínimos que, nesse contexto, parecem enormes”, ilustrou.

Retribuir tudo o que fez por nós

O drama do professor Genildo, de 80 anos, comoveu ex-alunos, ex-professores e pessoas que o lembram com admiração. Muitos o descrevem como um educador que deixou marcas. Juan Carlos Reynaldo Espinosa escreveu: “Um professor incrível e uma excelente pessoa. Sempre o lembro”.

Yosvany Batista o considerou, além de seu professor, “meu amigo e como um pai… sou da geração 1997-2000, meu grupo em geral tem tentado apoiá-lo de diversas maneiras”. Ele exortou a refletir não apenas “sobre esta situação, mas também a de outros queridos professores que nos deram tanto e receberam pouco ou simplesmente nada, contem comigo e que outros amigos e estudantes se unam a esta causa”.

A ex-aluna Aliuska García Cruz, também da turma de 2000, compartilhou um momento que a marcou: “Encontrei o professor Genildo há oito anos, ele mencionou meu nome completo e o número do grupo… O que fizermos será pouco para tudo o que ele entregou”.

Desde a vizinha província de Granma, Estela Pérez Guevara expressou: “Estou disposta a ajudar. Por favor, se há algo que possamos fazer, me avisem”, enquanto Sara Liz Ricardo Suárez propôs coordenar uma ajuda coletiva: “Se nos facilitarem um cartão, podemos depositar dinheiro e visitá-los”.

Mahilen Montaña, outra ex-aluna, explicou que há mais de um ano uma rede de ex-estudantes oferece ajuda econômica a Genildo e Esther, por meio de algumas compras que levam até a casa deles. “Este ano comemoramos seu aniversário, sabemos que não é suficiente, mas é uma forma de retribuir tudo o que ele fez por nós. O professor não está sozinho, ele nos tem e a todos que o lembram”, detalhou.

Outros comentários, no entanto, foram além ao apontar um dos problemas que afetam centenas de milhares de pessoas idosas em Cuba. Maribel González Calzadilla criticou as aposentadorias miseráveis que muitos têm: “É uma pena, uma vergonha, uma lástima que agora sejam indigentes enganados”.

Em sintonia, Yanelys Castellano Elías afirmou que “todo o que os aposentados vivem é penoso, depois de contribuir com o melhor de si para a sociedade, são recompensados com essa ingratidão, sendo abandonados à própria sorte porque não conseguem ter uma aposentadoria digna”.

Yasmani MP e Harley Finalé Blanco foram mais duros. “A ‘revolução’ os explora e depois os descarta”, escreveu o primeiro, enquanto o outro complementou: “Isso se chama Comunismo… Resultado de dedicar toda a sua vida ao magistério por um salário miserável e por uma aposentadoria ainda pior, Fidel enganou e estafou a todos, com promessas de um amanhã melhor… e deixou as pessoas como Genildo, que deram toda a sua vida por uma causa com as mãos vazias”.

Entre a escassez e a desesperança

Segundo dados oficiais publicados em outubro passado, o 39% dos aposentados em Cuba recebe a pensão mínima de 1.528 CUP mensais, equivalentes a cerca de quatro dólares na cotação informal.

No contexto de inflação galopante, escassez e aumento dos preços dos produtos básicos, essa quantia não cobre nem uma dieta mínima: uma libra de arroz (200 CUP), uma libra de feijão preto (300 CUP), três ovos (100 CUP cada um), um pacote de carne moída (600 CUP) e dois dentes de alho (40 CUP). De fato, um quilograma de leite em pó pode custar até 1.800 CUP.

Em fevereiro, o escritor cubano Eider Matos narrou o encontro com uma idosa em Havana que confessou que sua pensão de professora não era suficiente “nem para o luxo de comer tomates”.

Há um ano, tornou-se conhecido o caso de dois idosos cubanos que vivem em extrema pobreza, também na província de Holguín.

Miles de aposentados, sem apoio exterior nem recursos adicionais, recorrem a buscar no lixo, coletando matérias-primas para sobreviver ou dependendo da caridade de transeuntes.

Em datas recentes, a imprensa oficialista se referiu à crescente quantidade de mendigos nas ruas, mas em vez de reconhecer a parte da responsabilidade governamental no crescimento exponencial da pobreza em Cuba, o regime optou por transferir tal responsabilidade para as famílias cubanas.

Perguntas frequentes sobre a situação dos aposentados em Cuba

Como os aposentados em Cuba sobrevive com pensões tão baixas?

Muitos aposentados em Cuba sobrevivem recorrendo a trabalhos informais, como coletar latas, limpar casas ou receber ajuda de familiares e vizinhos. A pensão mínima de 1.528 CUP (aproximadamente quatro dólares) é insuficiente para cobrir necessidades básicas devido à inflação e à escassez de produtos.

Qual é o impacto da crise econômica na população cubana?

A crise econômica levou a um aumento significativo da pobreza extrema em Cuba, afetando 89% das famílias, segundo relatórios recentes. A inflação e a escassez de produtos básicos forçaram muitos a viver em condições de miséria, dependendo da caridade para sobreviver.

Qual é o papel do governo cubano diante da crise dos aposentados?

O governo cubano não implementou soluções efetivas para melhorar as condições de vida dos aposentados. A falta de atenção médica adequada e o deterioro econômico deixaram muitos cidadãos em uma situação de abandono e miséria.

Como a comunidade tem respondido à situação dos idosos em Cuba?

A comunidade, tanto local quanto no exterior, tem demonstrado solidariedade com os idosos cubanos por meio de doações e redes de apoio. No entanto, essas ações não são suficientes para aliviar a crise generalizada que afeta os aposentados e a população em geral.

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