Yilian Jiménez Expósito, funcionária do Ministério da Saúde Pública (MINSAP), negou categoricamente que o governo cubano tenha restringido o acesso do ativista cubano-americano Carlos Lazo ou de outros grupos solidários às instituições de saúde, embora em suas declarações tenha acabado admitindo que em algumas ocasiões foi negada a entrada a Lazo e explicou o motivo.
"Cuba nunca negou o acesso dos grupos solidários às instituições de saúde", afirmou inicialmente Jiménez Expósito, em resposta às recentes declarações do professor Lazo, criador do projeto Fábrica de Sonhos e da Caravana Puentes de Amor, que denunciou o bloqueio à ajuda direta aos hospitais.
Segundo a funcionária -que é chefe do Departamento de Colaboração da Direção de Relações Internacionais do MINSAP- o próprio Lazo possui provas documentais que comprovam a entrega de suas doações.
"Faltou à verdade. Quando não pôde visitar o hospital, sempre lhe foram enviadas evidências da recepção dessas doações nas instituições", afirmou a funcionária em declarações coletadas por Cubadebate.
Jiménez Expósito aproveitou para expressar seu reconhecimento pelas ajudas solidárias oferecidas por Lazo a diversas instituições de saúde em Cuba, especialmente as pediátricas.
"Como parte deste povo e funcionária do Ministério da Saúde Pública, primeiro quero agradecer as contínuas ajudas que tem prestado às nossas instituições, especialmente às pediátricas. Contribuições que, em conjunto com outros amigos da solidariedade nos Estados Unidos, trabalham conosco", apontou.
No entanto, Jiménez Expósito acabou admitindo que a Lazo sim teve a entrada negada em algum hospital e explicou o motivo.
"Talvez se o professor Lazo não pôde visitar uma instituição porque sua visita foi sem aviso prévio, buscando um ingresso de última hora, e nem sempre é possível visitar as instituições para não interromper os processos assistenciais", afirmou a funcionária.
No entanto, contraditoriamente, reiterou que o acesso nunca foi proibido: "Não é verdade que tenha sido proibido entrar nas instituições de saúde; isso foi feito durante todo esse tempo."
Finalmente, a funcionária recomendou que as visitas futuras sejam organizadas com antecedência, para evitar contratempos.
"Essas visitas devem ser organizadas e com aviso prévio, sem burocracia, porque desde o MINSAP trabalhamos para que essa ajuda tão necessária para este povo chegue com imediata e na maior brevidade possível", afirmou.
Agradecimento pelas contribuições solidárias
A funcionária não perdeu a oportunidade de agradecer a outros grupos de apoio internacional, como Pepe e a Associação Cultural José Martí, bem como a figuras como "Aurora" e Nachito Herrera, do Canadá e da Espanha, dos quais disse que enviam doações de forma contínua "e muitas vezes de forma anônima".
"A visita às nossas instituições não é algo proibido. Isso é demonstrado pelas recentes doações de Nachito Herrera e Aurora ao hospital provincial de Villa Clara, com 24 toneladas de insumos e medicamentos", indicou a funcionária.
Jiménez Expósito destacou que as contribuições aumentaram em meio às restrições impostas pelo embargo estadunidense e às limitações enfrentadas pelo sistema de saúde cubano.
Também mencionou os esforços de organizações como Las Hormigas Solidarias, que têm realizado várias visitas a instituições de saúde sem inconvenientes.
“Muitas vezes, em condições logísticas difíceis, viabilizam-se essas entregas para que as doações cheguem, apesar da falta de combustível”, concluiu.
A origem da polêmica
Previamente, o ativista cubano-americano Carlos Lazo denunciou que as autoridades cubanas impõem restrições para a entrega direta de suprimentos médicos e leite em pó a hospitais pediátricos da ilha.
Em um comunicado publicado em suas redes sociais, Lazo assegurou que o regime está obstaculizando o trabalho humanitário que sua organização realiza há anos em benefício da população cubana.
"Já 'Puentes de Amor' não pode visitar os hospitais pediátricos cubanos", afirmou.
Disse que o problema vem desde há meses, mas que os ativistas continuam "mergulhados na tarefa de levar doações a Cuba", apesar de haver uma "regulação misteriosa" que os proíbe de visitar os centros médicos.
A denúncia de Lazo marcou uma mudança em seu discurso, após anos sendo percebido como um aliado do governo cubano em sua cruzada contra o embargo estadunidense.
Desde a fundação do "Puentes de Amor", Lazo defendeu a suspensão das sanções econômicas e manteve reuniões com representantes do governo em Havana, incluindo uma audiência com Miguel Díaz-Canel em 2021.
"Al parecer, o extremismo, a desconfiança e o silenciamento contra nós não são fenômenos exclusivos de Miami. Em Cuba também acontecem coisas que desanimam e ofendem aqueles que lutam pela família cubana", disse o ativista.
A evolução de Lazo como figura pública é complexa. Em 2022, seu apoio aberto ao levantamento do embargo, suas visitas a Cuba e seus encontros com o governo cubano lhe renderam fortes críticas do exílio em Miami.
A comunidade cubana na Flórida inclusive organizou uma campanha na Change.org que reuniu mais de 10 mil assinaturas para declará-lo "persona non grata", acusando-o de ser um defensor do regime.
Lazo sempre negou essas acusações, insistindo que sua única lealdade era com a família cubana e não com nenhuma agenda política. No entanto, a recente proibição de acessar hospitais parece ter transformado sua perspectiva.
"Não é justo que cubanos emigrados dignos se sacrifiquem tanto para depois serem tratados assim. Não é justo que esses ativistas que enfrentam ameaças, ofensas e perigos em Miami, cheguem a Cuba e sejam tratados como párias. Nem lá nem aqui posso permanecer indiferente quando se desmerece e silencia o esforço de homens e mulheres que dão tanto por seu povo e pela família cubana", lamentou Lazo agora.
Lazo denunciou que, além de impedir que ele entregasse donativos diretamente, as autoridades cubanas teriam orientado amigos e instituições na ilha para não colaborarem com seu projeto.
"Essa situação temos tentado esclarecer em vários níveis, com instituições e funcionários. As respostas são evasivas. As instituições e os burocratas com quem tentamos esclarecer a confusão nos dizem que 'não acontece nada', mas os desprezos, falta de educação e até maus-tratos verbais que nossos ativistas têm recebido mostram o contrário", explicou.
"Nem regulamentações, nem incompreensões, nem obstáculos nos impedirão de continuar impulsionando esta obra. Esta é uma obra de amor. O amor é imperecível. A família cubana seguirá em frente!", concluiu em seu comunicado.
Perguntas frequentes sobre a controvérsia entre Carlos Lazo e o regime cubano
Que denúncia Carlos Lazo fez contra o governo cubano?
Carlos Lazo denunciou que o governo cubano está dificultando a entrega direta de insumos médicos e leite em pó para hospitais pediátricos de Cuba. Segundo ele, há regulamentações que impedem sua organização, "Puentes de Amor", de visitar esses centros médicos para entregar doações.
Qual tem sido a resposta do regime cubano às acusações de Carlos Lazo?
Yilian Jiménez Expósito, funcionária do Ministério da Saúde Pública, negou que tenha sido proibido o acesso de Lazo aos hospitais. Afirmou que as visitas devem ser organizadas com antecedência para não interromper os processos assistenciais, e que não existem restrições para a entrada de grupos solidários.
Como a relação de Carlos Lazo com o governo cubano mudou?
Carlos Lazo, anteriormente visto como um aliado do regime cubano, mudou sua postura após as recentes restrições ao seu trabalho humanitário. Agora critica tanto o bloqueio americano quanto os obstáculos internos do governo de Cuba, apontando que essas ações desmotivam aqueles que buscam ajudar o povo cubano.
Por que o caso de Damir Ortiz é relevante no contexto da denúncia de Carlos Lazo?
O caso de Damir Ortiz, um menino que necessita de atenção médica especializada fora de Cuba, destaca as deficiências do sistema de saúde cubano e a burocracia que enfrentam aqueles que buscam ajuda internacional. A negativa do MINSAP em autorizar seu tratamento nos EUA é um exemplo das barreiras internas que impedem o acesso a uma atenção médica adequada, semelhante aos obstáculos apontados por Carlos Lazo.
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