Regime cubano estuda o “pensamento de Xi Jinping” para aprimorar seu surrealismo socialista



O regime cubano estuda o pensamento de Xi Jinping em busca de soluções para sua crise econômica. Apesar de múltiplos seminários, o país continua enfrentando apagões e escassez, sem reformas efetivas à vista.

Miguel Díaz-Canel e Xi JinpingFoto © presidencia.gob.cub

Em um país onde os apagões já fazem parte da paisagem e a inflação parece uma corrida olímpica sem linha de chegada, o regime cubano encontrou um novo entretenimento ideológico: estudar o “pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com peculiaridades chinesas na nova era”.

Sim, enquanto o povo faz malabarismos para conseguir um litro de óleo ou um pacote de arroz, os quadros do Partido Comunista se reunirão até 21 de dezembro na Escola Superior de Quadros do Estado e do Governo —essa fábrica de dogmas que confunde “formação política” com “lavagem cerebral”— para analisar as iluminações teóricas do líder chinês.

Segundo o Noticiário Nacional da Televisão (NTV), o evento conta com 95 participantes, incluindo acadêmicos, diplomatas e funcionárias que “aprofundarão” em temas como “a modernização com características chinesas”, “a economia de mercado com orientação socialista” e “a construção do Partido”.

Em resumo: uma combinação de marxismo reciclado com marketing asiático, apresentada como o antídoto para o fracasso eterno do modelo cubano.

A notícia não seria tão tragicômica se não fosse porque o regime insiste em disfarçar seu estancamento com discursos importados.

Depois de mais de seis décadas de promessas não cumpridas, Havana volta a olhar para Pequim em busca do “milagre socialista”, convencida de que mudando o foco ideológico pode-se resolver uma catástrofe econômica que não tem nada a ver com a teoria, mas sim com a teimosia.

Porque, claro, nada diz “modernização” como um seminário sobre o pensamento de um líder vitalício de outro partido comunista que controla a internet, censura a dissidência e vigia seus cidadãos com câmeras e algoritmos.

Se isso é o que se chama de "sabedoria oriental", os cubanos já poderiam se orgulhar de ter alcançado a iluminação há bastante tempo.

O embaixador chinês, Hua Xin, apresentou durante o ato uma coleção de textos intitulada A governança e administração da China, obra-prima do pensamento político contemporâneo —segundo o roteiro oficial— que pretende ensinar ao mundo como alcançar o desenvolvimento socialista sem cair na “decadência capitalista”.

O curioso é que, enquanto a China produz tecnologia de ponta e multiplica seus milionários, Cuba produz apagões, epidemias e miséria.

Mas não sejamos injustos. Talvez o regime cubano não busque copiar o modelo chinês por completo. Talvez apenas lhe interesse a parte da “governança”, aquela em que o Partido controla tudo, a imprensa obedece e as redes sociais reproduzem o que diz o líder. Nesse aspecto, a sincronia entre Havana e Pequim já está bastante avançada.

O problema é que, enquanto na China o socialismo se veste de arranha-céus e carros elétricos, em Cuba se disfarça de caderneta de abastecimento e apagão programado.

Os burocratas cubanos parecem convencidos de que o sucesso da China se deve à ideologia, e não ao pragmatismo econômico que eles mesmos desprezam. Acreditam que basta estudar Xi Jinping para que o pão reapareça nas armazéns e os salários deixem de ser decorativos.

Desde 2019, a Escola Superior de Quadros realizou sete seminários sobre o pensamento de Xi, formando mais de 340 funcionários na “sabedoria chinesa”.

O resultado prático: nem uma fábrica em funcionamento, nem uma reforma eficaz, nem uma ideia que tire o país do abismo. Mas, isso sim, uma coleção de diplomas ideológicos que devem parecer preciosos nas paredes ministeriais.

Enquanto isso, os cubanos continuam esperando que alguém estude um pensamento mais urgente: o de como garantir um café da manhã, um almoço e um jantar sem ter que fazer filas de quatro horas ou pagar o equivalente a um salário mensal por uma libra de frango.

Em sua tentativa desesperada de encontrar inspiração no exterior, o regime esquece que nem o marxismo com "particularidades chinesas", nem o maoísmo, nem qualquer reinterpretação do socialismo salvarão um sistema que se recusa a soltar o poder, a mentira e o controle.

Se algo demonstra este novo seminário é que em Cuba a ideologia não é estudada: é reciclada. E o socialismo cubano, incapaz de se renovar, acabou parecendo um museu de doutrinas exóticas, onde o único que evolui é a retórica.

Havana não precisa de mais pensamentos importados. Precisa de luz, comida e liberdade. Mas, claro, isso não se encaixa em nenhum manual de Xi Jinping.

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