José Daniel Ferrer defende a luta não violenta e clandestina para acabar com a ditadura

"Com a união de tantos detalhes realizados em massa por toda Cuba, cria-se o estado de ânimo, o estado de opinião que derruba a ditadura."

José Daniel Ferrer em entrevista para CiberCubaFoto © Facebook / CiberCuba Notícias

O líder opositor cubano José Daniel Ferrer defendeu, em entrevista com CiberCuba, que a luta pacífica continua sendo uma via viável para alcançar a queda do regime cubano, embora tenha reconhecido que é necessária uma transformação profunda em sua execução: mais criatividade, clandestinidade e massividade.

“Disse na minha chegada que não foi a não-violência que falhou, mas sim nós que estávamos falhando com esses métodos eficazes de luta”, afirmou.

Para Ferrer, a estratégia deve se adaptar ao contexto repressivo atual, sem abandonar os princípios da não violência, mas fazendo uso de novas táticas que evitem a repressão e gerem uma mudança no estado da opinião pública. “Você tem que mudar de estratégia, tem que mudar a tática. Agora a luta não violenta deve ser clandestina”, explicou.

Durante a conversa, o opositor traçou paralelos históricos com figuras como Martí e Maceo, lembrando que ambos os líderes independentistas se exilaram para preparar, do exterior, o retorno à luta. “Até Maceo teve que ir embora, e passou quase 17 anos exilado. E se Martí —e não estou me comparando a Martí, Deus me livre de cometer esse pecado!— foi convencendo... de que era preciso criar as condições desde o exílio e as condições internas para voltar, e eles voltaram”, relatou.

Ferrer explicou que sua transformação pessoal em direção à luta não violenta foi progressiva, influenciada pela leitura do pensamento de Gandhi e pelo exemplo de aqueles que resistiram sem usar a força. “Acabei me tornando um lutador não violento”, disse.

Também compartilhou uma anedota sobre seu pai, que foi combatente do Movimento 26 de Julho sob o comando de Hubert Matos, e que no início rejeitou a decisão dos filhos de resistir sem responder aos ataques. “Meu pai me disse que nós não podíamos ser filhos dele, que éramos uns tolos e uns come merda, mas ele não disse merda. Seis meses depois, meu pai pediu desculpas e me perguntava por que eu queria aprender”, lembrou.

Insistiu que a luta pacífica deve ser criativa, capaz de se adaptar às condições de repressão atuais. “A luta não violenta precisa ser super criativa”, afirmou.

Entre as ações que propôs, estão os cacerolazos relâmpago durante apagões, pinturas noturnas, distribuição de propaganda impressa por cubanos que viajam do exterior, e gestos simbólicos capazes de provocar reflexão e tirar o medo. “Você pode encher, como disse anteriormente, ruas, calçadas, paredes, muros, o setor da polícia, a unidade da polícia no meio do apagão de grafites”, sugeriu.

Ferrer sugeriu até que, se um número significativo de cubanos no exterior distribuísse folhetos durante suas viagens à ilha, poderia ser gerado um impacto real: “Você se imagina se conseguirmos convencer 30% das pessoas que viajam a Cuba... a levar em sua bagagem uma certa quantidade de folhetos feitos aqui e que eles mesmos os distribuem enquanto estão em seu passeio pela estrada de Cuba”.

Contou também como a sátira política foi utilizada como ferramenta de conscientização dentro da UNPACU. “Comprei uma garrafa de rum de qualidade... ao rum bom coloquei uma etiqueta de Cuba Decide. E ao rum ruim coloquei uma imagem de Raúl Castro. Eu dizia: ‘Dê um gole disso, o que você acha?’... Todo mundo ria”, relatou.

"Com a união de tantos detalhes realizados massivamente por toda Cuba, cria-se o estado de ânimo, o estado de opinião que derruba a ditadura", afirmou.

Um desterro forçado e uma nova etapa

Ferrer saiu para o exílio em 13 de outubro após um acordo com o regime, embora tenha denunciado que várias condições impostas por ele não foram cumpridas. Entre elas, a entrega das casas da UNPACU e a legalização do título de sua esposa.

“Disse-lhes que não iria embora se não respeitassem isso. No final, roubaram-me uma casa”, denunciou. A residência confiscada teria sido destinada, segundo o regime, a “fins sociais”, mas Ferrer denunciou que agora é habitada por um familiar de um tenente-coronel do MININT.

Um vídeo vazado pela Segurança do Estado mostrou sua saída do país sob estrita vigilância. Ele viu sua família momentos antes de embarcar no voo no aeroporto de Santiago de Cuba. “Cheguei a brincar com eles, dizendo que ia nomeá-los ministros do Interior, porque pareciam outros”, comentou sobre os oficiais que o escoltaram. A saída, segundo declarou sua família, foi um exílio forçado, não voluntário.

Compromisso desde o exílio e chamado à unidade

Desde Miami, Ferrer demonstrou sua inabalável vontade de continuar fazendo parte ativamente do movimento opositor e contribuir para o fim da ditadura. Em conversa com Telemundo 51, reconheceu que “não existe coesão, coordenação, disciplina” dentro da oposição cubana e chamou a trabalhar em unidade. Também confirmou sua participação no Conselho para a Transição Democrática em Cuba e seu compromisso de colaborar com todo grupo sério e honesto que trabalhe pela liberdade da ilha.

Durante uma conferência de imprensa após sua chegada aos EUA, Ferrer prometeu retornar a Cuba “antes que a ditadura caia”. Segundo ele, fará isso em uma lancha, com uma rosa branca e os versos de Martí. “Levarei comigo um telefone via satélite para dizer: ‘Estou chegando ao malecón de Havana. Se depois não souberem de mim, estou preso ou fui assassinado’.”

Ferrer também denunciou torturas físicas e psicológicas sofridas durante seu tempo na prisão. “Introduziram um tubo na minha boca e me obrigaram a ingerir comida podre sob ameaça. Jogados no chão, me fizeram defecar e despejaram quase um litro de sopa putrefata com um funil plástico”, relatou.

Apesar disso, ele assegurou que seu compromisso permanece intacto: “Saí para reorganizar a luta, não para descansar. Voltarei antes que a tirania caia, mesmo que seja uma semana antes, para ver meu povo livre.”

Este viernes, Ferrer fez um apelo para apoiar os protestos ocorridos em Baire, Santiago de Cuba, onde cidadãos saíram às ruas para denunciar os apagões e a repressão, e instou a amplificar esses reclamos: “Santiago de Cuba, cansado de opressão e miséria, sai às ruas para protestar contra a ditadura. Ali se deu o histórico Grito de Baire, em 24 de fevereiro de 1895. Toda Cuba deve amplificar esses gritos de liberdade”.

Advertiu que novas detenções poderiam ocorrer e pediu apoio para aqueles que enfrentarem represálias. “Haverá novos presos políticos; eles e suas famílias precisarão de todo o nosso apoio. Abaixo a tirania!”, afirmou.

Perguntas frequentes sobre José Daniel Ferrer e sua luta contra o regime cubano

Por que José Daniel Ferrer defende a luta não violenta para derrubar o regime cubano?

José Daniel Ferrer afirma que a luta não violenta continua sendo um método eficaz para derrubar o regime cubano, mas exige uma transformação em sua execução. Ele propõe táticas criativas, clandestinas e massivas para evadir a repressão e mudar o estado da opinião pública, inspirando-se em figuras históricas como Gandhi.

Quais são as táticas propostas por Ferrer para a luta não violenta em Cuba?

Ferrer sugere ações como panelaços relâmpago, pichações noturnas e distribuição de propaganda impressa por cubanos no exterior. Essas ações buscam gerar impacto e reflexão na população, removendo o medo e promovendo a mobilização social sem recorrer à violência.

Por que José Daniel Ferrer foi desterrado de Cuba?

Ferrer foi desterrado de Cuba sob pressão do regime, após anos de torturas e encarceramento. O regime tentou apresentá-lo como um ato legal, mas Ferrer e sua família o descrevem como um exílio forçado. Apesar de sua saída, Ferrer mantém seu compromisso com a luta pela liberdade de Cuba.

Como planeja José Daniel Ferrer retornar a Cuba?

Ferrer prometeu voltar a Cuba em uma lancha, trazendo consigo uma rosa branca e os versos de Martí. Embora tenha sido desterrado, sua intenção é retornar antes que a ditadura caia, reafirmando sua determinação de ver Cuba livre.

Qual é o compromisso de Ferrer a partir do exílio?

Desde o exílio, Ferrer se compromete a continuar ativo no movimento opositor e no Conselho para a Transição Democrática em Cuba. Ele faz um apelo à unidade e coordenação dos cubanos dentro e fora da ilha para pôr fim à ditadura o mais rápido possível, enfatizando a importância da coesão e da disciplina na oposição.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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