O influencer cubano Alexander Otaola ofereceu uma avaliação contundente após a recente carta divulgada da prisão pelo líder opositor José Daniel Ferrer, na qual ele anunciou ter aceitado o exílio forçado como resultado de anos de torturas e pressões por parte do regime cubano.
Otaola não poupou palavras para destacar o valor e a trajetória de Ferrer, e mostrou-se contundente ao afirmar que o opositor merece, mais do que ninguém, “respirar em liberdade”, ser recebido nos Estados Unidos como um “herói” e como um “mártir, mas vivo”.
“Eu acho que Ferrer merece recuperar sua estabilidade emocional, merece recuperar sua família e merece respirar a liberdade, ele merece. Ele deu mais do que ninguém por um povo que não faz nada para exigir que o libertem”, afirmou o apresentador em seu programa desta sexta-feira.
Em uma intervenção carregada de emotividade e crítica, o influenciador afirmou que manter Ferrer na prisão não faz sentido nem traz qualquer resultado, além do desgaste pessoal.
“Vale a pena que Ferrer venha? Sim. Ele fez tudo o que estava ao seu alcance. Eu acredito que ele merece ser um patriota e merece ser um mártir, mas vivo, um herói vivo. Não vai resolver nada dentro da prisão. Não vai resolver nada com uma greve de fome que termine com sua morte”, insistiu.
Críticas à passividade e à estratégia do regime
Ele, também ativista cubano-americano, lamentou a indiferença de aqueles que outrora se beneficiaram do sacrifício de Ferrer.
“Nem os famintos que iam comer na casa de Ferrer tiveram a dignidade de ir fazer uma protesto em frente à prisão onde permanece desde abril, após ter sido revogada a liberdade que recebeu em janeiro”, denunciou.
Apesar de defender a decisão de aceitar o exílio, Otaola expressou ceticismo sobre se isso se tornará efetivo. Para ele, a manobra responde a uma estratégia calculada do regime.
“Eu acredito que Ferrer merece estar aqui e acho que ele faz muito bem em vir para cá”, afirmou, embora reconhecesse suas dúvidas: “Sob meu ponto de vista, trata-se de uma estratégia do regime”.
Da mesma forma, criticou certos setores da dissidência que atacaram Ferrer ao ser libertado.
“Quando Ferrer foi libertado, vários dos que se chamam ‘opositores’ se lançaram sobre Ferrer sem sequer considerar que ele acabava de sair após quatro anos”, lembrou com incômodo.
Uma vida dedicada à luta pela liberdade
Alexander Otaola destacou a trajetória de Ferrer desde o início de seu ativismo, relembrando sua passagem pelas prisões castristas desde a Primavera Negra e seu papel dentro do grupo dos 75.
“Homem valente, patriota valente, que dedicou vários anos de sua vida às prisões castristas, desde a crise da Primavera Negra até agora, desde o grupo dos 75 e desde muito antes na causa pela liberdade. Perdeu juventude, perdeu forças, perdeu saúde, entregou à causa tempo, energia e vida”, expressou.
En sua análise, Otaola considerou que a carta de Ferrer foi escrita “sob total pressão”, e que um dos fatores determinantes teria sido a família.
"Estou certo de que a estabilidade familiar também é uma pressão importante, e é por aí que acredito que deve vir a maior fraqueza que encontraram em Ferrer. Ele mesmo menciona na carta: 'vou fazer isso pela minha família'", disse.
No entanto, Otaola reiterou suas dúvidas sobre uma possível liberação imediata.
“Eu te digo que duvido muito que a ditadura o libere, duvido imensamente. Como está a situação com a Venezuela, que não se sabe se pode rebotar um míssil e cair em Havana, eles não vão entregar as únicas cartas que têm, que são os líderes da oposição, as pessoas reconhecidas e queridas”, assegurou
Uma estratégia para desacreditá-lo?
Otaola insistiu que isso poderia ser uma manobra manipulada pela Segurança do Estado. Na sua opinião, o objetivo é criar uma narrativa de derrota e capitulação.
“Acredito que isso seja uma jogada da Segurança do Estado, mais uma vez. Ferrer aceitou sair, mas assim como fizeram com Maykel Osorbo e Luis Manuel Otero Alcántara, que já estavam prontos para sair, a Segurança do Estado não os deixou sair”, afirmou
“A ideia é vender a imagem de que o patriota se quebrou, que está disposto a fazer concessões, que está disposto a negociar”, apontou em outro momento.
Pese a tudo, Otaola manifestou seu desejo de que o líder da UNPACU possa finalmente sair da prisão: “Bem-vindo Ferrer, espero que seja libertado, mas repito: eu não acredito que isso aconteça, e menos em um momento como este.”
“Ferrer não se quebrou”
Ao longo do programa, o influenciador foi desvendando elementos que o levaram a pensar que o regime utiliza essa carta como uma ferramenta de manipulação:
“Desde agosto, estamos em outubro, e estão deixando você de lado. É a mesma estratégia: te convenço, te pressiono, te faço parecer uma pessoa que desistiu, uma pessoa que cedeu.”
No entanto, enfatizou que Ferrer deixou claro em sua carta que sua saída não implicaria concessão alguma com a ditadura.
“Ferrer diz na carta: não vou sair nem pressionado nem chantageado, nem vou sair daqui com qualquer tipo de concessão à ditadura.”
Para Otaola, esse caminho é inaceitável: “Não há diálogo com a ditadura. O nível da máquina diabólica é uma vergonha”.
Uma figura indispensável no futuro de Cuba
O influenciador concluiu destacando o valor simbólico e político de Ferrer. Se ele chegar ao exílio, considera que sua figura seria fortalecida a nível internacional.
“Ferrer é um homem íntegro, Ferrer é um homem que, se chegasse aos Estados Unidos, se tornaria uma voz importante, reconhecida internacionalmente. Dentro da masmorra, não é outra coisa senão um símbolo aprisionado”, opinou.
Otaola encerrou sua intervenção com uma afirmação categórica:
“Eu acho que o fim da ditadura está mais perto do que nós imaginamos. Essa desesperação da ditadura, ao tentar transformar aos olhos dos cubanos dentro e fora da ilha Ferrer em um falso líder, é porque a ditadura sabe que tudo está desmoronando na sua cabeça.”
O regime estaria bloqueando a saída
Previamente, Nelva Ismaray Ortega, esposa de José Daniel Ferrer, denunciou que o regime bloqueia sua saída do país e que o mantém sob tortura psicológica.
Em entrevista com Mario J. Pentón para Martí Notícias, Ortega afirmou que o fundador da UNPACU está sob “pressão psicológica e tortura sistemática” após aceitar o exílio forçado imposto pelo regime.
Ortega explicou que há meses a família está “aguardando que lhe deem uma data para sair, mas continuam retendo nossos documentos e pressionando-o para que faça declarações favoráveis a um diálogo entre o regime e os Estados Unidos, algo que ele não aceitará”.
Além disso, denunciou que seu esposo está “pálido, com muitas sequelas de torturas e picadas de percevejos”, e as chuvas inundaram sua cela.
“Ele prefere morrer a se render, mas a situação é crítica. Esta semana o regime deve decidir se o permite sair do país; caso contrário, ele aceitará ficar na prisão”, disse.
“Eles nos roubaram quase tudo, mas não a nossa moral”, concluiu.
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