O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, rejeitou de forma categórica neste sábado a possibilidade de ceder território à Rússia, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugerir que um eventual acordo de paz poderia incluir “alguma troca de terras” entre Kiev e Moscovo.
“Os ucranianos não vão ceder sua terra ao ocupante”, afirmou Zelensky em uma mensagem de seu escritório em Kiev, alertando que qualquer decisão tomada sem a participação da Ucrânia seria “uma decisão contra a paz” e destinada ao fracasso. De acordo com o New York Times, sua resposta, tão direta, poderia tensionar novamente sua relação com Trump, que fez de um acordo de paz uma das prioridades de sua política externa.
As declarações do mandatário ucraniano chegam a poucos dias da reunião anunciada entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, prevista para 15 de agosto no Alasca. Será o primeiro encontro cara a cara entre ambos desde o retorno de Trump à Casa Branca e ocorrerá sem a participação da Ucrânia, o que gerou preocupação em Kiev e em várias capitais europeias.
Trump antecipou que o possível acordo incluiria “recuperar algumas coisas e mudar outras”, sem especificar quais territórios estariam em discussão. Dado que a Ucrânia não controla nenhuma área da Rússia, um eventual “intercâmbio” implicaria a cessão de áreas sob controle ucraniano em troca de territórios ocupados por Moscovo.
Esta proposta choca com a postura majoritária da população ucraniana, que, de acordo com uma pesquisa recente, rejeita em mais de 75% a entrega de terras sob controle de Kiev, mesmo que isso prolongue o conflito. No entanto, o apoio a concessões cresceu desde o fracasso da contraofensiva de 2023, passando de 10% há dois anos para 38% atualmente.
A Rússia exige que a Ucrânia renuncie a quatro regiões que afirma ter anexado em 2022: Luhansk, Donetsk, Zaporiyia e Jersón, assim como a suas aspirações de se juntar à OTAN. Ceder o Donbás —especialmente Luhansk e Donetsk— significaria para Kiev perder centros industriais chave e sua principal linha de defesa, além de abandonar centenas de milhares de civis que ficariam expostos à repressão russa.
Para Zelensky, aceitar uma troca territorial seria “um respiro para o inimigo antes de um novo ataque”. Ele também lembrou que a Constituição da Ucrânia define o território como “indivisível e inviolável”, deixando claro que não há margem legal nem política para concessões desse tipo.
Enquanto Trump busca fechar um acordo rápido, com a ameaça de novas sanções a Moscovo se não parar seus ataques antes da cúpula, Kiev trabalha para garantir um lugar no processo, reforçando alianças na Europa e reivindicando um cessar-fogo antes de qualquer negociação.
No dia 15 de agosto, o Alasca será o cenário de um encontro que pode redefinir o rumo da guerra e o equilíbrio de poder global, mas que, se concretizado sem a presença de Kiev, deixaria a Ucrânia em uma posição ainda mais vulnerável.
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