Mais de 39% dos aposentados cubanos sobrevivem com pensões mínimas.

Quase quatro em cada dez pensionistas recebem na Ilha 1.528 pesos por mês (4,50 euros ou 4,70 dólares na cotação desta semana), segundo os dados oficiais.

CiberCuba © Un jubilado cubano, a las puertas de una bodega.
CiberCubaFoto © Um aposentado cubano, à porta de uma bodega.

Cerca de 39% dos aposentados cubanos recebem a pensão mínima. O dado em si soa mal, mas quando se trocam os porcentagens por números, soa ainda pior. Dos 1,7 milhões de beneficiários que a Segurança Social tem (entre aposentadorias, proteção à maternidade e pessoas com invalidez parcial), quatro em cada dez aposentados recebem 1.528 pesos por mês (entre 4,50 euros e 4,70 dólares, pela taxa de câmbio informal desta semana).

Para que se entenda: um salário mínimo em Cuba (2.100 pesos) equivalia em maio passado a dois quilos de frango. Um pensionista não poderia comprar com sua aposentadoria nem mesmo um quilograma de leite em pó, que há cinco meses custava 1.800 pesos. A consequência direta é que cada vez se vêem mais idosos nas ruas de Havana revendo o lixo e acumulando matérias-primas, para reunir um pouco de dinheiro que lhes permita chegar ao fim do mês.

A cifra de aposentados recebendo a pensão mínima foi confirmada à imprensa oficialista por Virginia Marlene García Reyes, diretora geral de Segurança Social do Ministério do Trabalho e Segurança Social. Conforme explica em declarações ao Cubadebate, o Estado destina 40 milhões de pesos ao pagamento de pensões em meio a uma inflação, que se resistiu a baixar do 30% em 2023.

Justamente os pensionistas são os que mostraram sérias preocupações depois que o Governo de Miguel Díaz-Canel anunciou em setembro o desaparecimento do Instituto Nacional de Segurança Social, com a desculpa de que este serviço será descentralizado para transferir competências aos municípios e províncias.

O discurso oficial assegura que isso é feito com o ânimo de "aligerar o aparelho estatal", mas na prática a batata quente é passada para os territórios, já que pelo menos 39% dos pensionistas cubanos com rendimentos mínimos têm todas as chances de engrossar a lista de pessoas em risco de pobreza extrema.

Especialmente complicada é a situação de quem não tem família no exterior que mande dólares para poder ter acesso a uma dieta balanceada na reta final de suas vidas. Dependem, exclusivamente, do que chega à bodega. Neste mês de outubro, nem café, nem óleo, nem feijão, nem pasta de dente. A própria imprensa oficialista descreve a situação da distribuição de alimentos subsidiados pelo Estado dentro de "um panorama complexo".

Ainda assim, o discurso oficial reitera, já sem um pingo de credibilidade coletiva, que "essa medida não implica deixar a população desprotegida", sob a pretexto de que a Segurança Social é uma "conquista" que querem preservar, embora neste momento nenhuma medida tenha sido tomada nesse sentido. A diretora geral da Segurança Social diz isso de maneira eufemística: "Estamos trabalhando para que essa situação melhore, embora as circunstâncias atuais não permitam mudanças imediatas", reconhece sem dar detalhes sobre a que se refere quando afirma que estão trabalhando nisso.

E na linha de passar a batata quente para os territórios, a funcionária assegura que quem tiver problemas econômicos devido a rendimentos insuficientes, como esses 39% de aposentados que recebem 1.528 pesos por mês, pode se dirigir às direções de trabalho para solicitar ajuda, que será concedida após uma investigação de cada caso, acrescenta sem esclarecer quais requisitos devem ser atendidos para receber essa subsídio, em um país onde 89% da população está em situação de pobreza extrema.

Salário mínimo fixado no final de 2020

Em dezembro de 2020, o governo cubano fixou o salário mínimo em 2.100 pesos cubanos (CUP), cerca de $87 dólares na taxa de câmbio prevista de 24x1, enquanto as pensões foram ditas que oscilariam entre 1.528 ($64) e 1.733 CUP ($72), de acordo com uma resolução do Ministério do Trabalho e Segurança Social (MTSS) publicada na Gazeta Oficial.

Nesse momento, desde CiberCuba foi advertido que o impacto da medida para os cidadãos dependeria dos níveis de inflação durante o processo de unificação monetária, que tem sido desastroso. De fato, o próprio Díaz-Canel reconheceu que tem a intenção de "retificar o reordenamento".

A modificação do método para calcular o valor das pensões por idade e por invalidez total decretada pelo governo cubano tem gerado desde então dúvidas e mal-estar entre aposentados e pensionistas, que denunciam a precariedade em que o Governo os deixou, que encontrou uma solução: os aposentados retornarem ao trabalho. Para isso, foi aprovada uma atualização da Lei de Segurança Social, que permite aos pensionistas reingressar ao trabalho e receber ao mesmo tempo tanto a pensão quanto o salário do cargo ocupado.

O próprio regime reconheceu em junho passado que a inflação está descontrolada e que a situação da economia "continua sendo muito tensa", já que "os preços continuam subindo, embora a um ritmo menor". A agonia continua.

O que você acha?

COMENTAR

Archivado em:

Tania Costa

(La Habana, 1973) vive na Espanha. Dirigiu o periódico espanhol El Faro de Melilla e o FaroTV Melilla. Foi chefe da edição murciana de 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-presidência do Governo da Murcia (Espanha)


Você tem algo a relatar? Escreva para CiberCuba:

editores@cibercuba.com +1 786 3965 689