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Quando o Governo cubano anunciou o chamado Ordenamento, prometeu uma reestruturação “integral” da economia, a unificação monetária e um caminho em direção a maior eficiência. Quatro anos depois, o balanço é inequívoco: o Governo aplicou apenas metade do pacote, e, por acaso, a metade que mais pesa sobre os cidadãos.
Cuba adotou medidas típicas de um ajuste neoliberal, embora nunca o reconheça: desvalorização massiva do peso, eliminação de subsídios, aumento de tarifas, liberalização parcial de preços e criação de um mercado em divisas que segrega brutalmente a população.
Mas evitou -de forma deliberada- as outras medidas pró-mercado que realmente geram crescimento e produtividade em qualquer país que as implemente. O resultado é um país que sofreu a dor das reformas, mas não recebeu nenhum dos seus benefícios.
As medidas que realmente tomaram: o ajuste sem crescimento
Desde 2021, o Governo implementou decisões com uma clara marca neoliberal:
- Desvalorização abrupta do CUP.
- Aumento das tarifas de eletricidade, transporte e serviços básicos.
- Eliminação de subsídios generalizados.
- Liberalização de preços em meio a uma oferta colapsada.
- Autonomia salarial limitada em empresas estatais.
- Legalização de MIPYMES, mas restritas e sem acesso real a divisas.
- Criação de lojas em MLC que obrigam o cidadão a financiar o próprio Estado.
Isto é neoliberalismo sem mercado, um oxímoro que apenas Cuba é capaz de produzir: o Estado renuncia a proteger o cidadão, mas não renuncia ao controle do mercado.
As medidas que não tomaram: as que poderiam tirar Cuba do estancamento
Para que qualquer reforma funcione, é necessário liberar forças produtivas, gerar confiança jurídica e permitir competição real. Cuba fez o oposto.
- Não unificaram verdadeiramente a taxa de câmbio. Mantiveram um dólar oficial fictício, enquanto o país opera no mercado informal.
- Não criaram um mercado legal de câmbio. Sem acesso transparente a dólares, nenhuma empresa pode crescer nem planejar.
- Não permitirão a importação direta. As MIPYMES dependem de empresas estatais que encarecem, atrasam e controlam tudo.
- Não reformaram a agricultura. A terra continua sem ser plenamente do camponês, e o Estado segue impondo acopios.
- Não liberaram o comércio atacadista e varejista. Nem cash & carry privados, nem cadeias independentes, nem concorrência real para a GAESA.
- Não deram garantias à propriedade privada. Sem segurança jurídica, nenhum investidor sério entra, e os nacionais investem de forma defensiva.
- Não desmonopolizaram a GAESA. A maior corporação do país continua intocável, mesmo que sua eficiência seja opaca e seu peso seja asfixiante.
- Não permitiram competição em bancos, telecomunicações ou energia. Três setores que, em qualquer país, são motores de investimento imediato.
Em resumo: evitaram exatamente o que funciona.
O grande erro estratégico: fazer apenas o que empobrece as pessoas
Na economia, a ordem dos fatores altera sim o resultado. Se você vai retirar subsídios, deve primeiro aumentar a oferta, introduzir concorrência, reorganizar empresas estatais, criar um mercado cambial funcional e permitir a importação direta.
Cuba fez o contrário:
- Primeiro, cortou subsídios.
- Primeiro, subiu os preços.
- Primeiro, desvalorizou.
- Primeiro empobreceu o povo.
E deixou para “mais adiante” -ou seja, nunca- as reformas que implicam ceder poder.
Por que não fizeram o que funciona?
Por uma razão simples: As reformas que tiram os países do buraco são as mesmas que reduzem o controle político do Estado.
- Permitir a competição enfraquece os monopólios estatais.
- Garantir a propriedade privada limita o poder arbitrário.
- Ter um mercado cambial transparente reduz as margens de discricionariedade.
- Desmontar a GAESA implica mexer em interesses sagrados dentro do regime.
- O governo cubano preferiu uma economia destruída a perder seu controle.
Cuba precisava de mercado e regras, não de improvisação
Se o país tivesse adotado um pacote coerente de mercado - como fizeram o Vietnã, a China ou até mesmo países socialistas europeus antes de sua transformação - hoje teria mais produção nacional, inflação controlada, investimentos estrangeiros significativos, um setor privado dinâmico e uma moeda estável.
Mas sem liberar a economia, sem segurança jurídica e sem permitir a concorrência, qualquer tentativa de reforma será um remendo que agrava o problema.
Conclusão: Cuba aplicou o neoliberalismo sem crescimento, sem investimento e sem liberdade
O governo cubano executou a parte fácil do neoliberalismo: aquela que paga o cidadão. Mas evitou a parte complexa: a que exige que o Estado renuncie ao controle e permita que o país produza, compita e cresça.
Enquanto não forem adotadas as medidas que realmente liberam a economia, Cuba continuará presa a um modelo que distribui miséria e controla a escassez. O Ordenamento não fracassou por “erros de implementação”: fracassou porque foi planejado para preservar o poder, e não para salvar o país.
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Artigo de opinião: Las declaraciones y opiniones expresadas en este artículo son de exclusiva responsabilidad de su autor y no representan necesariamente el punto de vista de CiberCuba.