Uma mãe cubana em Madrid, identificada no TikTok como Yexela González, compartilhou nas redes sociais o que considera o momento mais difícil que viveu desde que emigrou para a Espanha com seu marido e seus dois filhos.
“Esta é uma pergunta que me fizeram por privado e, bom, aproveito para responder de modo público”, explicou @yexelagonzlez no vídeo. “Ao chegarmos em Madrid, há 9 meses atrás, uma das primeiras ações que tomamos foi garantir que nossos filhos fossem para a escola. Não havia se passado duas semanas e nossos filhos já estavam frequentando a escola.”
Contou que o episódio ocorreu durante o primeiro aniversário ao qual foi convidado seu filho mais velho, de sete anos. “Meu esposo foi à festa de aniversário e, estando lá, há um momento em que eu o chamo e pergunto como está tudo, e ele me disse: está sendo muito difícil, as crianças não querem brincar com ele, e ele está basicamente correndo atrás de todos os outros meninos, e está realmente muito afetado”, relatou.
A mãe apontou que a ligação permaneceu aberta e que ouviu a voz da criança dizendo: “Eu não quero brincar com você, olhem para mim, me atendam”.
“Eu chorei lágrimas nesse dia, porque entendi que seria um processo difícil e porque não tínhamos as ferramentas ou não podíamos salvá-lo daquela situação”, acrescentou. “Era necessário esperar que o tempo passasse e que ele fosse encontrando seu caminho”.
González esclareceu que não considerava que as outras crianças agissem com má intenção. “Não porque os colegas estivessem fazendo isso de propósito, mas porque simplesmente já era um grupo formado e ele era novo”, explicou. Também falou sobre o contraste cultural entre a educação cubana e a espanhola: “Uma criança cubana tem uma cultura porque seus pais se comportam de uma maneira que não é igual à dos pais espanhóis. E de repente, a gente a coloca em um avião e a inscreve em outra escola, com outras crianças, com outra cultura… e isso é difícil”.
Segundo ele disse, com o passar dos meses, seu filho começou a se integrar melhor. “Ele tem uma relação melhor, um melhor amigo, que é um garoto também imigrante, paraguaio, de uma cultura semelhante à dele. Continuamos enfrentando desafios. Há dias melhores, há dias nem tanto”, afirmou.
“O rejeição causa muito dano.”
O testemunho de Yexela provocou uma ampla resposta entre mães cubanas e latino-americanas que compartilharam experiências semelhantes. “É dura a nossa situação como emigrantes, eu passei por tantas, principalmente com o mais velho que chegou com 14 anos”, escreveu uma usuária. Outra mulher acrescentou: “Meu coração, você não sabe como eu sofri com minha filha desde pequena. Ela já tem 16 anos e ainda o caminho é difícil.”
Entre as respostas, uma mãe explicou que sua filha recebe atendimento psicológico porque “a rejeição faz muito mal a essas crianças que não entendem nada de xenofobia. As crianças ouvem isso em casa. Algo que para uma criança cubana não existe. Nós ensinamos a amar todas as crianças da mesma forma. Isso é o que sinto falta de Cuba, a nossa igualdade social.”
Várias pessoas concordaram na dor de ver seus filhos passando pela mesma situação. "Você chorou naquele dia, pois eu estou aqui com os olhos marejados ouvindo você, só de imaginar a cena da criança. Vamos em frente, que tudo ficará bem", escreveu uma mãe. Outra comentou: "Madri é muito dura, até mesmo para os mais velhos. Tudo funciona por grupos fechados". Também houve quem destacasse a força dos menores: "As crianças são os verdadeiros heróis da emigração. Apesar de tudo o que fazem pelo futuro deles, são elas as mais corajosas no processo".
Outras mulheres compartilharam testemunhos quase idênticos: “Cheguei com meus dois filhos de 9 e 13 anos, já estamos aqui há 3 anos e ainda choro. Meu menino ficava só olhando a paisagem... com a menina estou passando dificuldades, ela tem apenas um amigo porque muitas crianças aqui são cruéis”, contou uma. Outra relatou: “A mesma coisa aconteceu comigo com minha filha quando chegamos aqui há dois anos. Minha filha voltava chorando e tinha 10 anos. Foi uma fase muito difícil. Eu chorava escondida dela.”
“Cada idade tem seus desafios.”
A mãe cubana respondeu com empatia àqueles que lhe deixaram mensagens. A uma seguidora que expressou seu medo pelos adolescentes, ela respondeu: “Esse é outro medo. Há coisas aqui que não têm nada a ver com nossa cultura. Vejo os adolescentes e me dá terror.”
A outra mulher que contou que sua filha precisou de ajuda psicológica, escreveu: “Você está fazendo a coisa certa, buscando ajuda e permanecendo ao lado dela. Não deixe de dizer a ela o quão linda, valiosa e inteligente ela é.”
Também deixou palavras de ânimo para outras mães: “Cada idade tem seus desafios… no final, eles não são daqui, embora se adaptem”, e em outro recado acrescentou: “Todos os começos são terríveis, é preciso ter confiança e força”.
Uma história de emigração contada passo a passo
La experiência de Yexela faz parte de uma série de publicações onde ela tem relatado sua vida como mãe cubana na Espanha. Em um de seus vídeos mais compartilhados, explicou as razões que a levaram a deixar a ilha: “Eu era feliz em Cuba. Tinha minha casa, meu negócio, meu esposo, amigos, amor… mas quando me tornei mãe, entendi que tinha que sair do meu país”, disse. Nessa mesma publicação, garantiu que “há sonhos que em Cuba jamais poderei cumprir para meus filhos” e que “não quero ser uma avó presa em Cuba. Quero estar a uma distância de um bilhete de avião da casa dos meus filhos”, conforme contou em um testemunho anterior compartilhado no TikTok.
Meses depois, quando seus filhos começaram o ano letivo em Madrid, publicou outro vídeo no qual comparou sua vida atual com o que deixou para trás em Cuba. “Desde que sou mãe, esta será a primeira vez que não precisarei juntar dinheiro durante vários meses para comprar um par de sapatos”, disse. Ela acrescentou que também era “a primeira vez que não me preocupo se a comida na escola será ruim e insuficiente” e que “coisas tão simples como o lanche escolar são um desafio para um pai cubano; coisas tão banais como ter um par de sapatos decentes e meias brancas é quase uma utopia”, conforme expressou em outra mensagem publicada nas redes.
Como muitas mães cubanas, Yexela aprendeu que emigrar não é apenas mudar de país, mas reconstruir uma nova vida a partir do amor e da paciência.
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