O regime cubano controla o envio de remessas dos EUA

Uma investigação publicada pelo Miami Herald revela que o conglomerado empresarial militar da GAESA controla as remessas para Cuba sob a fachada da empresa Orbit S.A., criada para contornar as sanções que pesavam sobre a Fincimex.

Equipo de la empresa ORBIT S.A. Su presidente, Diana Rosa Rodríguez Pérez, con collar de perlas © Facebook / Orbit S.A.
Equipe da empresa ORBIT S.A. Sua presidente, Diana Rosa Rodríguez Pérez, com colar de pérolas.Foto © Facebook / Orbit S.A.

Uma recente investigação do Miami Herald revelou que a Orbit S.A., a empresa que atualmente processa as remessas enviadas dos Estados Unidos para Cuba, é controlada pelo Grupo de Administração Empresarial S.A. (GAESA), o poderoso conglomerado militar que domina a economia dolarizada da ilha.

Esse achado contradiz as afirmações do regime cubano e da administração de Joe Biden, que autorizaram em 2022 um acordo com a Orbit sob a condição de que não tivesse vínculos militares.

O estudo, baseado em documentos secretos da CIMEX — uma subsidiária da GAESA — e depoimentos de fontes internas, demonstra como o governo cubano criou uma fachada civil para contornar as sanções impostas pela administração de Donald Trump em 2020.

Essas sanções encerraram as operações da Fincimex, a empresa que anteriormente gerenciava as remessas e que também estava ligada à rede empresarial controlada pelo exército cubano.

Um esquema militar disfarçado de civil

A Orbit S.A. foi apresentada como uma empresa independente sob a jurisdição do Ministério do Comércio e Investimento Estrangeiro, mas as evidências analisadas pelo Miami Herald mostram o contrário. De acordo com os documentos revisados por esse veículo, a Orbit opera como um apêndice da CIMEX, que, por sua vez, reporta diretamente à GAESA.

Os vínculos são estreitos: Diana Rosa Rodríguez Pérez, atual diretora da Orbit, possui um histórico de altos cargos na CIMEX e GAESA. Antes de assumir seu cargo, foi vice-presidente executiva da GAESA e vice-presidente da CIMEX. Este último detalhe, embora eliminado de muitas fontes públicas, foi corroborado por publicações Arquivadas em redes sociais.

Rodríguez Pérez não é a única conexão. A equipe da Orbit é composta em sua maioria por ex-funcionários da Fincimex, e a empresa compartilha escritórios em Miramar, Havana, com outras entidades do conglomerado GAESA.

Uma extensa investigação publicada em novembro de 2022 pelo Projeto Inventário apontava para a ligação da Orbit S.A. com a Fincimex. Além do histórico profissional de alguns de seus funcionários na Fincimex, a investigação destacava a proximidade física dos escritórios da Orbit com as sedes de várias empresas da CIMEX e da GAESA.

Como funciona o esquema.

Os documentos analisados pelo Miami Herald revelam que a CIMEX supervisiona todas as operações da Orbit, incluindo as transferências de dinheiro processadas pela Western Union e agências de remessas sediadas em Miami, como a VaCuba e a Cubamax.

A Orbit utiliza a infraestrutura financeira da CIMEX para realizar essas transações, e os dados de ambas as empresas aparecem nos mesmos relatórios mensais que a CIMEX elabora para os altos executivos da GAESA.

Um relatório de janeiro de 2024 aponta que a Orbit perdeu 12 milhões de dólares devido a um incidente de cibersegurança que afetou os sistemas eletrônicos da CIMEX. Este detalhe confirma que ambas as empresas estão integradas operacionalmente.

Além disso, uma carta do coronel Héctor Oroza Busutil, presidente da CIMEX, dirigida à presidente do Banco Central de Cuba, Juana Lilia Delgado Portal, menciona uma queda nas ordens de transferência de VaCuba para Orbit e solicita uma reunião com os responsáveis pela agência para resolver o problema. Isso contrasta com a versão oficial de que a CIMEX não tem nenhuma relação com a Orbit.

Um salva-vidas econômico para a GAESA

As remessas representam uma fonte crucial de divisas para a GAESA, que gerencia essas transações de forma opaca. Segundo Emilio Morales, diretor de Cuba Siglo 21, a GAESA fica com os dólares enviados do exterior e os converte em moeda local para os destinatários na ilha.

Isso permite ao conglomerado manter um fluxo constante de divisas que, em vez de ser destinado a atender as necessidades básicas da população, é utilizado para financiar projetos como a construção de hotéis turísticos.

Apesar das promessas do regime cubano de destinar os recursos ao setor privado, os documentos analisados mostram que as autoridades militares mantiveram um rígido controle sobre as remessas. Em 2020, quando Trump sancionou a Fincimex, os militares se recusaram a transferir o negócio para uma entidade verdadeiramente independente.

A administração Biden no olho do furacão

O acordo entre a Orbit S.A. e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos foi autorizado sob a condição de que a empresa não tivesse vínculos com o exército cubano. No entanto, a investigação do Herald coloca essa premissa em questão, e as revelações podem levar a uma reavaliação das políticas de remessas.

Em resposta, congressistas cubano-americanos como Mario Díaz-Balart e María Elvira Salazar intensificaram suas críticas à administração Biden. Díaz-Balart qualificou o caso como um exemplo da importância de aplicar sanções de maneira rigorosa. Por sua vez, Salazar afirmou que o regime cubano "ficou novamente exposto por roubar o dinheiro que os exilados enviam para suas famílias".

A Western Union, que retomou suas operações com a Orbit em março de 2023, não fez comentários após as perguntas do Herald. O mesmo ocorreu com a VaCuba e a Cubamax, outras agências que processam remessas por meio da Orbit.

Um sistema opaco e centralizado.

Liderada pela general de brigada Ania Guillermina Lastres Morera, a GAESA opera como uma economia paralela ao governo central. A ex-controladora geral de Cuba, Gladys María Bejerano Portela, declarou que não podia auditar o conglomerado empresarial dos militares porque não estava sob sua supervisão.

GAESA conta com “disciplina e organização superior” devido às suas décadas de experiência empresarial, disse Bejerano Portela em entrevista à EFE em maio passado. Pouco depois, foi destituída sem explicações, e seu cargo passou a ser ocupado por Mirian Marbán González, que exercia a função de primeira vicecontroladora geral desde 2018.

Este controle centralizado permitiu à GAESA utilizar as remessas para manter sua maquinaria empresarial, enquanto a população enfrenta uma grave crise econômica marcada pela escassez de alimentos, medicamentos e combustível.

Consequências políticas e econômicas

As revelações do Miami Herald podem ter profundas implicações para as relações entre os Estados Unidos e Cuba. A administração Biden, que havia tentado abrir canais de comunicação com o governo cubano, pode enfrentar uma pressão renovada por parte de setores mais rígidos no Congresso para endurecer as sanções.

Além disso, a possibilidade de que a GAESA continue a beneficiar-se das remessas levanta sérias dúvidas sobre a eficácia das políticas americanas para isolar o exército cubano. Emilio Morales destacou que a falta de transparência nas operações da Orbit e da CIMEX torna praticamente impossível garantir que as remessas cheguem diretamente às famílias cubanas.

O futuro das remessas para Cuba

Enquanto isso, as remessas continuam sendo um suporte vital para muitas famílias na ilha. Segundo estimativas, o país recebe aproximadamente 2 bilhões de dólares anualmente em remessas, incluindo transferências informais e bens enviados do exterior.

No entanto, a percepção de que grande parte desses fundos acaba nas mãos do exército cubano pode levar a uma nova onda de restrições.

Alguns especialistas sugerem que uma futura administração, como o possível retorno de Donald Trump, poderia implementar medidas mais rigorosas para impedir que o dinheiro chegue às mãos de um regime totalitário que empobreceu a população cubana e se apropriou da riqueza nacional, enquanto viola os direitos e as liberdades dos cidadãos, visando se perpetuar no poder por meio da transição para um Estado mafioso de mercado, à semelhança da Rússia de Vladimir Putin.

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