Três dos quatro atletas cubanos que abandonaram sua delegação durante os Jogos Pan-americanos Juniores de Assunção 2025 reapareceram em um vídeo divulgado nas redes sociais, no qual agradecem o apoio recebido e confirmam que estão "saudáveis, seguros e em um lugar tranquilo".
Os jovens, todos remadores, haviam sido reportados como desaparecidos no dia 13 de agosto, após não retornarem ao hotel onde estava hospedada a delegação cubana.
Desde então, seu paradeiro era desconhecido e a Polícia do Paraguai havia sido alertada pelas autoridades esportivas da ilha.
No vídeo, os atletas aparecem sentados em um sofá, acompanhados por outros dois cubanos residentes no Paraguai que assumiram temporariamente o seu cuidado.
Uno dos acompanhantes, Carlos Carrera, identificado como membro da Academia Paraguaia de Coquetelaria, afirma: “Perceberam que não estão sozinhos em sua nova vida que está apenas começando”.
Agradecimentos e apoio solidário
No vídeo, um dos atletas tomou a palavra para agradecer.
"Quero agradecer ao povo paraguaio e a todas as pessoas que nos estão apoiando neste momento e à irmã comunidade cubana que nos está apoiando agora. Muito obrigado por tudo o que estão fazendo por nós. Somos eternamente gratos pela ajuda que nos estão dando", afirmou.
Os anfitriões asseguram que lhes foi garantido alojamento e alimentação, e que nos próximos dias iniciarão uma "ajuda solidária" para coletar roupas e outros itens necessários, tendo em vista que os jovens - com aproximadamente 21 anos e mais de dois metros de altura - deixaram tudo para trás.
Carlos Carrera também relatou que os atletas estão assustados e temem ser detidos e devolvidos a Cuba, razão pela qual ainda não iniciaram os trâmites de asilo.
"Estão esperando contar com assessoria jurídica para iniciar o processo perante o Conare", acrescentou.
Embora os atletas não tenham se identificado no vídeo, diversas fontes confirmam que se trata dos remadores Félix Puente Batista, Robert Landy Fernández e Keiler Ávila Núñez, que inclusive haviam ganhado uma medalha de bronze na prova de oito com timoneiro antes de desertar.
Abandono voluntário e planos de solicitação de asilo
O ministro do Interior do Paraguai, Enrique Riera, confirmou em 14 de agosto que quatro atletas cubanos não retornaram ao hotel designado para a delegação e que isso pode tratar-se de uma deserção voluntária.
Em declarações à rádio ABC Cardinal, Riera precisou: “Eles ainda não fizeram nenhuma gestão ao Conare (Comissão Nacional de Apátridas e Refugiados), mas, em princípio, essa é a presunção que temos”.
Além dos três remadores, a deserção também envolveria a jogadora de Handebol Suannet de la Caridad Nápoles, que não aparece no vídeo nem foi localizada.
A este grupo se somou posteriormente o judoca Jonathan Delgado, cuja fuga provocou um reforço nas operações policiais, segundo declarou o ativista cubano Harche Reyes ao meio paraguaio ABC.
“Aumentou a perseguição contra esses jovens… até que todos saiam, não podemos fechar um número porque haverá mais atletas com a intenção de escapar da repressão e ter uma vida livre”, alertou Reyes, insinuando que pode haver novas deserções nos próximos dias.
Contexto de uma fuga repetida
As deserções de atletas cubanos em eventos internacionais não são novas. Nas últimas décadas, pelo menos 800 esportistas abandonaram suas delegações em busca de melhores condições de vida.
Entre eles, destacam-se figuras do beisebol como Aroldis Chapman, Yoenis Céspedes e José Abreu, que posteriormente triunfaram em ligas estrangeiras.
A reaparição desses jovens no Paraguai se insere nesse padrão histórico, mas com a nuance contemporânea da visibilidade imediata proporcionada pelas redes sociais e o apoio de uma comunidade migrante ativa e solidária.
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