José Daniel Ferrer aceita saída ao exílio e explica suas razões da prisão

José Daniel Ferrer, líder da UNPACU, aceita o exílio forçado pelo regime cubano para proteger sua família. Desde a prisão, denuncia abusos e reafirma seu compromisso com a liberdade de Cuba.

José Daniel Ferrer e Nelva Ismarays OrtegaFoto © Facebook / Ismarays Ortega

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Desde a prisão de Mar Verde, em Santiago de Cuba, o opositor José Daniel Ferrer, líder da União Patriótica de Cuba (UNPACU), revelou que aceitou sair para o exílio, uma decisão que classifica como dolorosa, tomada sob pressões extremas do regime, e motivada pela necessidade de proteger sua família. Através de uma carta manuscrita datada de 10 de setembro de 2025, Ferrer denuncia uma cadeia de abusos sistemáticos e reafirma seu compromisso com a luta pela liberdade de Cuba.

“Durante anos, fui submetido a brutais espancamentos, torturas, humilhações, ameaças de morte e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes”, começa a missiva, escrita à mão e publicada por sua família nas redes sociais. “Minha família também tem sido alvo da mais impiedosa perseguição”, acrescenta, atribuindo essa violência às tentativas do regime de forçá-lo ao exílio ou a renunciar ao seu ativismo.

Uma decisão marcada pela dor e pela frustração

Ferrer explica que decidiu deixar o país antes do ataque à sua residência em 29 de abril, quando foi enviado de volta à prisão após a revogação de sua liberdade condicional. “Já antes do último ataque ao meu lar em 29 de abril deste ano, havia decidido partir para o exílio para proteger minha esposa e filhos”, afirma. “Essa decisão tomei pela segurança da minha família e pela frustração que me causou ao confirmar ao sair da prisão a desunião, o sectarismo e a falta de efetividade da oposição dentro e fora de Cuba.”

Também aponta que a Segurança do Estado lhe exigiu aproveitar o exílio para desacreditar a luta pela liberdade, incluindo a manipulação de sua imagem. “Estão realizando vídeos e gravações com a intenção de fazer publicações que coloquem em dúvida nosso compromisso com a luta (...), vídeos e áudios para nos mostrar como supostos agentes da tirania.”

Inclusive, teriam pressionado para que se casasse em uma data simbólica para o castrismo: “Exerceram forte pressão com a intenção de que eu realizasse meu casamento com minha amada, Nelva Ismarays Ortega, no dia do nascimento do falecido ditador.”

Além disso, segundo a denúncia, pretendiam que eu pedisse aos Estados Unidos e à Igreja Católica que retomassem negociações com o regime. Ferrer é enfático: “Quero deixar bem claro que se minha vida e a de minha família dependem de que eu peça tais coisas, prefiro minha morte neste campo de concentração ao estilo nazista (...). Estou pronto para morrer, mas não para viver sem honrar, sem dignidade.”

Condições sub-humanas e maus-tratos cruéis

O líder opositor detalha que vive em condições extremas: “Sobrevivo entre criminosos comuns capazes de todo tipo de crime e sob as ordens do chefe da prisão, Vladimir Pineda, que me odeia brutalmente, e da polícia política.” Afirma que sofre “roubos de meus alimentos e produtos de higiene, ordenados pelos capangas do regime” e que as ameaças contra sua esposa e filhos “foram maiores do que em qualquer outro período anterior na prisão.”

Estas afirmações coincidem com denúncias recentes de sua irmã Ana Belkis Ferrer, que assegurou que na prisão lhe roubaram as sacolas com comida e produtos de higiene, o mantêm doente sem atenção médica, e o obrigam a compartilhar cela com prisioneiros violentos e agentes infiltrados. “Somente o amor, imenso amor que sinto por minha família e meu apego à luta não-violenta fizeram com que eu mantivesse a calma, que acumulasse paciência e que não me defendesse (...) com os métodos que qualquer ser humano teria empregado em circunstâncias tão extremas”, escreveu Ferrer.

O exílio, não como fuga, mas como estratégia

Embora lamente o deterioro da oposição e a cumplicidade do mundo livre, Ferrer insiste que sua saída não será uma rendição: “De Cuba só saio com minha dignidade e honra em alto e não por muito tempo.” E lança um aviso simbólico e patriótico: “Iria sair como saiu Maceo e muitos mambises, para retornar no momento adequado como retornaram Martí, Gómez e Maceo. Mas não sairei sob as pressões e jogos sujos dos esbirros da tirania.”

Apesar de afirmar que perdeu a fé em muitos opositores, garante que “continuo tendo muita fé nos bons lutadores que restam.” E conclui com uma promessa inabalável: “Continuaria lutando até alcançar a vitória ou morrer na tentativa de ver Cuba livre.”

Foi liberado em janeiro de 2025 sob um regime de liberdade condicional que ele mesmo se recusou a assinar, por considerá-lo ilegítimo e incompatível com seu compromisso na luta pela liberdade de Cuba. “Não aceito essas condições, me deem 30 anos a mais de pena (...). Me deixam neste campo de concentração”, declarou então Ferrer, reafirmando que não aceitaria nenhuma medida que implicasse em capitulação ou legitimação do regime. “Eu sacrifiquei minha vida e minha família, a quem amo profundamente, para lutar pelo meu povo. Jamais abandonarei a luta”, assegurou após sua saída, antes de ser encarcerado novamente três meses depois.

Em 29 de abril de 2025, o Tribunal Supremo Popular revogou sua libertação e o enviou novamente à prisão. O retorno foi justificado por supostas faltas de comparecimento perante o tribunal, embora diversos observadores tenham denunciado o processo como politicamente motivado.

O caso de Ferrer gerou uma crescente preocupação internacional. O Departamento de Estado dos Estados Unidos exigiu sua liberação imediata, enquanto a Amnistia Internacional o identificou como prisioneiro de consciência submetido a tortura.

Perguntas frequentes sobre a situação de José Daniel Ferrer e a repressão em Cuba

Por que José Daniel Ferrer decidiu se exilar?

José Daniel Ferrer decidiu se exilar para proteger sua família da pressão extrema e da violência do regime cubano. Em uma carta da prisão, explicou que sua saída é uma estratégia motivada pelo desejo de garantir a segurança de sua esposa e filhos, diante da brutal repressão que sofreu, incluindo agressões e ameaças de morte.

Que tipo de abusos José Daniel Ferrer denunciou desde a prisão?

José Daniel Ferrer denunciou uma série de abusos durante seu encarceramento na prisão de Mar Verde, incluindo agressões, torturas, humilhações e ameaças. Ele também apontou que sofre roubos de alimentos e produtos de higiene, e que as condições de detenção são desumanas, sem acesso a atendimento médico adequado.

Qual é a postura da comunidade internacional em relação ao caso de José Daniel Ferrer?

A comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos e organizações de direitos humanos como a Anistia Internacional, expressou sua preocupação com o caso de José Daniel Ferrer. O Departamento de Estado dos EUA exigiu sua liberação imediata e condenou as condições desumanas de seu encarceramento. A Anistia Internacional o identificou como prisioneiro de consciência submetido a tortura.

Como a repressão impactou o trabalho humanitário de José Daniel Ferrer?

A atividade humanitária de José Daniel Ferrer foi severamente afetada pela repressão do regime cubano. Sua sede da UNPACU foi invadida e seus recursos confiscados, impedindo a distribuição de alimentos e medicamentos para pessoas necessitadas em Santiago de Cuba. Essa repressão visa silenciar sua ação solidária e crítica ao regime.

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