Dura reflexão desnuda a realidade em Cuba: Não se trata apenas de ter comida, mas de evitar que ela se estrague devido aos apagões

“De que serve ter se você vai perder de qualquer jeito?”: cubana lança mensagem desgarradora sobre o impacto dos apagões na conservação dos alimentos.

María MontenegroFoto © TikTok / @mariamontenegrofficial

Em um vídeo recente compartilhado no TikTok, a cubana María Montenegro (@mariamontenegroofficial) compartilhou uma reflexão dura sobre os efeitos dos apagões na vida doméstica em Cuba. Seu testemunho, em preto e branco e com um tom sereno, mas contundente, resume uma preocupação comum: mesmo quando se consegue ter comida, a ameaça de perdê-la por falta de eletricidade é constante.

“Em Cuba, não se trata apenas de ter comida, o problema começa depois, quando você a guarda e sabe que a qualquer momento pode estragar por causa dos apagões”, diz no vídeo.

A jovem também destaca o esforço para conseguir alimentos em meio a uma crise energética, onde nem sempre é possível preservá-los. “Então a gente se pergunta: de que adianta ter se você vai perder?”, afirma.

Também faz alusão às usinas elétricas como solução aparente, mas admite que estão fora de seu alcance: “De onde vou tirar uma usina? Nada. Acabo fazendo a mesma coisa: uma luta constante entre ter e não ter. No final, até o que consigo obter se torna frágil porque nada está garantido”.

Esta não é a primeira vez que María Montenegro torna visível o seu dia a dia nas redes sociais. Dias antes, ela havia compartilhado que sua motivação para criar conteúdo no TikTok é gerar renda para ajudar sua mãe e sua avó. “Não busco fama, só quero ganhar dinheiro para que possamos comer”, disse ela na ocasião. Apesar da conexão instável e dos custos de acesso à internet na ilha, ela continua publicando vídeos onde combina música, reflexão e rotinas pessoais.

Além dessas reflexões que compartilha nas redes sociais, María Montenegro é cantautora, produtora musical, fotógrafa e realizadora audiovisual. Apaixonada pela música e pela criação artística, esclareceu recentemente que não vive do TikTok, mas que trabalha e busca se destacar com sua arte para ajudar sua família.

En seu canal do YouTube ela se descreve como “cantora e compositora cubana independente”. "Meu estilo principal é o pop, mas eu fusiono diversos gêneros como música cubana, gospel, latin, tropical, reggae e reggaetón, criando sons únicos e experimentais. Minhas canções são inspiradas em histórias reais, buscando conectar emocionalmente com meu público", é o que se lê na apresentação. Além disso, publica vlogs onde compartilha sua vida na ilha. “Aqui mostro minha Cuba, aquela que vivo dia a dia”, acrescenta.

"Atualmente, María está trabalhando em seu próximo álbum, uma obra que promete ser uma exploração ainda mais profunda de seu som distintivo. Até a data, ela lançou 14 músicas, 2 delas Versão Cover", se lê na resenha da artista em Spotify.

O testemunho de Montenegro se junta a uma onda de publicações semelhantes que se tornaram virais nas redes sociais cubanas. Uma cidadã publicou uma carta aberta ao ministro da Energia na qual questionava o mau trato às famílias cubanas devido aos apagões e à falta de gás. Outra usuária mostrou como deve cozinhar com carvão porque em sua casa não há gás nem eletricidade, e afirmou: “Os cubanos nunca temos um dia de alegria”.

Em outros depoimentos, mulheres documentaram como lavam roupas à mão sem água corrente nem máquina de lavar, adaptando-se a cortes de energia, enquanto uma mãe relatou que acende lenha de madrugada para poder preparar leite para a sua filha. Também têm circulado vídeos onde jovens mostram alimentos estragados por falta de refrigeração.

Os relatórios oficiais refletem o contexto desta situação. A União Elétrica informou nesta quarta-feira que o sistema nacional registrou déficits de mais de 1.700 megawatts e interrupções contínuas durante 24 horas. A geração continua limitada devido a falhas em termelétricas, manutenção de unidades chave e escassez de combustível.

Em Matanzas, uma jovem documentou apagões de mais de 30 horas e mostrou ovos estragados e refrigeradores descongelados. “Dá bastante trabalho consegui-los e é bastante caro que temos que pagá-los para depois se estragarem”, disse em sua publicação. Como ela, outros usuários afirmaram que em Cuba não se escolhe o que se come, mas sim o que aparece.

O vídeo de María Montenegro, por sua vez, é uma reflexão a partir do cotidiano, do que se vive portas adentro em muitos lares cubanos. Sua voz, como a de muitos outros, não precisa de escândalo para ser ouvida. Basta expor a rotina: ter algo para comer, mas não saber se durará o suficiente. Porque em Cuba, até mesmo o pouco que se consegue pode se perder em um apagão.

Perguntas frequentes sobre a crise energética e a vida cotidiana em Cuba

Como os apagões afetam o dia a dia em Cuba?

Os apagões em Cuba afetam gravemente a vida diária dos cidadãos. A falta de eletricidade não só dificulta a conservação de alimentos, mas também impede a realização de tarefas cotidianas, como cozinhar, lavar roupas e manter uma temperatura agradável nos lares. Isso obriga as famílias a buscar soluções alternativas, como o uso de fogões a carvão ou geradores elétricos, para conseguir levar o dia a dia.

Que soluções os cubanos buscam diante dos cortes de eletricidade?

Ante os cortes de eletricidade, os cubanos recorrem a diversas soluções para mitigar os efeitos. Algumas famílias utilizam geradores, embora estes sejam caros e não estejam ao alcance de todos. Outros optam por cozinhar com carvão, e, em algumas ocasiões, dependem da ajuda de vizinhos com recursos adicionais, como ventiladores recarregáveis ou acesso a geradores.

Como a crise energética influencia a alimentação das famílias cubanas?

A crise energética tem um impacto direto na alimentação das famílias cubanas. A falta de eletricidade faz com que os alimentos se estraguem rapidamente, obrigando as famílias a cozinhar imediatamente o que conseguem ou a perder esses alimentos. Além disso, a escassez de gás e eletricidade limita as opções para cozinhar, aumentando o uso de métodos como o carvão.

O que os cubanos acham da situação energética atual?

Os cubanos expressam um profundo descontentamento com a situação energética atual. Muitos sentem que os sacrifícios que fazem para obter alimentos e outros recursos básicos são em vão devido à falta de soluções eficazes por parte do governo. A frustração se manifesta nas redes sociais, onde os cidadãos compartilham suas experiências diárias e denunciam a ineficácia das autoridades para resolver a crise.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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