Gran Maestro de Logia de Cuba, Mario Urquía, responde à protesto de maçons.

Chama os maçons cubanos a não participar "em nenhum complô". O conflito estourou após ele se recusar a acatar sua expulsão, decretada pelo Supremo Conselho em janeiro deste ano, após o roubo de 19.000 dólares em seu escritório.

Mario Urría / Facebook y captura de vídeo de Cubanet. © Mario Urría, Gran Maestro de la Logia de Cuba. Al lado, masones protestando en La Habana.
Mario Urría / Facebook e captura de vídeo de Cubanet.Foto © Mario Urría, Gran Maestro da Loja de Cuba. Ao lado, maçons protestando em Havana.

O Grande Mestre da Loja de Cuba, Mario Urquía, enviou neste 24 de julho uma mensagem aos cerca de 200 maçons cubanos que protestaram no dia anterior em frente ao Grande Templo Nacional Maçônico, exigindo que ele renunciasse ao seu cargo. Em uma mensagem à qual o Cubanet teve acesso, Urquía criticou que alguns membros de sua jurisdição colocassem seus interesses pessoais "acima dos interesses da Instituição". Além disso, destacou que a manifestação começou em frente ao edifício e terminou no lobby do 11º andar, em frente ao escritório do Grande Mestre.

Ainda assim, Urquía reconhece que foi uma protesto pacífico. "É meu dever expressar que não houve violência alguma apesar de ter entrado pela porta principal do Grande Templo na presença de muitos dos meus irmãos", escreveu na nota enviada a todos os maçons.

Além disso, afirmou que "as reclamações feitas dentro das supostas leis maçônicas" não foram realizadas de acordo com seus "preceitos e juramentos".

Destaca Urquía em sua missiva que na Protesta estiveram presentes os representantes do Supremo Conselho e entre eles destacou a Ángel Santiesteban Prats, a quem acusou de ter tido um "papel protagonista na campanha de descrédito e na tergiversação dos fatos". Refere-se a que Urquía se negou a acatar sua expulsão, decretada pelo Supremo Conselho em janeiro deste ano, após o roubo de 19.000 dólares em seu escritório. Em março, tentou presidir a sessão da Alta Câmara e foi impedido a gritos de "fora traidor e covarde". A maior parte de sua equipe renunciou a seus cargos.

Em sua missiva, Urquía ataca a jornalista independente Camila Acosta, a quem acusa de dominar informações às quais "um profano" não deveria ter acesso. E é nesse ponto que ele menciona a suposta infiltração entre os maçons de elementos dissidentes. “Tem-se notado por parte de alguns irmãos manifestações claras de atacar diretamente Instituições do governo com marcadas posições políticas, que para muitos se encontram disfarçadas de supostos motivos maçônicos”, afirmou.

Urquía se mostra aberto a que os maçons possam apresentar queixas, mas sempre dentro dos canais oficiais. Ele foi visto incomodado com o fato de que os problemas internos da Grande Loja de Cuba tenham sofrido uma "midiatização". Nesse contexto, fez um apelo aos maçons para não participarem "de nenhum complô". "Não permitamos que os inimigos internos nos utilizem para alcançar objetivos que nada têm a ver com os Preceptos Fundamentais e coloquem em risco nossa existência. Esta Grande Maestria defenderá a permanência de nossa augusta Instituição acima de qualquer interesse pessoal ou político. Resolvamos nossos problemas de maneira interna e apegados às leis maçônicas, não através de redes sociais ou meios de comunicação", pediu.

Segundo os testemunhos recolhidos pelo Cubanet nessa manifestação em frente à Grande Loja de Cuba, os maçons explicaram que estavam ali protestando após o Ministério da Justiça da Ilha reabilitar Urquía depois de ter sido expulso de seus cargos por "atentar contra a moral" e "por traição a seus princípios". A protesto, portanto, não era apenas contra o Grande Mestre, mas também contra a intromissão do regime nos problemas internos dos maçons cubanos.

Também explicaram que se haviam reunido lá depois de esgotar todas as vias para serem ouvidos. O detonante foi o decreto 1791 de 19 de julho com o qual Urquía suspendeu o Tratado de Amizade e Mútuo Reconhecimento entre a Grande Loja de Cuba e o Supremo Conselho. Dessa forma, fez explodir por os ares dois séculos de unidade e paz maçônica, uma vez que obriga os maçons a escolher entre uma e outra instituição e coloca em perigo o reconhecimento internacional da ordem cubana.

No mesmo dia 23 de julho, o Ministério da Justiça de Cuba emitiu uma nota informativa na qual assegurou ter detectado "irregularidades por descumprimento de seus estatutos internos" após a expulsão do Grande Mestre e, por isso, ordenou "realizar esses processos novamente em correspondência aos estatutos e à vontade de seus integrantes".

Finalmente, o Governo cubano cedeu às protestas dos maçons e aceitou que se celebrem eleições. Trata-se de um fato inédito na história da maçonaria cubana, que incluiu manifestações contra o Grande Mestre da Ordem, expulso por corrupção e restituído pelo regime por ser leal a ele.

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Tania Costa

(La Havana, 1973) vive na Espanha. Dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e a FaroTV Melilla. Foi chefe da edição murciana de 20 minutos e assessora de Comunicação da Vicepresidência do Governo da Murcia (Espanha).


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