Uma deputada da Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP) disse, durante uma das sessões desse órgão realizadas nos últimos dias no Palácio de Convenções de Havana, que o embargo estadunidense sobre Cuba é a principal causa do êxodo migratório que se vive na Ilha.
“A emigração sempre existiu, é normal e é legítimo e válido que busquem e se decidam por um projeto de vida fora do seu país”, disse a deputada pelo município pinareño de Mantua, Yamila González Ferrer, diante do olhar do governante Miguel Díaz-Canel e do presidente da ANPP Esteban Lazo Hernández.
“No entanto, no nosso caso..., precisamos ter muito presente que a migração para o exterior e o aumento ao qual assistimos hoje é um dos efeitos mais cruéis e desumanos do agravamento do bloqueio que o governo dos Estados Unidos impõe ao nosso povo”, destacou a deputada, ignorando a repressão e as carências econômicas causadas pela política de seu governo, além das sanções americanas.
No obstante, González Ferrer prosseguiu a leitura de sua intervenção mencionando as separações familiares e tentando atribuir a causa ao exterior e não às condições de vida em que se encontra Cuba.
“As famílias cubanas são resilientes e se reinventam de muitas maneiras para encurtar distâncias e se manter unidas”, expressou com a tranquilidade de uma pessoa que argumenta um discurso coerente.
Aparentemente, a deputada se esqueceu convenientemente de que as remessas que vêm da diáspora cubana desempenham um papel crucial na economia da ilha. Essas transferências de dinheiro não apenas sustentam milhares de famílias, mas também constituem uma fonte de divisas para o regime.
E é importante salientar que aqueles que não as recebem representam a triste cifra de “7 em cada 10 cubanos deixaram de tomar café da manhã, almoçar ou jantar, devido à falta de dinheiro ou à escassez de alimentos”, divulgada recentemente no VII Relatório sobre o Estado dos Direitos Sociais em Cuba 2024, apresentado pelo Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH).
No relatório mencionado, a organização não governamental ressaltou que "89% das famílias cubanas sofrem de pobreza extrema", um ponto percentual a mais em relação ao ano passado e 13% a mais do que em 2022.
Nesse sentido, as palavras da deputada ocorrem no cenário em que o regime aprovou, por unanimidade de seu Parlamento, duas leis polêmicas, que têm causado preocupação aos cubanos residentes no exterior.
A Lei de Cidadania é uma norma sem precedentes legislativos em Cuba, que busca desenvolver os postulados constitucionais relacionados à cidadania, refletir os direitos dos cidadãos e reforçar o poder do Estado.
A outra é a Lei de Estrangeiros, que segundo os porta-vozes do regime complementa a legislação migratória, regula a atenção, proteção e documentação dos estrangeiros, equiparando seus direitos e deveres aos dos cidadãos cubanos, e estabelecendo os procedimentos para sua expulsão do território nacional, caso seja necessário.
Um estudo demográfico independente, ao qual a agência Efe teve acesso, indicou que a população cubana despencou 18% entre 2022 e 2023, situando-se em 8,62 milhões de pessoas.
O cálculo é baseado nos números de cubanos que chegaram a Estados Unidos entre outubro de 2021 e abril de 2024, que somam 738.680 pessoas, segundo informações oficiais divulgadas pelas autoridades americanas que combinam vistos, parole e chegadas irregulares.
A citada fonte revelou que “daí se extrapola o número total de migrantes, tendo em conta o percentual de cubanos que vão para os EUA em relação ao total de pessoas que abandonam o país em direção a qualquer destino, que para 2022 e 2023 o autor estima em 33% com base em tendências históricas”.
Isso resultaria em um total de migrantes para o período de 2022-2023 de 1,79 milhão de pessoas, um número sem precedentes na história cubana.
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