Após fazer parte da máquina repressora do regime cubano que encarcerou mais de mil manifestantes pacíficos em 11 de julho de 2021 (11J), uma promotora de Camagüey está solicitando visto para emigrar para os Estados Unidos.
Trata-se de Rosabel Roca Sampedro, que era procuradora do Tribunal Municipal de Camagüey antes de emigrar para o México com sua filha, país a partir do qual está solicitando visto através do aplicativo CBPOne para entrar nos EUA, conforme apurou a Martí Noticias.
Através de fontes de Imigração americanas que pediram para não serem identificadas, tal meio soube do caso de Roca Sampedro, uma fiscal que pediu prisão para manifestantes das históricas protestas de 11J, e para outros opositores camagüeyanos.
De acordo com denúncias de ativistas nas redes sociais, a promotora abandonou Cuba junto com sua filha pequena em uma data que não pôde ser determinada. De acordo com a Martí Noticias, no momento ela está esperando que as autoridades migratórias dos Estados Unidos lhe concedam uma audiência para se apresentar na fronteira e pedir asilo político.
Roca Sampedro, who currently resides in Mexico, deleted a profile on her social media where she allegedly showed her closeness to the Cuban regime. The non-governmental organization Prisoners Defenders stated to have documented the repressive history of the official from the Cuban regime's Justice administration.
A causa é o número 26 de 2022, do Expediente de Fase Preparatória 31 de 2021, por Atentado e Desacato, sob a instrução da promotora Rosabel Roca Sampedro. Nós a temos em nossos arquivos. Devido ao trabalho dessa promotora, quatro inocentes foram condenados de 4 anos e 4 meses de prisão a 3 anos e 6 meses de cárcere", disse Javier Larrondo, diretor da ONG ao referido meio de comunicação.
Especializada em documentar as violações dos direitos humanos em Cuba, a organização assegurou que a procuradora era "conhecida no Tribunal Municipal de Camagüey", entre outros, pelas vítimas da repressão do 11J, assim como pelo opositor Bárbaro de Céspedes, o Patriota Cubano.
Até o momento, a Prisoners Defenders aponta Roca Sampedro como a procuradora que enviou para a prisão Lesyani Heredia Salazar (22 anos na época da sua prisão), Adrián Quesada Flores (32), Yadisley Rodríguez Ramírez (34) e Geovanis Sépulveda Martínez (43). Todos eles são considerados prisioneiros políticos pela organização.
"Se a procuradora quer redimir seus crimes, já que a prisão arbitrária é um crime de lesa-humanidade do qual ela teria participado e cujos autores seriam a família Castro, o primeiro passo que deve dar é convocar a mídia e contar absolutamente tudo o que fez para o regime, o que o regime exige e como funciona", disse Larrondo. "Suas vítimas continuam presas. Ela não pode se redimir de forma alguma sem, pelo menos, fazer tudo o que está ao seu alcance para corrigir em certa medida o mal que causou", acrescentou.
Por sua vez, Bárbaro de Céspedes afirmou que Roca Sampedro foi a promotora que impôs um ano e seis meses de prisão a ele sob acusações de desobediência e incitação ao crime, devido à sua participação nos protestos em massa de 11 de julho, e por um post direto que o ativista fez no Facebook incitando as pessoas a irem para as ruas.
Aquela senhora foi muito rude comigo. Nem mesmo me deixou falar. Quando tentaram me silenciar no julgamento, eu me defendi com a Constituição. Fiquei preso por um ano e oito meses por causa dela... O tempo todo ela mostrou repúdio pela minha pessoa e pelo que eu representava. Seria muito satisfatório para mim se a deportassem deste país. Ela não merece viver em liberdade", acrescentou.
Justicia 11J, outra organização dedicada a denunciar a repressão e visibilizar os presos políticos do 11J, também contribuiu com uma das sentenças ditadas após os protestos e confirmou que ela está entre as promotoras que julgaram os manifestantes. No documento, aparece a assinatura de Rosabel Roca Sampedro.
Ao acordar a Martí Noticias, Roca Sampedro (42 anos) teria uma filha vivendo em Houston, Texas, para onde presumivelmente iria viver se permitido entrar nos Estados Unidos. Martí Noticias conseguiu falar brevemente com o contato do promotor em Houston, Adrián Díaz, que admitiu conhecê-la, mas se recusou a fornecer mais declarações.
Êxodo de repressores do regime cubano.
O caso de Roca Sampedro volta a colocar o foco no gotejamento de funcionários, líderes do regime e seus familiares que emigram da Ilha nos últimos tempos.
No final de maio, tornou-se conhecido o caso da juíza de Villa Clara, Melody González Pedraza, a quem as autoridades dos Estados Unidos negaram a entrada no país após chegar ao Aeroporto Internacional de Tampa, na Flórida, com um parole humanitário.
De acordo com a Martí Noticias, o histórico de González Pedraza incluía a condenação por "ataque" de quatro jovens cubanos com menos de 30 anos, que em 18 de novembro de 2022 lançaram cocktails Molotov contra as casas de chefes de polícia e funcionários do regime no município de Encrucijada.
Após a recusa em conceder-lhe a liberdade condicional humanitária, González Pedraza foi obrigada a solicitar asilo político e encontra-se atualmente sob custódia policial. A juíza, detida em Broward, tem uma audiência de asilo marcada para 12 de junho, na qual será decidido se ela será deportada para Cuba.
No início de março, o presidente do Tribunal Supremo de Cuba, Rubén Remigio Ferro, aplaudiu as demonstrações de adesão ouvidas dos seus subordinados durante uma reunião dos tribunais de Artemisa.
Com uma balança em que pesa muito mais a saída de promotores em serviço ativo do que o ritmo de formandos, e a pressão que isso implica na administração da Justiça, o alto funcionário do regime totalitário cubano destacou as palavras ouvidas no encontro, todas referentes ao compromisso dos juristas com a defesa de uma ordem jurídico-política que mantém mais de mil presos políticos nas prisões do país.
Entusiasmados e prontos, assim se manifestaram juízes e trabalhadores dos tribunais de Artemisa em sua reunião anual. 'Unidade', 'vocação', 'continuo e continuarei aqui porque quero e gosto', foram as expressões mais ouvidas. "Que bom!", manifestou Remigio Ferro em suas redes sociais.
A crise migratória causada pela falta de controle do chamado "continuísmo" de Miguel Díaz-Canel levou centenas de milhares de cubanos a embarcar em um êxodo sem precedentes na história do país. Entre os profissionais que deixaram suas vidas em Cuba, também estão funcionários e trabalhadores do sistema judiciário.
Um relatório da imprensa oficialista indicou que os fiscais cubanos estão abandonando a toga e analisou o caso de Ciego de Ávila, um dos territórios em que se nota mais a diminuição do número de juristas.
Entre 2022 e 2023, houve uma saída significativa de fiscais em Ciego de Ávila, com 28 renúncias superando as 22 dos cinco anos anteriores. Isso levou a que a Procuradoria Provincial opere com pouco mais da metade da equipe necessária para seus 10 municípios.
Diante da dificuldade de preencher as 93 vagas, atualmente ocupadas por 52 promotores, gerou-se um debate no sistema judicial do regime cubano sobre possíveis soluções para aliviar essa crise.
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