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Em meio ao apagão informativo e literal que vive Cuba, a União Elétrica (UNE) acendeu nesta segunda-feira um pequeno foco em suas redes sociais para desmentir o que muitos cubanos já consideravam certo: a destituição do ministro de Energia e Minas, Vicente de la O Levy, o rosto mais visível —e criticado— do colapso energético nacional.
“#FALSO || É falso que Vicente de la O Levy tenha sido destituído de seu cargo. Ele continua exercendo suas funções normalmente e trabalhando para melhorar a situação do setor elétrico. Nosso ministro está #DePe eCombatendo”, escreveu a empresa estatal em um post que, mais do que esclarecer, desencadeou uma onda de memes, piadas e suspeitas.
O desmentido surgiu quase ao mesmo tempo em que circulavam nas redes rumores sobre sua saída, acompanhados de montagens humorísticas, paródias e capturas falsas de supostas notas oficiais.
Mas a reação do aparato comunicacional foi tão impressionante quanto a crise que tenta apagar: a UNE teve que sair para reafirmar publicamente que seu ministro continua “combatendo”, um verbo que, na boca de uma empresa elétrica, soa a um curto-circuito poético... e contraditório.
Não é a primeira vez que o regime cubano se mostra nervoso diante da velocidade das redes. Nos últimos meses, boatos e notícias falsas sobre apagões, renúncias e “mudanças de quadros” circularam mais rápido do que a própria eletricidade.
Em um país onde a luz se vai, mas o Wi-Fi resiste, os memes se tornaram uma forma de catarse popular e resistência digital.
El oficialismo vive, além disso, um momento de nervosismo visível diante da avalanche de notícias falsas. Há apenas alguns dias, o Noticiero Nacional de Televisión dedicou preciosos minutos para desmentir o boato dos supostos 1.100 dólares de ajuda em hotéis, um rumor atribuído a Ignacio Giménez que provocou aglomerações de pessoas desesperadas para receber uma compensação inexistente.
Também circularam montagens sobre a "morte" de Raúl Castro e a "renúncia" de vários ministros, obrigando a maquinaria propagandística a agir na defensiva, entre o pânico e a incompetência.
Os rumores sobre De la O Levy não surgem do nada: nos últimos meses, vários ministros foram destituídos ou forçados a renunciar em meio à crise geral.
Entre eles, a ex-ministra do Trabalho Marta Elena Feitó, o ex-ministro da Economia Alejandro Gil e o ex-vice-primeiro-ministro Jorge Luis Perdomo Di-Lella, todos afastados em um processo que deixou claro que na “continuidade” também se apagam os quadros.
Enquanto isso, Vicente de la O Levy continua sendo o ministro mais questionado do gabinete de Miguel Díaz-Canel.
Desde sua nomeação em 2022, Cuba registrou cinco apagões nacionais, déficits elétricos recorde e uma avalanche de promessas não cumpridas. Sua permanência, mais do que um gesto de confiança técnica, parece uma demonstração do valor que o poder concede à obediência.
Em definitiva, a desmentida da UNE confirma duas coisas: que os apagões não são os únicos colapsos em Cuba, e que, mesmo na escuridão, o humor cubano continua aceso.
Porque enquanto o ministro "combate", o povo sobrevive à base de memes, sarcasmo e lanternas.
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