“Hoje minha família confia em mim”: Assim dizem jovens que lutam contra a adição às drogas em Cuba

Jovens cubanos em reabilitação quebram o silêncio sobre as drogas e a dor que viveram, enquanto o governo tenta reagir ao problema.

Jovens cubanos em reabilitação compartilham um momento de união ao lado de médicos e familiares.Foto © Captura de Vídeo/Facebook/Canal Caribe

“Hoje estou vivendo, antes estava me destruindo.” Com essa frase contundente, um adolescente cubano resume o caminho de dor e esperança que marcou sua recuperação após a adição às drogas.

Seu testemunho, recentemente divulgado em um reportagem da televisão estatal, é parte de uma série de vozes que, aos poucos, estão encontrando espaço na imprensa oficial para falar sem máscaras sobre um problema que durante décadas foi negado ou minimizado pelo discurso governamental.

Os jovens entrevistados relatam como as drogas alteraram suas vidas, como conseguiram recomeçar em um centro de desintoxicação e como hoje voltam a sonhar em estudar, trabalhar e serem aceitos por suas famílias.

“Hoje minha família confia em mim. Antes era um problema, agora sou a solução”, afirma um deles, grato por ter encontrado uma oportunidade para se reconstruir.

As famílias também compartilharam suas experiências, nas quais expressaram a importância de aprender a estabelecer limites, entender a adição como uma doença e aceitar que o consumo não faz distinção de classes sociais.

“Não pensemos que porque temos uma boa educação estamos isentos. Isso nos toca a todos”, alertou a mãe de um adolescente em reabilitação, ressaltando a urgência de reconhecer o flagelo.

Um problema que já não pode ser escondido

Embora o oficialismo tenha tentado apresentar esses testemunhos como uma superação, a verdade é que eles revelam uma fissura na narrativa estatal. A droga atinge com força a juventude cubana e já não pode continuar sendo escondida.

Durante anos, as autoridades insistiram em minimizar o consumo e apresentá-lo como um fenômeno isolado. No entanto, em abril de 2024, o próprio Ministério do Interior (MININT) reconheceu pela primeira vez um aumento do uso de estupefacientes, especialmente do sintético conhecido como o químico, e alertou sobre a diminuição da idade de início, situada entre os 13 e 14 anos, assim como a expansão do consumo entre mulheres jovens, incluindo grávidas.

Esse mesmo ano, funcionários da Saúde Pública admitiram publicamente que o país enfrentava dificuldades para controlar o fenômeno e que havia aumentado o policonsumo entre adolescentes.

Poco depois, em agosto, o MININT confirmou a presença de drogas em escolas secundárias e pré-universitárias, apontando um aumento preocupante da substância química em ambientes estudantis.

O giro na narrativa se aprofundou em fevereiro de 2025, quando o governo declarou uma “guerra ao narcotráfico” e anunciou a criação do Observatório Nacional de Drogas para monitorar o fenômeno.

Três meses depois, Miguel Díaz-Canel reconhecia a preocupação social com o aumento do consumo em bairros habanenses como Guanabacoa, embora transferisse grande parte da responsabilidade para as famílias, sem abordar as causas estruturais que alimentam o problema.

Finalmente, em julho de 2025, o governo apresentou oficialmente o Observatório como uma ferramenta de “tolerância zero”, com um sistema de alerta precoce e promessas de pesquisa e dados que ainda aguardam para se concretizar.

Vozes que comovem e alertam

Mais além das declarações oficiais, o que comove são as palavras de quem conseguiu seguir em frente. “Hoje abraço minha mãe, beijo minha avó e as vejo mais felizes”, confessou um jovem que está limpo há quatro meses.

El dolor também atinge as famílias. “Não vamos perder de vista nossos jovens. Ao mínimo sinal de mudança, busquemos ajuda. Não importa onde vivamos, as drogas afetam a todos”, insistiu uma mãe, deixando claro que esse flagelo não está mais limitado a “bairros marginalizados” ou a setores vulneráveis, mas que alcança toda a sociedade cubana.

Os testemunhos apresentados pela televisão oficial mostram uma Cuba que já não pode continuar negando o avanço das drogas. São relatos que dignificam a resiliência dos jovens e das famílias, mas também expõem um drama que cresce em silêncio: a falta de ferramentas sociais e institucionais para enfrentar uma epidemia que se alastra.

Enquanto o governo tenta capitalizar o discurso com novas estruturas como o Observatório Nacional de Drogas, as vozes desses jovens lembram que o urgente não é a propaganda, mas sim a prevenção, o atendimento real e a esperança de que "viver" seja a opção para todos.

Perguntas frequentes sobre o consumo de drogas em Cuba

Qual é a situação atual do consumo de drogas em Cuba?

O consumo de drogas em Cuba aumentou significativamente, especialmente entre os jovens, com um aumento no uso de drogas sintéticas como "o químico". Esta substância é de fácil acesso e baixo custo, o que trouxe a um padrão crescente de consumo em ambientes escolares e comunidades periféricas.

Que ações o governo cubano tomou para combater o problema das drogas?

O governo cubano declarou uma "guerra ao narcotráfico" e criou o Observatório Nacional de Drogas com o objetivo de monitorar e controlar o fenômeno. No entanto, as medidas têm sido principalmente repressivas, focando em operações policiais e julgamentos exemplarizantes, sem abordar adequadamente as causas estruturais do problema.

Como o consumo do "químico" afeta a saúde dos jovens cubanos?

"El químico" é uma droga sintética altamente tóxica que pode provocar convulsões, alucinações severas e danos neurológicos irreversíveis. Seu consumo tem sido associado a episódios violentos e comportamentos autodestrutivos, representando um grave risco para a saúde dos jovens em Cuba.

Que papel desempenham as famílias no enfrentamento ao consumo de drogas em Cuba?

O governo cubano tem insistido que as famílias devem ser um pilar fundamental na luta contra as drogas. No entanto, a responsabilidade não deve recair apenas sobre elas, já que o problema possui raízes mais profundas que requerem uma resposta integrada que inclua políticas públicas efetivas e apoio institucional.

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