MINTUR se incomoda e responde às zombarias sobre os novos hotéis: “Cuba não se vê a partir da piada”



O MINTUR defendeu a promoção de um hotel de luxo em Havana diante das críticas pela crise em Cuba. Alegou que o turismo não é um luxo e sublinhou a resistência cultural da cidade, mas não acalmou o descontentamento.

Torre K-23 em Havana e o Hotel Habana Libre.Foto © Onlinetours

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O Ministério do Turismo (MINTUR) saiu na quarta-feira em defesa das críticas e zombarias que recebeu nas redes sociais após promover o hotel Iberostar Selection La Habana, uma instalação de luxo que surge em meio a apagões, escassez e uma crise econômica que afeta a maioria dos cubanos.

O organismo publicou uma extensa mensagem no Facebook alegando que é “injusto” que uma publicação institucional se torne alvo de “desqualificações” que, segundo afirma, atacam “princípios da nossa identidade como cubanos”.

Captura do Facebook/Ministério de Turismo de Cuba

Mas o tom da resposta se intensificou quando o ministério afirmou que “Cuba não é vista a partir de piadas ou zombarias”, mas sim pela sua história e vontade de resistência.

Incluso, a mensagem vai além, acrescentando uma frase polêmica que diz que “as críticas que são feitas a partir da frustração imediata podem soar contundentes, mas não constroem nada”, uma avaliação entendida como uma reprimenda dirigida a um povo esgotado pela crise.

O descontentamento oficial surge após mais de 500 comentários, na sua maioria sarcásticos, que inundaram a publicação promocional do Iberostar, descrito pelo MINTUR como “o edifício mais alto de Cuba” e um lugar para admirar “a vibrante e cultural cidade de Havana”. A frase acabou se tornando um estopim.

Captura do Facebook/Ministério do Turismo de Cuba

“Vibrante? Havana está apagada e destruída”, respondeu um usuário. “De lá de cima, o que se vê é uma árvore de Natal gigante: às vezes acende, às vezes apaga”, ironizou outro, aludindo aos constantes apagões que marcam a vida na capital.

A crítica mais reiterada, no entanto, concentrou-se na desconexão entre a propaganda turística e a realidade econômica do país. “Se eu ganho quatro dólares por mês, quantos anos vou precisar juntar para passar um fim de semana?”, perguntou um internauta. “Digam-me os preços, para ver se com meu salário posso ir dentro de 20 anos”, acrescentou uma jovem. Outros foram mais diretos: “A única coisa que vocês vão ver lá de cima é a miséria que criaram.”

Entre os comentários mais compartilhados esteve aquele que aludia ao recente boato dos “1.100 dólares”, que provocou aglomerações em hotéis de várias províncias. Uma usuária comentou: “Amanhã vou buscar os 1.100 dólares do queridíssimo Ignacio Giménez… e de passo conheço o hotel”. A frase sintetizou o clima de frustração e desconfiança que vive o país após a falsa notícia que mobilizou centenas de pessoas desesperadas.

O MINTUR defendeu que promover hotéis não é "aplaudir luxos", mas afirmar o direito do país "a crescer, a criar e a se mostrar ao mundo sem complexos". Argumentou ainda que Havana continua sendo um símbolo de "resistência e cultura viva", e que reduzi-la a seus problemas é desconhecer sua essência.

Mas a resposta institucional não conseguiu desmantelar o descontentamento da população. Para muitos, o contraste entre hotéis de cinco estrelas quase vazios e uma população que sobrevive entre apagões, epidemias, salários mínimos e uma inflação sufocante é grande demais para encarar a promoção como um mero anúncio turístico.

O debate voltou a expor uma ferida aberta: a distância entre o discurso oficial e a vida cotidiana do cubano. Nas redes, o povo respondeu com sarcasmo, mas também com cansaço. O Governo respondeu com solenidade. E entre ambos, ficou uma cidade que, longe da “vibração” que promove o MINTUR, se sente a cada dia mais esgotada.

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