Ministro da Economia afirma que a venda de gasolinas em dólares é uma "medida excepcional e temporária"

As palavras de Joaquín Alonso Vázquez ressoam nos ouvidos de milhões de cubanos que, ao longo dos anos, ouviram as autoridades usarem a expressão “excepcional e temporária” para inúmeras decisões adotadas pelo regime, que depois se perpetuam.


O ministro da Economia e Planejamento, Joaquín Alonso Vázquez, afirmou nesta quinta-feira que a venda de gasolina em dólares é uma "medida excepcional e temporária" que responde à necessidade de reorganizar o fornecimento de combustível devido aos baixos estoques disponíveis.

Durante uma sessão de trabalho no Palácio da Revolução, presidida pelo primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz, o titular da Economia explicou que a medida foi coordenada previamente com os governos provinciais e entidades estatais envolvidas na distribuição de combustível.

“Primeiramente, [é preciso dizer que] é uma medida excepcional e temporária, coordenada previamente com todas as províncias, com todos os governos provinciais, com o objetivo de reorganizar os postos de combustíveis, onde serão servidos os combustíveis regulares, onde serão atendidas as entidades estatais, os organismos priorizados… Tudo isso já está pronto e ajustado”, assegurou o substituto do destituído Alejandro Gil Fernández.

Suas palavras, transmitidas pelo Noticiero Nacional de Televisión (NTV), ecoam nos ouvidos de milhões de cubanos que, ao longo dos anos, ouviram as autoridades se referirem a inúmeras decisões adotadas pelo regime com o qualificativo “excepcional e temporal”, como as lojas em MLC, a redução das cotas de alimentos da cesta básica, a "suspensão temporária" dos depósitos bancários em dinheiro em dólares dos EUA., ou a própria “dolarização parcial da economia” anunciada recentemente, que a cada dia amplia sua "parcialidade".

O ministro também destacou que a informação foi comunicada às empresas estatais para garantir o conhecimento dos procedimentos aplicados e reforçar as medidas de controle nos postos de combustíveis. Nesse sentido, enfatizou a importância do controle contábil e do ajuste na administração interna dos cartões utilizados para a compra de combustível.

Justificação oficial e limitações

Segundo diretores da Corporación CIMEX e da União Cuba-Petróleo (CUPET), a produção nacional de gasolina especial permitirá garantir o fornecimento nos postos de combustíveis autorizados a vender em dólares.

No entanto, desde o anúncio da medida, ficou evidente que a disponibilidade continua sendo limitada, o que impactou diretamente na mobilidade de determinados setores.

O governo insiste que esta medida busca garantir um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis e que, uma vez alcançada a estabilidade no fornecimento de combustível, sua continuidade será reavaliada.

Enquanto isso, a venda em dólares da gasolina especial continuará nos postos de combustíveis designados, sob um monitoramento constante de seu impacto na economia nacional.

Fatores externos e a postura da CUPET

Desde a CUPET, responsabilizaram o presidente estadunidense Donald Trump pela situação do combustível em Cuba, apontando que o endurecimento do embargo e a perseguição a entidades que comercializam hidrocarbonetos com a ilha restringiram o acesso a fontes de abastecimento.

Em um comunicado recente, a CUPET enfatizou que a vigilância aos navios que transportam combustíveis atingiu níveis sem precedentes, limitando severamente a capacidade do país de adquirir petróleo e seus derivados.

O anterior contrasta com a recente chegada à baía de Nipe do petroleiro russo Akademik Gubkin, com uma carga de cerca de 790.000 barris de petróleo avaliada em 55 milhões de dólares.

As explicações do regime não suportam o peso das evidências, que se acumulam e expõem a incapacidade do governo para pôr fim à crise energética. A recente mudança da administração Trump na política externa dos Estados Unidos e seu reatamento com Moscou coloca ainda mais pressão sobre o argumento do regime para justificar seu fracasso.

A dolarização no contexto cubano

A venda de gasolina em dólares se insere dentro do processo de dolarização parcial que a economia cubana tem experimentado nos últimos anos.

Com a escassez de divisas e o déficit de combustível, a dolarização de certos produtos e serviços tornou-se uma estratégia para captar divisas estrangeiras. No entanto, esse fenômeno gerou maior desigualdade, pois apenas aqueles com acesso a moeda livremente conversível podem adquirir certos bens e serviços essenciais.

Nos últimos meses, diversas medidas têm reforçado a presença do dólar na economia cubana, o que gerou críticas de especialistas e indignação na população.

Enquanto o governo sustenta que essas medidas são necessárias para garantir o acesso a produtos importados e manter o funcionamento de setores-chave, a realidade para muitos cubanos é que a crescente dolarização os exclui de bens básicos, como o combustível.

Embora o governo de Díaz-Canel tenha indicado que continuará avaliando a situação e ajustará a medida com base na disponibilidade de combustível no país, a incerteza continua latente, com transportadores privados e cidadãos preocupados pelo acesso à gasolina e pelo impacto que essas decisões podem ter na economia nacional e na vida cotidiana dos cubanos.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.