Economista cubano critica novas restrições às mipymes: "Chover no molhado"

Pedro Monreal considera que a nova resolução que cancela de ofício a licença de comércio atacadista para mipymes "discrimina a atividade privada", dá "um golpe nas relações de mercado"; pode aumentar a escassez e resultar em revoltas sociais.

CiberCuba © Negocio privado en La Habana
CiberCubaFoto © Negócio privado em Havana

As reações à nova resolução (56) do Ministério do Comércio Interior, que cancela de ofício a licença para o comércio varejista àquelas mipymes que o realizavam como atividade secundária e que obriga as que se dedicam a isso como atividade principal a se aliarem a entidades estatais para continuar desenvolvendo seus negócios, é "uma estocada nas relações de mercado" e "discrimina a atividade privada", assegura o prestigiado economista Pedro Monreal.

Além disso, de acordo com o impacto das decisões econômicas do regime de Miguel Díaz-Canel, não se trata de uma decisão nova, pois isso já havia sido aprovado em agosto. "Chover no molhado", destacou na rede social X (anteriormente Twitter), onde costuma compartilhar suas análises.

Nesse sentido, Monreal explica que, sob a justificativa de realizar "o ordenamento" do comércio atacadista, as autoridades cubanas aprovaram uma resolução que detalha como será a implementação de uma medida que o Governo acredita que permitirá às mipymes se beneficiarem da experiência, do transporte e das infraestruturas do Estado. No entanto, ignoram o peso da burocracia, da ineficiência e da corrupção, os pontos fracos de uma economia centralizada com trabalhadores mal remunerados.

Com esta decisão de retirar as mipymes do comércio atacadista, o regime cubano mata vários coelhos com uma cajadada só, insiste Monreal. Em sua opinião, essa resolução busca captar divisas privadas para "re-monopolizar a oferta atacadista e reduzir concorrentes". A ideia, acrescenta, é que as empresas estatais atacadistas aumentem seu poder de mercado e rentabilidade.

"A resolução 56 transforma os atores não estatais, que possuem liquidez e flexibilidade e que hoje realizam a maior parte do comércio varejista, em uma grande massa de clientes cativos das empresas atacadistas estatais, estas sem divisas e muitas delas ineficientes", ressalta o economista.

Basicamente, esta ação do Governo busca "oxigenar" o comércio atacadista estatal "sufocando o privado". Dessa forma, segundo eles, "fica exposta a falácia da igualdade" entre os agentes econômicos.

O fato de que o comércio atacadista fique definitivamente nas mãos de empresas estatais ignora dois pontos importantes: como funcionará de forma eficaz uma cadeia de liquidez entre empresas privadas e estatais que operam com divisas e moeda nacional. E o outro grande obstáculo que Monreal observa é que o Governo acredita que, com essa medida, conseguirá controlar a inflação em um mercado com alta demanda e pouca oferta, devido à escassez crônica que a Ilha enfrenta.

O economista considera arriscado que o Governo acredite que, ao manter as empresas privadas sob controle, elas não optarão por mover seu dinheiro para outros lugares.

E destaca um tema não menos importante: o momento escolhido para aplicar a medida. "Existe também um problema com o momento de aplicação: um mês em que geralmente aumenta a demanda por bens de consumo e onde qualquer escassez adicional associada a 'experimentos' poderia 'linkar-se' a uma maior instabilidade social".

E aí fica o aviso. Pode-se dizer mais alto, mas não mais claro. Este experimento pode resultar em manifestações em um país que, atualmente, é uma panela de pressão.

COMENTAR

Arquivado em:

Tania Costa

(La Habana, 1973) reside na Espanha. Dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e a FaroTV Melilla. Foi chefe da edição murciana do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Murcia (Espanha).