Familiares de um grupo de cubanas com I-220A detidas no passado dia 10 de março durante uma entrevista com o ICE, em Miramar, no condado de Broward, temem que seus entes queridos sejam deportados para Cuba.
Os esposos de duas delas afirmaram em declarações à Univision que passaram quase 24 horas sem ter informações sobre suas parceiras.
Quando finalmente tiveram notícias, estavam em Arizona, mas apenas de passagem, pois o destino final era um centro de detenção de migrantes em San Diego, no estado de Califórnia.
Ernesto David Puig, esposo de Yadira Cantallops, está angustiado porque tem um filho de dois anos que agora está sob seus cuidados e que não para de perguntar pela mãe.
“Se tocarem à porta, ele sai correndo. Hoje, no daycare, assim que chegou, procurou um telefone que têm lá e começou ‘mamãe’… conversando sozinho”, relatou o homem.
“O medo que você tinha em Cuba, você tem aqui. Eu também tenho I-220A. Se me prenderem, o que acontece com a criança? Ele me pergunta onde está a mamãe e eu digo que está trabalhando. É algo forte”, acrescentou.
O esposo de Yadira Cantallops diz que sua maior preocupação é que o casal seja transferido para a Califórnia e depois deportado para Cuba, sem que possa se defender em um tribunal sobre seu asilo.
Por sua vez, para Lisvani Sánchez, desde a detenção de sua esposa Denice Reyes, que também foi trasladada para a Califórnia, os últimos sete dias têm sido muito difíceis e sem quase dormir.
“Eu preciso dela aqui comigo, isso está me matando”, diz Lisvani.
O jovem relatou que as cubanas foram retiradas às duas da manhã de Broward, levadas para o Aeroporto de Miami e lá embarcadas "em um avião pequeno", rumo ao Arizona.
Sánchez assegurou que junto com Denice, mobilizaram outras mulheres cubanas, uma da Nicarágua e outra do Haiti.
"O que é doloroso é que desde domingo, às nove da manhã, estamos ligando para o centro de detenção e não nos diziam onde eles estavam", acrescentou Lisvani.
Celia Sánchez, mãe Laura de la Caridad González Sánchez -outra das cubanas detidas- indicou que no domingo ligaram para o Centro de Detenção de Broward e disseram que sua filha ainda estava lá.
No entanto, quando um familiar foi até o local, informaram que ela havia sido transferida.
Lo mais preocupante é que no seu caso ele tinha um pedido de asilo pendente em 25 de dezembro e a data de corte foi anulada.
“Ao tirar a corte do sistema, os advogados não têm poder para realizar qualquer tipo de ação”, lamentou a mãe da jovem.
Existe uma quarta cubana documentada no grupo, Beatriz Monteagudo, de 25 anos, que mal tem familiares nos EUA e cuja mãe está desesperada em Cuba.
O que dizem os advogados?
“Não temos certeza exatamente de onde ela vai parar, mas continuamos lutando pela liberdade dela […] É totalmente novo o que está acontecendo. Nem sabemos por que está acontecendo”, diz Eduardo Soto, o advogado de Laura de la Caridad González.
Para o advogado de imigração Jesús Novo, que representa Yadira Cantallops, esta transferência por parte do ICE é uma estratégia das autoridades para dificultar ainda mais o processo dos migrantes e a defesa de seus casos.
O que estão fazendo é negar o acesso aos advogados a essas pessoas. Por exemplo, temos clientes que, estando aqui, seria muito fácil representá-los; eles têm direito a fiança, possivelmente, seria muito difícil que o juiz a negasse, porque possuem todos os elementos para que lhes concedam uma fiança”, diz Novo.
Na noite de segunda-feira, os familiares dessas mulheres não tinham obtido uma resposta sobre se elas já haviam sido transferidas para a Califórnia.
Seus advogados estão aguardando que isso aconteça para determinar quais podem ser os próximos passos no âmbito legal para representar seus clientes.
Congresista María Elvira Salazar dá a cara
A congressista María Elvira Salazar enviou uma mensagem nesta terça-feira aos migrantes com I-220A na qual afirmou que conversou com altos funcionários do ICE e do Departamento de Segurança Nacional (DHS), aos quais pediu "encarecidamente" que não detenham mais cubanos e que permitam que seus casos de asilo sejam ouvidos.
"Estou muito ciente das detenções dos cubanos com I-220A durante suas citações em Miramar e estou investigando a fundo o que está acontecendo", advertiu a congressista cubano-americana no início de uma mensagem calorosa de apoio publicada no X.
“Recentemente conversei com altos funcionários do ICE e do Homeland Security, e pedi encarecidamente que não detenham os cubanos com I-220A e que permitam que seus casos de asilo sejam ouvidos”, acrescentou.
María Elvira lembrou que desde a Administração Biden ela tentou buscar uma solução para os cubanos que estão sob esse status, e insistiu que não vai “deixar de lutar até que seja necessário".
"Vocês podem ter certeza de que não desistirei desta luta e que estou clamando para que lhes seja concedido o 'Parole in Place'", acrescentou.
Subrayou que, embora com a Administração Biden isso não tenha acontecido, diz estar “segura” de que com a Administração Trump uma solução será encontrada.
O que é o formulário I-220A?
O formulário I-220A, conhecido como "Ordem de Liberdade Provisória", é um documento que permite a liberação de indivíduos da custódia federal sob certas condições.
Entre elas, está a obrigação de comparecer a audiências de imigração e não violar leis locais ou federais.
No entanto, esse estatus não é considerado uma admissão oficial no país nem confere benefícios migratórios, o que deixa os beneficiários em uma situação legal incerta.
Um dos principais inconvenientes do I-220A é que os migrantes cubanos liberados sob essa condição não são elegíveis para ajustar seu status de acordo com a Lei de Ajuste Cubano, uma vez que não são considerados “inspecionados e admitidos” no país.
Esta restrição afeta milhares de cubanos que chegaram nos últimos anos e esperavam obter a residência permanente.
Especialistas em leis migratórias recomendam que aqueles que se encontram nessa situação busquem orientação jurídica especializada.
É crucial cumprir todas as condições estabelecidas no formulário I-220A e comparecer pontualmente aos compromissos agendados com as autoridades migratórias para evitar complicações adicionais.
Perguntas frequentes sobre as detenções de cubanas com I-220A na Flórida
O que é o formulário I-220A e qual é a sua importância para os migrantes cubanos?
O formulário I-220A, conhecido como "Ordem de Liberdade Condicional", é um documento que permite a liberação de indivíduos da custódia federal sob certas condições. Esse status não é considerado uma admissão oficial no país nem concede benefícios migratórios, o que deixa os beneficiários em uma situação legal incerta. Para os migrantes cubanos, isso significa que não são elegíveis para ajustar seu status sob a Lei de Ajuste Cubano. É crucial cumprir com todas as condições estabelecidas para evitar complicações adicionais.
Por que foram detidas as mulheres cubanas com I-220A na Flórida?
As prisões de mulheres cubanas com I-220A na Flórida geraram incerteza devido à falta de explicações claras por parte do ICE. Alguns advogados sugerem que essas prisões fazem parte de uma estratégia para dificultar o processo de defesa dos migrantes e negar-lhes o acesso a seus advogados. Não há uma razão oficial para a seleção de mulheres, embora diversas teorias sobre o motivo de sua detenção sejam especuladas.
Que medidas está tomando o ICE em relação aos migrantes com I-220A nos Estados Unidos?
ICE intensificou a supervisão dos migrantes com I-220A por meio do Programa de Supervisão Intensiva de Aparições (ISAP). Esse controle implica um monitoramento mais rigoroso enquanto seus casos de asilo avançam nos tribunais, incluindo registro periódico e videoconferências obrigatórias. O ICE também alerta sobre possíveis visitas domiciliares para verificar a residência declarada pelos imigrantes.
Como podem as pessoas com I-220A defender seus casos de asilo nos Estados Unidos?
É fundamental que as pessoas com I-220A busquem orientação jurídica especializada para defender seus casos de asilo. Os especialistas recomendam cumprir rigorosamente com as condições estabelecidas no formulário I-220A e comparecer pontualmente aos encontros agendados com as autoridades migratórias. Manter uma comunicação eficaz com seus advogados e apresentar um caso sólido no tribunal são passos essenciais para sua defesa.
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