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A deportação de um imigrante cubano enquanto estava sob custódia das autoridades em Las Vegas acendeu alarmes entre defensores dos direitos civis e comunidades migrantes, ao revelar como a cooperação entre a polícia local e o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) pode deixar uma pessoa sem uma possibilidade real de se defender diante de um tribunal.
O caso de Sergio Morales Echevarría, um cubano detido no Centro de Detenção do Condado de Clark, está no centro de uma ação judicial apresentada pela União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) de Nevada contra o Departamento de Polícia Metropolitana de Las Vegas.
A organização alega que o imigrante foi entregue ao ICE e posteriormente deportado desobedecendo a uma ordem judicial, o que teria violado seu direito ao devido processo, segundo uma reportagem da Wyoming Public Media, integrante do Mountain West News Bureau.
De acordo com a ACLU, um juiz do Tribunal Distrital de Nevada havia ordenado que Morales Echevarría fosse transferido para um centro de tratamento para pacientes internados. No entanto, essa transferência nunca ocorreu. Em vez disso, o cubano foi liberado diretamente sob custódia do ICE a partir da prisão local, uma decisão que, segundo os advogados, não foi respaldada por nenhuma ordem judicial.
“Esta detenção não provém de um juiz, nem do poder judiciário; provém simplesmente de um funcionário do ICE,” afirmou perante o tribunal Sadmira Ramich, advogada principal da ACLU de Nevada, citada pela Wyoming Public Media.
O problema, alertam os defensores, é que esse tipo de entrega pode eliminar de vez qualquer possibilidade de que o detido compareça diante da justiça ou exerça seu direito a uma defesa eficaz.
O contexto do caso está inserido na rápida expansão dos acordos 287(g), mecanismos que permitem que agências policiais locais colaborem com a aplicação das leis federais de imigração.
Segundo a pesquisa do Mountain West News Bureau, esses acordos aumentaram cinco vezes em 2025 nos estados da montanha ocidental, passando de 10 para 54, com Nevada entre as entidades que reforçaram essa cooperação.
O Departamento de Polícia Metropolitana de Las Vegas reconhece que notifica o ICE quando pessoas nascidas no exterior são detidas por certos crimes, embora insista que seus agentes não fazem a aplicação direta das leis de imigração.
No caso específico de Morales Echevarría, os advogados do departamento alegaram perante o tribunal que o acordo 287(g) ainda não tinha vigor formalmente quando ocorreu a detenção, uma postura que a ACLU considera uma tentativa de eludir o cerne da questão.
Para muitas organizações civis, o impacto humano vai além dos tecnicismos legais. Especialistas como Michael Kagan, professor de Direito na Universidade de Nevada, Las Vegas, alertam que a entrega de detidos ao ICE pode negar-lhes a oportunidade de se defenderem, já que a maioria dos processos migratórios é de caráter civil e administrativo, não penal.
“Não é um crime; é uma questão de lei migratória”, destacou Kagan em declarações registradas pela Wyoming Public Media.
Como elemento complementário, registros do Departamento de Segurança Nacional (DHS) situam Morales Echevarría entre listagens oficiais que agrupam imigrantes considerados de alta prioridade para deportação.
A ACLU afirma ter documentado centenas de detenções do ICE na prisão do condado de Clark, embora a polícia local tenha se recusado a confirmar os números. Enquanto isso, a secretária de Segurança Nacional, Kristi Noem, defendeu publicamente essas colaborações e advertiu que a presença do ICE será "sustentada" e, em alguns momentos, mais intensa.
No caso do imigrante cubano, não foi possível contactá-lo. A ACLU afirma que ele foi deportado para o México, apesar de que o litígio em torno de sua detenção continua. A próxima audiência judicial está prevista para janeiro e pode estabelecer um precedente importante sobre os limites da cooperação entre as polícias locais e o ICE.
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