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A congressista republicana de Miami, María Elvira Salazar, criticou duramente a recente decisão do governo de Donald Trump de suspender temporariamente todos os pedidos de imigração provenientes de Cuba, Haiti, Venezuela e outros 16 países classificados como de “alto risco”.
Em declarações ao Miami Herald, a legisladora qualificou a medida como “antiamericana” e denunciou que representa um “castigo coletivo” contra milhares de imigrantes que cumpriram com as leis e os processos estabelecidos.
“Congelar os processos de asilo, residência permanente e cidadania não é a solução. Penaliza imigrantes trabalhadores e respeitadores da lei que seguiram cada passo do processo legal”, disse Salazar.
“Isso é injusto, antiamericano e contradiz todos os princípios que este país defende. As verificações de antecedentes já existem para impedir os terroristas e deveriam existir”, acrescentou.
Salazar, uma das poucas congressistas cubano-americanas no Congresso, se distanciou abertamente da linha dura de seu próprio partido, lembrando que “milhares de imigrantes do sul da Flórida aguardaram pacientemente sua vez”, e que a suspensão generalizada não distingue entre aqueles que cometeram delitos e aqueles que cumpriram a lei.
"Os inocentes não devem pagar pelos pecados dos culpados", afirmou a legisladora.
A nova diretiva do Departamento de Segurança Interna (DHS), emitida na semana passada após um tiroteio em Washington D.C. cometido por um cidadão afegão, estabelece uma pausa generalizada nas solicitações de imigração.
A medida afeta desde pedidos de residência permanente até cerimônias de cidadania, e inclui a suspensão total dos processos de asilo pendentes, independentemente do país de origem.
A política é uma das restrições migratórias mais amplas implementadas pela administração Trump desde seu retorno ao poder.
A ordem do Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS) busca, segundo autoridades do DHS, “reforçar a segurança nacional e prevenir a entrada de possíveis ameaças”, mas tem gerado preocupação e confusão entre advogados e comunidades imigrantes do sul da Flórida.
Contrastes dentro do bloco republicano de Miami
Enquanto Salazar adotou um tom crítico em relação à medida, seus colegas republicanos Mario Díaz-Balart e Carlos Giménez emitiram uma declaração conjunta de apoio à política migratória de Trump, argumentando que ela responde a falhas herdadas do governo anterior de Joe Biden.
“Durante quatro anos, nossos alertas urgentes sobre as consequências das políticas de fronteiras abertas, grotescamente irresponsáveis, e a inexistência de verificação de antecedentes da Administração Biden foram ignorados”, afirmaram ambos os congressistas.
“Hoje, lamentavelmente, enfrentamos as consequências”, acrescentam.
Díaz-Balart e Giménez afirmaram, além disso, que os esforços de Trump visam "proteger a segurança nacional restaurando a ordem, fazendo cumprir o estado de direito e fortalecendo a investigação de antecedentes".
Este contraste reflete as tensões internas no bloco republicano de Miami, onde a migração - especialmente a de origem cubana e venezuelana - é um tema de grande sensibilidade política e humana.
Impacto no sul da Flórida
A decisão do DHS provocou grande preocupação entre comunidades de imigrantes e advogados de imigração, que alertam que a pausa agrava um sistema já colapsado por anos de atrasos.
Muitos imigrantes de Cuba, Haiti e Venezuela ficaram em uma situação de incerteza desde que o Estatuto de Proteção Temporária (TPS) e o parole humanitário, estabelecidos sob a administração Biden, foram cancelados no início deste ano.
Mais de um milhão de pessoas desses países perderam suas proteções legais e agora se encontram em um limbo, após a suspensão de entrevistas de asilo, aprovações de green cards e cerimônias de naturalização agendadas.
No sul da Flórida, numerosos cubanos que esperavam prestar juramento como cidadãos estadounidenses esta semana receberam notificações de cancelamento de suas cerimônias, aumentando a incerteza geral.
Um debate político e moral
O confronto entre María Elvira Salazar e o restante do bloco republicano de Miami ressalta as divisões internas do partido em relação à forma de abordar a imigração em tempos de alta tensão política e econômica.
Para Salazar, a pausa migratória trai os valores fundamentais dos Estados Unidos, um país construído por imigrantes.
“Punir aqueles que fizeram tudo certo não nos torna mais seguros; apenas nos torna menos justos”, disse a congressista, reafirmando sua posição a favor de uma política migratória firme, mas compassiva.
O debate, no entanto, continua a crescer em uma Flórida onde a comunidade cubana -junto com a haitiana e a venezuelana- vive na pele as consequências das decisões de Washington.
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