Cubanos sobrevivem indocumentados no México após serem expulsos dos EUA: Há idosos doentes e pessoas sem antecedentes



Cubanos deportados para o México desde os EUA enfrentam um futuro incerto sem status legal. Trabalham informalmente em Villahermosa enquanto esperam resolver sua situação.

INM em VillahermosaFoto © Reforma / Marco Polo Guzmán

Vídeos relacionados:

Cubanos deportados dos Estados Unidos e enviados ao México estão ficando em uma espécie de limbo: chegam sem um status legal que lhes permita viver ou trabalhar e acabam sobrevivendo com empregos informais em mercados, abrigos saturados ou até mesmo nas ruas, segundo uma reportagem de Capital & Main do sul mexicano.

“Estou perdido neste país”, resumiu um dos deportados entrevistados após sair de um centro de detenção migratória em Villahermosa, onde foi liberado à noite e sem saber o que fazer a seguir.

O reportagens descreve vários cubanos trabalhando “sem registro” no Mercado Público José María Pino Suárez, em Villahermosa, após o governo dos Estados Unidos os deportar para o México e as autoridades mexicanas os transferirem de ônibus para essa cidade de Tabasco, a algumas horas da fronteira com a Guatemala.

Ali, sem documentos e sem permissões, alguns carregam galões de água em triciclos de entrega ou atendem barracas de frutas para conseguir comida e pagar um lugar onde dormir.

A investigação enquadra esses casos dentro da estratégia do governo de Donald Trump de buscar acordos com terceiros países para deportar pessoas que não são originárias desses destinos.

Capital & Main aponta que, além de envios para países como El Salvador ou nações africanas em outros casos, os Estados Unidos têm enviado para o México pessoas de vários países do hemisfério ocidental, incluindo Cuba e Nicarágua.

Neste esquema, o México recebe os deportados, mas não lhes concede status legal para residir ou trabalhar, o que os empurra para a informalidade e para a vulnerabilidade.

O relatório sublinha que não está claro quantas pessoas de países terceiros foram recebidas pelo México sob este mecanismo, pois o país publica estatísticas periódicas sobre seus próprios cidadãos deportados, mas não dados detalhados sobre outras nacionalidades enviadas dos Estados Unidos.

Sí cita uma cifra dada em julho pela presidenta Claudia Sheinbaum: O México teria recebido 6.525 deportados de outras nacionalidades.

Capital & Main acrescenta que o Departamento de Segurança Nacional e o ICE não responderam a solicitações de comentários, e que o governo mexicano também não respondeu perguntas sobre o assunto.

Según observadores de direitos humanos citados —a Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes e o Instituto para as Mulheres na Migração (IMUMI)—, o México transfere muitos desses deportados para Villahermosa, uma cidade de cerca de 834.000 habitantes que, de acordo com a reportagem, possui apenas um abrigo para migrantes.

Esse albergue, Oasis de Paz do Espírito Santo Amparito, enfrenta um panorama especialmente complexo, pois entre os deportados há pessoas idosas que viveram décadas nos Estados Unidos e agora chegam sem redes de apoio, com doenças crônicas e sem recursos para reintegração.

O periplo

O meio detalha como funciona o traslado: uma vez que o ICE decide enviar uma pessoa para o México, ela é colocada em um ônibus em direção à fronteira; os deportados entrevistados afirmaram ter cruzado por diferentes pontos, de Tijuana até Reynosa.

Já do lado mexicano, eles são transferidos em outro ônibus para Villahermosa, uma viagem que pode durar cerca de 40 horas, dependendo da travessia.

O ônibus chega a um centro de detenção migratória e, finalmente, eles são liberados para decidir para onde ir; um dos entrevistados contou que o soltaram na rua por volta das 23h.

Entre os casos narrados aparece o de Louis Robaina, cubano que trabalhava em um quiosque de frutas no mercado de Villahermosa.

Segundo seu testemunho, passou seis anos na prisão em Miami após ser condenado por fraude e lavagem de dinheiro, e depois foi transferido para custódia migratória.

Diz que um juiz lhe negou proteção de Cuba, mas que Cuba se negou a aceitá-lo de volta, e acabou em Villahermosa no início do verão.

Ele mencionou que solicitou asilo no México e aguardava os próximos passos do processo, enquanto sua família nos Estados Unidos o ajudava a se sustentar.

El texto também relata o caso de Damián De La Moneda, de 49 anos, que afirmou que sua deportação ocorreu apesar de sua condenação penal ter acontecido há mais de 20 anos.

Según relatou, havia reconstruído sua vida em Miami e trabalhava com um ministério cristão, mas após uma detenção de trânsito no Texas, o ICE o prendeu e o enviou ao México apesar de ele ter se negado e apresentado um recurso de hábeas corpus; o relatório indica que registros judiciais mostram que o tribunal não processou seu pedido até depois de sua chegada a Villahermosa.

Idosos, trabalhadores e sem antecedentes

Uma parte especialmente difícil do reportagem se concentra nos idosos. Capital & Main menciona Ángel Insúa, de 65 anos, com diabetes e hipertensão, problemas em uma perna e perda de visão, que afirmou ter vivido cerca de 45 anos em Orlando e ter perdido seu green card após uma condenação de prisão há décadas.

Ele afirmou que, durante o processo de deportação, lhe tiraram dinheiro e um anel, e que ficou algemado.

Também é mencionado outro cubano com várias condições de saúde (ciática, pressão alta, epilepsia e asma), que disse ter aceitado ir para o México para evitar retornar a Cuba, e Fidel Forten-García, de 66 anos, deportado sem telefone e com dificuldades para se comunicar com sua família e acessar medicamentos.

Nem todos os cubanos enviados ao México têm antecedentes criminais.

Apresenta o caso de Yamil, que disse ter perdido seu asilo em 2017 e de ter se mantido reportando periodicamente ao ICE, sem poder ser deportado para Cuba.

Afirmou que se casou com uma cidadã americana, mas que um advogado lhe explicou que para obter a residência por esse meio teria que sair dos Estados Unidos e pedir perdão pelo tempo sem status.

Segundo contou, quando foi à sua consulta de controle, foi detido e, pouco depois, se viu em território mexicano.

Agora tente se sustentar com salários em pesos enquanto nos EUA acumula dívidas e recebe ligações de credores.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.