Um grupo de cubanos teve que carregar um caixão com as mãos e levá-lo a pé até o cemitério por falta de um carro funerário no município de Consolação do Sul, em Pinar del Río.
A insólita cena, que percorreu as ruas do município, foi gravada em vídeo e compartilhada nas redes sociais, desencadeando uma onda de indignação entre os cidadãos.
O incidente ocorreu na segunda-feira, segundo informou o site de Facebook 'La Tijera', e foi consequência da demora na chegada do transporte fúnebre. A família do falecido tomou a decisão de trasladá-lo dessa maneira após notar sinais de decomposição no cadáver, resultado da longa espera.
Acompanhados por familiares e amigos, os enlutados percorreram várias ruas do município carregando o caixão no meio da via pública, diante do olhar incrédulo e consternado dos vizinhos.
Este caso não só evidencia a falta de recursos materiais, mas também a ausência de sensibilidade por parte das autoridades responsáveis por garantir serviços básicos em momentos críticos como este.
Uma crise que afeta toda Cuba
A falta de carros fúnebres em Consolação do Sul é apenas mais um exemplo da grave crise que enfrentam os serviços funerários em Cuba.
Durante anos, numerosas províncias relataram situações semelhantes que refletem a precariedade e o abandono de um sistema incapaz de responder às necessidades da população, mesmo nos momentos mais delicados da vida.
Em Artemisa, por exemplo, a escassez não abrange apenas o transporte funerário, mas também os materiais essenciais para construir túmulos. Um relatório de dezembro de 2024 revelou que, em muitos casos, os corpos permanecem insepultos por dias devido à falta de cimento para selar as covas no cemitério dessa localidade.
Santiago de Cuba, uma das províncias mais afetadas, também tem sido palco de episódios desgarradores. Em janeiro, foi reportado que alguns falecidos estavam sendo enterrados em caixas de papelão devido à falta de caixões. Essas caixas improvisadas são utilizadas como último recurso pelas famílias que não conseguem arcar com outras opções nem esperar os longos prazos de entrega dos serviços funerários estatais.
Em outro incidente registrado em Santiago de Cuba, um cadáver permaneceu 17 horas na casa de seus familiares devido à falta de transporte e a um apagão prolongado que complicou a conservação do corpo.
Traslados a pé, caminhões e carros quebrados
Os problemas relacionados aos carros funerários em Cuba são recorrentes e têm obrigado as famílias a buscar soluções improvisadas para realizar os sepultamentos.
Em maio de 2023, em Matanzas, um grupo de pessoas teve que empurrar um carro funerário quebrado durante a procissão fúnebre, uma imagem que evidenciou o deterioramento dos veículos utilizados para esses serviços.
Em Santiago de Cuba, também se tem recorrendo ao uso de caminhões para transportar caixões diante da falta de veículos adequados. Essa prática reflete a gravidade da situação e o nível de improvisação ao qual as famílias cubanas precisam recorrer em momentos em que a dignidade humana se torna uma prioridade absoluta.
Em um caso reportado em setembro de 2024, em Mayabeque, uma família teve que transportar a pé um caixão durante dois quilômetros até o cemitério, também devido à ausência de transporte funerário na localidade. Essa situação, semelhante ao que ocorreu em Consolação del Sur, reflete o caráter crônico da crise no sistema funerário cubano.
Indignação popular
A acumulação desses casos gerou um profundo descontentamento entre os cidadãos, que veem como as carências do sistema afetam até mesmo os momentos mais solenes da vida.
Em redes sociais, abundam as expressões de frustração de cubanos que exigem soluções imediatas para um problema que consideram inaceitável.
A falta de carros fúnebres, cemitérios em condições adequadas e materiais básicos como caixões e cimento não só afeta as famílias enlutadas, mas também evidencia o deterioro generalizado dos serviços públicos em Cuba.
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