O assassinato de uma mãe cubana pelas mãos de seu ex-parceiro em Santa Clara, Villa Clara, no início deste mês, deixou duas meninas órfãs e elevou para 46 o número de feminicídios em Cuba em 2024, de acordo com relatórios de plataformas independentes.
O corpo sem vida de Elaine González Estrada foi encontrado no dia 5 de novembro na casa de seu ex-parceiro, após dois dias de desaparecimento, informaram nesta quinta-feira os observatórios de violência contra a mulher YoSíTeCreo em Cuba e a revista Alas Tensas.
Segundo o comunicado, o agressor fugiu, mas já foi capturado pela polícia.
No entanto, a plataforma alertou sobre os casos de feminicídio nos quais houve alertas cidadãos precoces de desaparecimentos, os quais "continuam sem ser considerados fundamentais pelas autoridades".
“O tempo de atuação é decisivo para encontrar uma pessoa em risco com vida”, afirmou YoSíTeCreo em Cuba.
A nota também ressalta "a revitimização que a família sofreu pelo mau trabalho das autoridades, conforme relataram nas redes sociais" e expressa condolências às filhas de González e ao restante de seus familiares e amigos.
A desaparecimento da mãe cubana ganhou destaque nas redes sociais a partir de relatos da família e amigos, que iniciaram sua busca desde 3 de novembro.
Na semana passada, o perfil de Facebook “Desaparecidos dentro de Cuba. Somos tu voz” divulgou que a vítima havia sido “encontrada enterrada na cozinha da casa do agressor”, e ele continuava foragido até então.
As plataformas YoSíTeCreo em Cuba e Alas Tensas informaram também nesta quinta-feira que foram registrados cinco tentativas de feminicídio e que é necessário acesso à investigação policial de seis possíveis casos de crimes dessa natureza, ocorridos em Havana (3), Santiago de Cuba (2) e Villa Clara (1).
As organizações feministas também estão investigando outros possíveis feminicídios: dois em Matanzas e um, respectivamente, em Las Tunas, Holguín, Guantánamo, Ciego de Ávila e Santiago de Cuba.
O sub-registro apresentado por ambas as plataformas totalizou 89 feminicídios no país em 2023. No entanto, em dezembro daquele ano, o governo cubano revelou estatísticas oficiais sobre a violência contra a mulher e afirmou que até o final de outubro haviam sido registrados 117 feminicídios, embora sem utilizar esse termo para se referir aos assassinatos.
O registro das autoridades supera o número de mortes violentas de mulheres contabilizadas pelas organizações feministas da sociedade civil independente em Cuba, dedicadas ao cuidado da mulher e à proteção de seus direitos.
Em agosto passado, o regime revelou que em 2023 foram julgados nos tribunais 110 casos de assassinatos de mulheres de 15 anos ou mais por razões de gênero, de acordo com dados do Observatório de Cuba sobre Igualdade de Gênero.
Também foram julgados 378 casos de violência sexual, e um número indeterminado de mulheres ficou com lesões após ataques de seus ex-parceiros.
No Código Penal cubano, o feminicídio não está tipificado como crime e também não são utilizados os termos “feminicídio” ou “crimen machista”.
A Federação de Mulheres Cubanas (FMC), apoiada pelo governo, reconheceu que mais de 16.000 mulheres e meninas, de 9.579 famílias, vivem em situação de violência no país.
O governo criou em julho um sistema nacional de registro, atendimento, acompanhamento e monitoramento dos casos de violência de gênero no ambiente familiar.
Arquivo em: