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A atriz cubana Maikel Amelia Reyes publicou uma extensa mensagem nas redes sociais que, em menos de um dia, acumulou dezenas de milhares de reações ao apelar para “viver com mais amor” em meio às múltiplas crises nas quais Cuba está mergulhada.
Em sua publicação compartilhada neste sábado em seu perfil de Facebook, a atriz reconhece que Cuba vive tempos “dificilíssimos”, marcados por carências materiais, apagões, doenças e a fragmentação familiar causada pela emigração, mas insiste que, mesmo nesse contexto, cada pessoa mantém a capacidade de escolher como enfrentar a realidade.
Reyes relata a dor da distância em relação à sua mãe, seu irmão e outros familiares, assim como a impossibilidade econômica de se reunir com eles com frequência.
Ainda assim, afirma que se obriga a optar pela gratidão e pela plenitude, convencida de que assumir a responsabilidade pessoal permite deixar de culpar os outros pela própria desgraça.
O texto defende a ideia de que a miséria material foi acompanhada de uma degradação espiritual e emocional, visível — segundo a atriz — no aumento do ódio, da inveja e da agressividade social.
“É estranho ver as pessoas sendo gentis umas com as outras, os cheiros de carvão misturados com churrasco, sinto falta de desejarmos bem uns aos outros sem que a maldade e a miséria de espírito e mente que a miséria material trazam interfiram e a inconsequência de acreditar que não podemos escolher”, escreveu.
Por isso, acrescentou: "se em vez de odiar, invejar e criticar, abençoássemos mais, ajudássemos mais, nos alegrássemos mais com o bem do nosso vizinho ou colega, então seríamos mais abundantes em todos os sentidos positivos e vibraríamos a partir do amor e da gratidão".
Em um dos trechos mais comentados, Reyes afirmou que não existe igualdade em nenhum país ou sistema social, mas sim a possibilidade de nos tratarmos com respeito, amor e gentileza, porque "o fato de que você tenha uma economia melhor que a minha, não me diminui... quanto mais tiverem os que estão ao seu redor, mais você terá".
A propósito do novo ano, desejou que 2026 “nos permita discernir e compreender que temos o poder de mudar pelo menos nosso metro quadrado e que temos a capacidade de escolher viver com mais amor em meio ao caos, assim chegam mais milagres para nossas vidas, mais oportunidades e mais abundância do que é bom”.
A mensagem, encerrada com referências religiosas e um desejo de renovação mental e emocional para os próximos 12 meses, gerou reações divergentes.
Reações
Centenas de usuários agradeceram o apelo à fé e à resiliência, embora outros lembrassem da responsabilidade do poder político em uma crise marcada pelo colapso dos serviços básicos, pela falta de expectativas e por um futuro cada vez mais incerto para milhões de cubanos.
Nesse sentido, apontaram que enquanto em Cuba existir um sistema controlado pelo Partido Comunista, o cidadão cubano não terá liberdade de escolher nem seu próprio destino.
Al respecto, no grupo do Facebook Desmentindo o NTV de Cuba, o usuário Ghostman Barceló publicou um extenso texto em que questiona frontalmente a abordagem da mensagem e a associa ao discurso oficial que, segundo afirma, desloca a responsabilidade política para o indivíduo.
Barceló chegou a identificar a atriz com seu personagem Lucía, da série policial Tras la huella, sugerindo que sua reflexão reproduz a lógica moral do aparelho repressivo.
Em sua resposta, o usuário rejeitou a ideia de que a crise cubana possa ser resolvida por meio de uma mudança de atitude pessoal ou uma “visão espiritual” sobre a realidade.
Afirmou que pedir gratidão, calma ou amor em um contexto de escassez, medo e repressão equivale a exigir resignação, e afirma que a capacidade de escolher não é um ato místico, mas um privilégio material do qual milhões de cubanos carecem.
A seu juízo, apresentar a miséria como um problema emocional ou de "vibração" constitui uma forma elegante de culpar as vítimas.
O texto recorre reiteradamente a citações de José Martí para contrapor a noção de justiça à de caridade emocional, e acusa esse tipo de discurso de encobrir a desigualdade estrutural e o privilégio associado ao poder.
Barceló concluiu que a indignação e a crítica não são ódio nem inveja, mas sim expressões de dignidade, e que amar Cuba não implica em aceitar o colapso com serenidade, mas sim em apontar os responsáveis e exigir mudanças reais, mesmo que isso cause desconforto.
A popular atriz está se recuperando ainda do chikungunya, mas garante que não parou de trabalhar apesar das fortes dores que a doença causa.
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