Cubanos lamentam o fim do programa de reunificação familiar



Usuários expressam dor e indignação após a eliminação do parole de reunificação familiar para cubanos. Muitos afirmam ter cumprido a lei e se sentirem punidos por decisões que não são suas. Outros responsabilizam tanto a política americana quanto o contexto que impulsiona a emigração.

Washington afirma que o mecanismo permitia a entrada de estrangeiros com antecedentes pouco verificadosFoto © captura de vídeo Univisión Notícias

Vídeos relacionados:

O anúncio nesta sexta-feira da eliminação do Programa de Reunificação Familiar (FRP) provocou uma avalanche de reações entre cubanos dentro e fora da ilha, com mensagens marcadas pela frustração, a sensação de injustiça e o temor de não poder se reencontrar com filhos e outros familiares.

Após conhecer a decisão da administração do presidente Donald Trump, centenas de leitores reagiram nas redes sociais do CiberCuba para expressar o impacto pessoal de uma medida que, afirmam, os deixa sem opções reais de se reunir com seus entes queridos.

Vários comentários concordaram que a decisão pune aqueles que seguiram os canais legais durante anos.

Uma leitora afirmou que é injusto que pessoas que “fizeram tudo dentro da lei” paguem agora as consequências do abuso cometido por outros, enquanto outra pediu que se excluam determinadas categorias migratórias porque a dor de não poder trazer os filhos é, disse, “demasiado grande”.

Outros usuários interpretaram a eliminação do programa como parte de uma estratégia mais ampla para aumentar as deportações.

Nesse sentido, um comentarista afirmou que se trata de "uma jogada a mais" dentro de uma política migratória cada vez mais restritiva, enquanto vários lembraram que muitos cubanos apoiaram eleitoralmente o atual presidente e hoje veem frustradas suas expectativas.

Algumas mensagens misturaram o lamento com a autocrítica. Um leitor apontou que os cubanos gozaram durante anos de privilégios migratórios usados como ferramenta política e que esse cenário já não existe, enquanto outro falou de um povo “mal agradecido” que acabou pagando o preço de alianças políticas erradas.

Também houve vozes que desviaram a responsabilidade para os governos de origem. Um usuário argumentou que nenhum país é obrigado a garantir a reunificação nos Estados Unidos e que o verdadeiro problema é a incapacidade de melhorar as condições de vida em Cuba, o que obriga a emigrar.

Em meio à confusão, vários leitores pediram para diferenciar entre a eliminação do parole e a continuidade dos pedidos familiares tradicionais, uma clarificação que, segundo eles, nem sempre é comunicada com a precisão necessária.

Ainda assim, o tom dominante foi de angústia e cansaço, com mensagens que descrevem anos de espera interrompidos de repente e famílias que sentem, mais uma vez, que o reencontro está se distanciando.

A administração Trump desferiu hoje um novo golpe à imigração cubana ao eliminar completamente o FRP para beneficiários da ilha.

A medida, anunciada pelo departamento de Imigração e Cidadania (USCIS), também cancela os benefícios do FRP para nacionais da Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti e Honduras.

O governo justifica a decisão ao afirmar que busca acabar com o “abuso da liberdade condicional humanitária”, além de argumentar que esse mecanismo permitia a entrada de estrangeiros com antecedentes insuficientemente verificados, contornando o processo tradicional.

Segundo o comunicado oficial, a liberdade condicional nunca teve a intenção de ser utilizada de maneira extensiva e descontrolada, por isso o Departamento de Segurança Nacional (DHS) está retornando a um sistema de avaliação caso a caso.

O Programa de Permissão de Reunificação Familiar Cubano foi criado em 2007 sob a administração de George W. Bush (2001-2009) e permitia que cidadãos americanos e residentes permanentes legais solicitassem um permissão de permanência temporária (parole) para trazer seus familiares de Cuba de forma expedita.

O programa estava paralisado desde 2016 até que a administração de Joe Biden (2021-2025) o reativou gradualmente em meados de 2022, mas com o retorno de Trump as nomeações e aprovações foram paralisadas até seu cancelamento definitivo.

A eliminação do programa tem consequências imediatas para aqueles que já se encontram nos Estados Unidos sob este mecanismo.

Se um beneficiário obteve o parole e este ainda não expirou, sua permanência legal terminará em 14 de janeiro de 2026, a menos que tenha um Formulário I-485 (Solicitação de Ajuste de Status para Residência Permanente) pendente.

Para ser considerada válida, esta solicitação deve ter sido apresentada antes ou no dia 15 de dezembro de 2025 e ainda estar pendente até a data limite de janeiro.

Junto com a cancelamento do status migratório, também será revogada a autorização de trabalho dos afetados. Cada pessoa será notificada individualmente sobre o término do seu período de liberdade condicional e a revogação do seu visto de trabalho.

Aqueles que não tiverem uma base legal para permanecer nos Estados Unidos após essa data deverão deixar o país imediatamente.

O DHS recomenda que as pessoas não elegíveis para permanecer utilizem o aplicativo CBP One para informar sua intenção de deixar o país.

As autoridades oferecem incentivos para a saída voluntária, incluindo uma bonificação econômica, assistência financeira para a obtenção de documentos de viagem e a isenção de multas civis.

O governo enfatiza que “o desejo de reunir famílias não prevalece sobre a responsabilidade de prevenir fraudes e salvaguardar a segurança nacional”.

No obstante, a comunidade de cubanos com o documento migratório I-220A recebeu nesta sexta-feira um sinal de esperança, após a audiência de argumentos orais realizada na Corte de Apelações do 11º Circuito, um passo crucial em uma batalha legal que pode influenciar o futuro migratório de milhares de pessoas nos Estados Unidos.

Segundo informou o jornalista Javier Díaz, da Univisión, na audiência, o advogado de imigração Mark Prada apresentou um recurso para sustentar que muitos cubanos foram mal processados e que o Governo deveria ter concedido o parole, em vez de documentá-los com um I-220A, situação que os mantém em um “limbo migratório”.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.