Exluchador cubano Luis Ibáñez: “Minha vida começou quando decidi seguir um novo caminho”

“Sonho em criar uma academia para crianças e adolescentes no meu bairro, aqui em Houston”, contou Ibáñez à CiberCuba.

Luis Ibáñez foi a principal figura da luta livre cubana na categoria até 57 quilos, no início deste séculoFoto © Cortesia a CiberCuba

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Habanero de pura cepa, de esses que se orgulham de ter nascido em Mantilla, nosso entrevistado de hoje foi a primeira figura da luta livre cubana nos 57 quilos, nos anos iniciais do século presente. Falamos de Luis Ibáñez, “Luisitín” para seus amigos e colegas de trabalho.

O que está fazendo neste momento o Luisitín?

Atualmente vivo em Houston, Estados Unidos. Trabalho na Miller Piper Yard, que é onde são armazenados os canos de petróleo. Estou indo muito bem. Este país me abriu as portas, e trabalhando, você consegue o que se propõe. Primeiro trabalhei em Segurança e depois passei para as plantas, onde permaneço, pois sou instalador de tubulações (pipe fitter).

Como você chega aos Estados Unidos?

Estive no “Cerro Pelado” entre 2003 e 2012, ano olímpico. Eu já sabia o que queria para a minha vida e, quando participei do Pré-olímpico em Orlando, Florida, abandonei a delegação junto com os 120 quilos da luta livre Disney Rodríguez. Aquele 22 de março de 2012 é minha nova data de nascimento.

Foi fácil a decisão?

Nada fácil resultou. Deixar para trás a família, os amigos, o bairro; deixar para trás o lugar onde você nasceu... ¡nada fácil! Mas eu me vi no espelho de grandes atletas como Yandro Quintana, Ángel Valodia Matos, Wilfredo García, os dois primeiros titulares olímpicos, e nas condições em que vivem… Eles e muitos outros, sem recursos, enfrentando dificuldades. ¡Não!

Aqui, em pouco mais de uma década, tenho minha casa própria, carro, ajudo minha família em Cuba; minha filha pratica esportes. Sou um homem feliz, especialmente porque minha esposa e eu estamos à procura do menininho.

Quando decidiste ficar em Orlando, Flórida, como você fez isso?

Te conto que saí de madrugada do hotel e encontrei o Disney. Ele me disse que, se eu fosse, ele iria comigo, e assim dissemos adeus à equipe, não sem tristeza. Aí estava Londres 2012… Que atleta não se empolga em competir em Jogos Olímpicos? Mas, quer saber de uma coisa? Não me arrependo de nada; muito pelo contrário. Tomei uma decisão que salvou minha vida e a dos meus.

Quando saímos do hotel, seguimos para outra cidade da Flórida, Cape Coral, e de lá para uma academia de luta na Califórnia, pertencente à KASECA, treinamento dos EUA, onde me ajudaram bastante com a documentação. Dali, já com o visto de trabalho, vim trabalhar na Miller Piper Yard, que é onde são armazenados os dutos de petróleo.

Sua esposa também foi atleta. Quando ela chegou?

Sim, claro, você a entrevistou. Ela é a ex-floretista da equipe nacional Yuleidi Terry Bolaños. Ela veio fazendo uma longa travessia desde o Equador e chegou em 2015. Foi uma rápida jornada, pois fez isso em apenas duas semanas.

Luisitín junto à sua esposa e filha. Foto: Cortesia a CiberCuba

Atualmente trabalha ao meu lado. Já temos uma filha, Yulia Rosa, de oito anos. Ela pratica ginástica e já se classificou para uma competição estadual. É muito boa - não porque eu esteja dizendo! - principalmente nas assimétricas.

E, como te disse anteriormente, estamos à procura do menino para completar o casal, embora se vier outra menina, será muito bem-vinda!

Luisitín, você sempre foi lutador, sempre libertário?

Ah! Minha história é longa. Entrei "por palanca" na EIDE Antonio Maceo, em Artemisa, onde permaneci por quatro anos e depois fui para o CEAR "Cardín" por mais três anos. E sim, sempre pratiquei o livre. Gostava muito mais. É mais abrangente, mais dinâmica, combina mais com meu caráter. Arturo Yánez, Jesús Rodríguez e Francisco "Paquitín" foram meus treinadores, dos quais guardo boas lembranças.

Estando no CEAR, participei do Mundial Juvenil na Turquia em 2003 e fiquei em quinto lugar. Já sabe, sem quase nenhum treinamento, e enfrentei os grandes, mas poderia ter feito mais, te asseguro.

Em 2003, matriculei-me no “Cerro Pelado” e ganhei naquele mesmo ano o Panamericano do Esporte na Guatemala, assim como nas edições de 2009, na Venezuela, e 2011, na Colômbia, enquanto que em 2007 no Rio de Janeiro fiquei em segundo lugar.

Luis Ibáñez, vencedor de campeonatos nacionais e torneios internacionais “Cerro Pelado”, subiu ao mais alto do pódio na competição por equipes da Copa do Mundo de 2005 e, anos depois, conquistou a medalha de bronze individual na Copa do Mundo de 2009.

Ele se preparava para representar sua divisão nos Jogos Olímpicos de Londres, quando ganhou sua “principal medalha”.

O que você acha da luta atual; você sabe como está o "Cerro Pelado"?

¡Ay, Julita! Aquilo está tão devastado como a Ucrânia... cinza! Além das poucas condições para fazer um bom treinamento, a alimentação está péssima. Não há barreiras, não há treinamento de campo. O que posso te dizer? Fico muito triste com essa situação, mas nada pode ser feito se não houver uma mudança.

O esporte, não apenas a luta, é o reflexo do país.

Treinadores que mais te ajudaram…

Eu, por esse lado, tive sorte: Filiberto Delgado, Arturo Yánez, Juan Caballero e Bárbaro Morgan.

Melhores lutadores de todos os tempos no mundo..

Mira, isso não é algo que precise de muito pensamento. No estilo livre, o russo Buvaisar Saitiev, três vezes campeão olímpico e seis vezes monarca mundial; enquanto que na greco-romana, não existe outro além do cubano Mijaín López e seus cinco títulos olímpicos.

Sueños de Luis Ibáñez...

Primeiro, que venha o varão haha -ou a menininha- e, depois, poder criar uma academia de esportes de combate, especialmente de luta, para todas as crianças e adolescentes do meu bairro. É melhor que pratiquem esportes antes que se desviem. Esse é meu desejo, junto com meus companheiros Serguei Rondón e Odelis Herrero, ex-lutadores da seleção nacional cubana. Todos somos família, moramos na mesma cidade, aqui em Houston, e trabalhamos com o mesmo incentivo e objetivo.

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Julita Osendi

Formada em Jornalismo pela Universidade de Havana em 1977. Jornalista, comentarista esportiva, locutora e produtora de mais de 80 documentários e reportagens especiais. Entre minhas coberturas jornalísticas mais relevantes estão 6 Jogos Olímpicos, 6 Campeonatos Mundiais de Atletismo e 3 Clássicos.