Paradoxos do “desenvolvimento” sem insumos: Matanzas prepara fábrica de doces enquanto falta açúcar para a cesta básica



A UEB Esazúcar inaugura um centro para produzir doces tradicionais, apesar da escassez crônica de açúcar. O projeto promete "substituir importações", mas moradores questionam sua viabilidade real. A iniciativa reanima críticas sobre a falta de coerência do setor açucareiro.

Residentes apontam a contradição de promover uma indústria de doces em meio a uma crônica escassez de açúcarFoto © Facebook/periódico Girón

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A província de Matanzas avança na abertura de uma nova fábrica de doces tradicionais, apesar do severo desabastecimento de açúcar que afeta a população e condiciona até mesmo o fornecimento da cesta básica.

A Unidade Empresarial de Base Esazúcar Matanzas está finalizando os detalhes de um novo centro de produção situado na área de serviços de René Fraga, com uma capacidade instalada superior a uma tonelada diária de doces tradicionais.

A instalação produzirá doce em calda, raspadura de guarapo e melado, sortimentos que dependem de meladuras processadas, “produtos emblemáticos da tradição doceira cubana que atendem à demanda da população e contribuem para a substituição de importações”, informou através de seu perfil no Facebook o periódico provincial Girón.

Captura do Facebook/Periódico Girón

Jorge Cabrera, diretor da UEB, assegurou que o investimento representa “um salto tecnológico para a produção derivada do açúcar” na província.

O projeto está integrado na política local para diversificar cadeias produtivas, gerar empregos e abastecer a rede de varejo com produtos tradicionais.

A iniciativa, no entanto, contrasta com a realidade nos mercados e com as dúvidas de numerosos residentes que apontam a contradição de promover uma indústria de doceria quando a província enfrenta uma grave escassez de açúcar.

Os comentários nas redes expressam ceticismo em relação à disponibilidade do insumo, à durabilidade do empreendimento, aos controles sanitários e ao destino final da produção, em um contexto marcado pela queda da safra e pela precariedade do setor açucareiro.

O anúncio reaviva inquietações sobre a coerência da estratégia econômica, pois enquanto são inauguradas novas capacidades derivadas, a população continua lidando com um acesso limitado -e às vezes simbólico- ao açúcar normatizado e com preços elevados no mercado informal.

Durante a anterior safra, o engenho Jesús Sablón Moreno, no município matancero de Calimete, enfrentou dificuldades para cumprir com seu plano de 16.700 toneladas de açúcar.

A produção de açúcar em Cuba caiu para menos de 150.000 toneladas na safra 2024-2025, o nível mais baixo em mais de um século e menos da metade do alcançado na campanha anterior.

A cifra ficou muito longe da meta estatal de 265.000 toneladas, uma confirmação do declínio persistente de uma indústria que, por gerações, constituiu o eixo central da economia do país.

Tal debacle deve-se, entre múltiplos fatores, à escassez de matéria-prima (cana), aos cortes de energia recorrentes, às limitações de combustível e ao avançado deterioramento da infraestrutura.

Em dezembro de 2023, o governo reconheceu que é “vergonhoso” que o país, tradicionalmente um dos principais produtores de açúcar da América Latina, tenha sido obrigado a importar esse produto.

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